domingo, 7 de junho de 2015

A Festa do "Pão Partido"



Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre (RS)

A Eucaristia, Corpo do Senhor, é cumprimento privilegiado da promessa do Senhor Jesus de se tornar presente àqueles que se reúnem em seu nome. Diariamente, sobre nossos altares, pelas mãos do sacerdote, se faz presente o Senhor vivo e verdadeiro.

A Eucaristia é dom do Senhor. Numa sala preparada, em torno à mesa, Jesus com os seus discípulos, um pouco de vinho e pão; proximidade e intimidade, simplicidade e solidariedade, amor e fé! Palavras jamais antes pronunciadas, gestos nunca antes vistos; calor fraterno, angústia; entrega, ternura, maravilha. O Senhor se faz presente num pedaço de pão e num pouco de vinho! Na visibilidade do pouco, a transparência do Mistério, afinal ‘o essencial é invisível aos olhos’!

Ao longo dos séculos, os discípulos do Crucificado-Ressuscitado, após repartirem entre si o pão da Palavra e o pão da Eucaristia, empenham-se por testemunhar também publicamente a fé na presença do Senhor entre os seus! Fé de Alguém presente na simplicidade do pão; meio este, escolhido para perpetuar uma presença prometida: ‘Estarei convosco todos os dias, até o fim dos tempos’ (Mt 28,20).

A Igreja convida a todos para com ela celebrar o memorial do Senhor. O gesto do pão repartido tornou-se expressão maior da entrega do Senhor – pastor e guia! – à sua comunidade agora também como alimento. Aquilo que Jesus fez na ceia com os discípulos de então, ele pede que os discípulos de hoje o façam ‘em sua memória’. Não simples repetição mecânica de um gesto, mas memorial de uma presença que transcende espaço e tempo.

Em repetindo os gestos de Jesus – “fazei isto em minha memória” – a Igreja o faz não mentalmente, mas realisticamente. A realidade simbolizada pelas palavras torna-a verdadeiramente presente! Isso é distinto, por exemplo, da experiência que fazemos quando visitamos monumentos de nossas cidades. Monumentos apontam para um acontecimento, para uma pessoa, uma realidade que um povo quer manter presente no imaginário coletivo. Quando a Igreja celebra a Eucaristia, no pedaço de pão repartido e no pouco de vinho versado, ela vê seu próprio Senhor.

Para a comunidade de fé a Eucaristia é presença real do Senhor, sua vida, obra, paixão, morte e ressurreição. Ela, a Eucaristia, é o meio escolhido pelo Senhor para levar sua Paixão a todas as criaturas. Ele escolhe o que há de mais corriqueiro, simples, vital para permanecer presente entre os seus: pão e vinho!

Assim, o pão e o vinho abençoados expressam o máximo do esvaziamento do Senhor para permanecer com seus amigos. No pão e vinho santificados – “é meu corpo; é meu sangue!” – transparece todo o empenho do Senhor em doar-se pela humanidade, simples e despojadamente! Não para simplesmente distribuir favores ou benefícios, mas como quem, pobre e despojadamente, deseja ser recebido, acolhido e amado.

O corpo do qual a Eucaristia é realidade diz daquilo que oferece identidade, plenitude à vida de Jesus no mundo; de sua entrega sem reservas à causa do ‘Reino de Deus e sua justiça’, de seu empenho em favor dos ‘pequeninos’ deste mundo, de sua obediência ao Pai até a morte e morte numa cruz!

“Tomai e comei; tomai e bebei! Isto é o meu corpo; isto é o meu sangue”. Participando do pão e do cálice, comungamos de sua pessoa, de sua obra, de seu espírito. Assim, o seu corpo passa a ser nosso corpo, o seu sangue, o nosso sangue! Mas também nosso corpo é seu corpo, nosso sangue é seu sangue! Resplandece assim a unidade que formamos com Cristo. Isso é expresso numa antiga antífona da liturgia cristã: “Congregou-nos em UM o amor do Cristo”.

É por isso que a Igreja de todos os tempos continua cantando: “Bom Pastor, pão de verdade, conservai-nos na unidade, extingui nossa orfandade, transportai-nos para o Pai”!

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