Lúcia Moysés
Quem vive a experiência da
maternidade, certamente sabe que cada filho é um ser com características
próprias, com temperamento e personalidade singulares.
Aquilo que para a ciência é
considerado como genético é, sob o enfoque da Doutrina Espírita, fruto das
próprias experiências vividas por cada um de nós em existências anteriores.
Nosso espírito imortal traz consigo as marcas das virtudes adquiridas e dos
erros cometidos; das conquistas realizadas ou das carências a superar.
Assim é que muitos que já se tornaram
pais não aguardam similaridade entre os filhos, embora esperem que nenhum deles
vá ser tão diferente a ponto de parecer um estranho no ninho.
E foi exatamente assim que pensava
uma mãe que conheci em um dos seminários para educadores que ofereci recentemente.
O tema central – a educação dos filhos – despertou-lhe o interesse. Buscava
respostas para o fato de ter entre seus filhos um completamente diferente dos
outros irmãos. Buscou-me para conversar e em pouco tempo pude constatar que
estava diante de uma mãe valorosa.
A decisão de ter um terceiro filho
foi tomada a partir da constatação de que a maternidade somente lhe trouxera
alegrias. Tinha um casal de filhos adoráveis. Havia o trabalho que os cuidados
naturais exigem, mas nada fora do comum. Por isso, a expectativa de ser mãe
novamente foi pontuada de felicidade.
O bebê nasceu e se desenvolveu
normalmente, nos primeiros meses. No entanto, por volta do sétimo mês, começou
a manifestar comportamentos estranhos. Não gostava de estar nos braços maternos,
parecendo evitar o contato humano. Chorava sem motivo, por longos períodos, e
nada o consolava. À medida que ia crescendo, aumentavam as expressões de
desconforto da mãe diante das tentativas de aproximá-lo dos irmãos ou mesmo de
qualquer outra pessoa. Aprendeu a andar cedo, mas custou a falar. Apesar de
tudo isso, os exames médicos não registravam nada de anormal.
A mãe, no entanto, continuou
procurando explicações, pois tinha certeza de que aquele filho representava um
desafio a ser enfrentado: a criança trazia marcas de um temperamento forte, com
tendências à violência e à agressão.
Por amor ao filho, começou a buscar
ajuda profissional ao mesmo tempo em que voltou-se para os estudos
psicológicos, numa tentativa de melhor entender o que se passava. Frequentou
palestras, seminários, fez cursos. Tudo lhe apontava a necessidade de maiores
doses de compreensão para com o problema. Mas foi somente quando se voltou para
o conhecimento espírita que começou a encontrar respostas que a esclareceram e
confortaram o seu coração.
Passou a entender que muitas mães
generosas aceitam receber em seu ventre espíritos endurecidos, violentos e
desajustados para uma nova romagem terrena. Deus assim o permite para que eles
tenham a chance de evoluírem. “Não é raro que um mau Espírito peça lhe sejam
dados bons pais, na esperança de que seus conselhos o encaminhem por melhor
senda e muitas vezes Deus lhe concede o que deseja”, é o que afirma O Livro dos
Espíritos, de Allan Kardec, na questão 209.
Muitas são as formas que a
providência divina encontra para ajudar os seus filhos em desalinho,
emaranhados em compromissos da retaguarda e com grande dificuldade de progredir
espiritualmente. Uma delas é, exatamente, a que se deu no caso aqui relatado.
O entendimento que então passou a
ter fez dessa mãe um ponto de apoio para aquele espírito. Compreendendo suas
necessidades, ela própria se transformou, tornando-se mais paciente, mais
tolerante e, principalmente, mais compassiva.
Quando se olha um filho como um
espírito que cumpre, na Terra, sua trajetória evolutiva, como alguém que
reencarnou para superar suas próprias falhas com vistas ao seu futuro de ser
imortal, necessitando, muitas vezes, de amparo e compreensão, o convívio se
torna mais fácil, por maiores que sejam os problemas apresentados.
E assim deveriam pensar todos os
pais e mães: Deus conta com a sua ajuda.
Dedicar alguns anos das próprias
vidas, dando amor e bons exemplos aos filhos que lhes foram entregues é bem
pouco se comparados à grandeza de se sentir um colaborador do Pai na obra de
redenção da Terra.
Lúcia Moysés é educadora e escritora espírita
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Este blog só aceita comentários ou críticas que não ofendam a dignidade das pessoas.