Quem é essa
aí, papai?
Edson
Vidigal
A banda de
música dos fuzileiros navais posicionada entre os servidores das duas Casas
intimados a lotarem as galerias já está a postos para execução do Hino
Nacional.
As duas
primeiras filas das bancadas no plenário estão ocupadas por representantes das
legações diplomáticas, Ministros de Estado e Presidentes de Tribunais
Superiores.
O Senhor
Presidente do Congresso Nacional, Senador Renan Calheiros:
- Designo
uma Comissão de Honra formada pelos Senhores Senadores Jader Barbalho, Fernando
Collor e Lindberg Farias e pelos Senhores Deputados Aníbal Gomes, José Mentor e
Artur Lira para introduzir ao recinto a Excelentíssima Senhora Presidenta da
República, Dilma Rousseff.
(Não é da
praxe o Presidente da República marcar presença na abertura do ano legislativo,
até porque a Constituição (Art.84, XI), de espirito parlamentarista, ao dispor
sobre a obrigação do Chefe do Executivo de apresentar ao Congresso o Plano de
Governo, expondo a situação do País e solicitando as providencias que julgar
necessárias, lhe outorga poder para indicar o representante que quiser.
No
parlamentarismo, é o Primeiro Ministro quem comparece na condição de Presidente
do Governo. Assim é na Alemanha, em Israel, em Portugal. No presidencialismo, é
o Presidente da República, que acumula as funções de Chefe do Governo com as de
Chefe de Estado, quem se apresenta perante o Congresso. Assim é nos Estados
Unidos, na Colômbia, no Uruguai.
Quando a
nossa Assembleia Nacional Constituinte chegava à redação final com tudo se
direcionando ao parlamentarismo, o que teria sido ótimo para o Brasil, houve um
corre – corre de pretendentes à Presidência da República que a mudança brusca
na rota resultou nesse hibridismo também chamado de presidencialismo de
coalizão.)
Ainda há
congressistas em pé formando pequenos grupos. Os outros, em maioria, acomodados
em seus assentos, passam uma ideia de alheamento como naquelas longas
cerimonias de casamento.
Na Mesa dos
trabalhos já estão, além do Presidente da Câmara, o Senhor Deputado Eduardo
Cunha, o Presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministro Ricardo Lewandowiski,
o 1º Vice Presidente da Câmara, o Senhor Deputado Waldir Maranhão, que nas
sessões do Congresso, por força do Regimento Interno, tem a função de 1º
Secretário.
Escoltada
por sua guarda de honra, no caso a Comissão Mista de Deputados e Senadores, eis
que, no escurinho da entrada principal do plenário, adentra quem? Ela.
O Presidente
do Congresso com voz de quem sabe das coisas, dá sequencia:
- Convido
para compor a Mesa sua Excelência a Senhora Presidenta da República, Dilma
Rousseff.
Plenário e
galerias pipocam em aplausos ensurdecedores. Enquanto Dilma caminha com o seu
séquito até à Mesa os aplausos não param. Nada daquele blazer vermelho dos
palanques do PT. Num costume branco rendado, a lhe realçar a silhueta, presente que fora enviado de Fortaleza pelos irmãos Gomes, Dilma nem parece a Dilma, tanta
a simpatia que exibe e o fascínio que exerce sobre esses políticos comuns
mortais.
Sucesso
total como sugeriu e previu o Delfim:
- Ou a
Presidente assume a responsabilidade e vai no dia 2 de fevereiro ao Congresso
Nacional com projetos de reforma constitucional e infraconstitucional ou será o
caos.
Pronto, não
haverá o caos. O Congresso, incluindo o Aecinho, o Serra, o Agripino, o Caiado
e até o Bolsonaro, aceitou tudo – reforma da previdência, desvinculação das
receitas da União, volta da CPMF e tal.
Isso tudo a
se confirmar na próxima terça feira, dia 02 de fevereiro, quando da abertura do
ano legislativo.
Edson
Vidigal, Advogado, foi Presidente do Superior Tribunal de Justiça e do Conselho
da Justiça Federal.
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