Djalma Santos*
“Disse-vos já que nada compreendia além do meu crime, e que não podia abandonar a casa em que o cometi, a não ser a vagar no espaço, solitário e desconhecido; disso não poderia dar-vos uma ideia, porque nunca pude compreender o que se passava. Desde que me alçava no espaço, era tudo trevas e vácuo, ou antes, não sei mesmo o que era. Hoje, o meu remorso é muito maior, no entanto, não sou constrangido a permanecer naquela casa fatal.” (Alan Kardec - O Céu e o Inferno , 2a parte. Cap. VI. Questão 17).
Mesmo depois que o espírito imortal passa por dezenas e
dezenas de reencarnações sucessivas, no processo de ir para o mundo espiritual pela
morte, e voltar ao mundo físico pelo nascimento, o homem terreno pouco sabe o
que acontece do outro lado da vida; e, quando é surpreendido por esse mecanismo
natural e biológico, que chamamos de “morte”, sente-se inseguro, porque não
sabe o que o espera, e dificilmente está suficientemente educado para
atravessar as águas enigmáticas do rio da “morte”.
Exatamente por isso, chega ao além da vida totalmente
desequilibrado, sem condições de se adaptar com facilidade, dando aos irmãos
espirituais que trabalham na tarefa de ajudar os recém-desencarnados, condições
ideais de receptividade. De um modo geral, o pensamento do ser humano a
respeito da “morte”, é que ela é o fim, o aniquilamento de tudo, e a
consequência dessa desinformação, faz que o espírito sofra antes, na hora e
depois da “morte”; por falta de uma estrutura espiritual forte, baseada na
educação moral e física, adotando procedimentos que atenuam os problemas que,
certamente todos os desencarnados vão enfrentar após a perda da indumentária
física.
O conhecimento adquirido através da Doutrina Espírita, de
que a “morte” é apenas um sono que se completa; um estágio entre duas vidas; e
que só elimina o “corpo físico”, é fator preponderante, além da certeza de que
a vida continua depois da “morte”, mesmo não sendo visível aos olhos humanos,
mas visível aos olhos espirituais, e também visível aos olhos dos sensitivos
que chamamos de médiuns. Em síntese todos somos médiuns, e estamos capacitados
para nos comunicar com os espíritos a todo o momento, desde que surjam
oportunidades para isso.
A palavra de ordem a respeito da “morte” é educação; é ter
conhecimento de que o espírito imortal, esse viajor incansável da eternidade,
esse andarilho do infinito, esse nômade do espaço, continua sua jornada
evolutiva em outras dimensões do espaço, depois de sua experiência no campo da
carne. A desencarnação é um fenômeno biológico pelo qual todos os seres
orgânicos tem que passar, e podemos afirmar com absoluta certeza, que a “morte”
é democrática, neutra, imparcial, e não procura ninguém; nós a procuramos, e
ela só cumpre uma agenda, levando ricos, pobres, doentes sadios, crianças,
jovens, adultos e idosos, numa ação contínua de aumentar o contingente de
espíritos no mundo espiritual, sem, no entanto influir na vida das pessoas.
Podemos ainda dizer que a “morte” é um caminhão que faz
mudanças; só faz a mudança, não tem nenhum poder, porque o poder está com o
dono da mudança que somos nós, seres humanos, e a felicidade ou infelicidade
depois da “morte” vai depender do tipo de “carga” que vai colocar em cima do
caminhão que é a “morte”. Se colocarmos uma “carga” corrosiva, sombria, que
corresponde ao vício do álcool, do fumo, do jogo, das drogas e do sexo
desregrado, ou ainda, o cultivo do ódio, do rancor, do ressentimento, da raiva,
do ciúme, da maledicência, da prepotência, do autoritarismo, da maldade,
crueldade e da perversidade; certamente seremos infelizes do outro lado da
vida. Mas se colocarmos uma “carga” leve, pautada na bondade, na mansuetude, na
caridade, na solidariedade, no compartilhamento, na renúncia e na caridade; não
teremos nenhum problema no além, e seremos felizes juntos aqueles que se foram
antes de nós.
Não existe nenhuma fórmula para nos livrar da “morte”,
porque sua chegada é inevitável para todos, mas é apenas uma desorganização
biológica imperativa, porque precisamos nos desorganizar fisicamente para que
possamos nos organizar espiritualmente no mundo de origem, que é o mundo dos
pensamentos. Após a “morte” do corpo físico, continuamos a sermos nós mesmos,
mudamos muito pouco ou quase nada, e até as nossas características físicas
continuam as mesmas, ou seja, continuamos com a forma humana depois do
desencarne. Depois da “morte”, o períspirito se desagrega do corpo físico, e
passa a ser o novo instrumento de apresentação do espírito, com o nome de
“Corpo espiritual”.
As dificuldades de obstáculos, que a maioria dos espíritos
encontra do outro lado da vida, são decorrentes dos erros, pecados e ilícitos
cometidos contra os outros na existência física, que catalogados na consciência
do homem, que em síntese, é o seu advogado, promotor e juiz ao mesmo tempo,
defende, acusa e pune todos aqueles que ferem as Leis Divinas que regem a vida
cósmica. O bem edificado em contato com os semelhantes conquistam laços
fraternos e de amizade, que servem de anteparo e segurança na nova vida
fluídica do espírito, assim como os erros e os pecados contra os outros terão
que ser ressarcidos na vida espiritual ou em outras reencarnações.
Chegando ao mundo dos pensamentos, o desencarnado passa por
estágios sucessivos, a fim de se adaptar à nova vida, incluindo instruções
sobre novo tipo de alimentação, de movimentação e locomoção, como realizar
projetos de cocriação, de relacionamento, e principalmente, como controlar e
utilizar o pensamento contínuo. A adaptação se torna mais fácil para quem se
desapega dos bens materiais, das futilidades da vida física, dos vícios,
desejos e paixões. As viciações fazem com o recém-desencarnado permaneça jugulado
ao mundo terreno, com se vivo estivesse, e isso pode durar anos e anos
sucessivos.
Outro detalhe interessante a respeito da “morte”, é que ela
não transforma as pessoas em santas e nem em sábias, e cada um permanece do
outro lado da vida exatamente como era quando vivo. O trabalho continua sendo,
depois da “morte”, o fator preponderante na evolução do homem, e quem pensa que
depois da “morte” vai descansar para sempre, está totalmente equivocado, porque
a vida continua plena, estuante e dinâmica, depois que passamos para o outro
lado da vida.
O medo exagerado que milhares de pessoas têm do fenômeno
“morte” não encontra respaldo em nenhuma religião ou seita, e tudo fica por
conta do misticismo, lendas e informações falsas, passadas durante milênios, por
religiões dogmáticas, que usaram a “morte“ para amedrontar os adeptos e
fazê-los seguir fielmente os conceitos emitidos pela igreja. Jesus afirmou com
muita propriedade que ”Onde estiver o seu tesouro, ali estaria o seu coração”,
advertindo que todos aqueles que partem apegados às coisas, pessoas e
instituições, certamente não saem da Terra, e permanecem jugulados, algemados
aos objetos e pessoas de suas predileções.
Nenhum espírito fica desamparado no mundo espiritual, mesmo
porque todos nós temos uma parentela familiar extensa que partiu antes de nós,
mas a felicidade é mérito de cada uma, porque o homem é o único responsável
pelo seu destino, um caçador de si mesmo, e procura por fora, o que já tem por
dentro, coroando a frase lapidar de Jesus em seu Evangelho de amor “O reino de
Deus está dentro de vocês”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Este blog só aceita comentários ou críticas que não ofendam a dignidade das pessoas.