Murillo de Aragão
Uma das características mais marcantes do PSDB é o choque
de egos entre seus líderes maiores. Nos anos 1990, a disputa era entre os
senadores Mário Covas e Fernando Henrique Cardoso. Covas não teria se conformado
com a derrota na campanha para presidente da República em 1989. Contava com
tempo generoso na TV Globo e com a simpatia do dr. Roberto, com quem buscaria
inspiração para a ideia-síntese de seu discurso: “Choque de capitalismo”.
Cinco anos depois, FHC ganhou a corrida para o Planalto
com sobra (54,28%) no primeiro turno. Um ano antes, os prognósticos diziam que
ele não se reelegeria para o Senado, mas isso foi antes do Plano Real, em 1994,
que derrubou a inflação mensal de 47,43% para 6,84%.
Até aí, além de Fernando Henrique, os então caciques do
partido – José Serra, Tasso Jereissati, Covas e o próprio FHC – disputavam
palmo a palmo a liderança. Nos oito anos de mandato do presidente-sociólogo,
surgiram mais dois nomes fortes: Geraldo Alckmin e Aécio Neves.
Em 2002, Serra, todo-poderoso ministro da Saúde, foi o
sucessor natural, mas até consolidar-se teve de enfrentar Paulo Renato Souza,
que vinha de uma bem-avaliada gestão no MEC. A preferência pelo atual ministro
das Relações Exteriores foi sacramentada por uma madrinha imbatível – Ruth
Cardoso, mulher de FHC, falecida em 2008, que tinha uma grande admiração por
ele.
Em 2006, Serra e Alckmin começaram duelando pela vaga à
Presidência para enfrentar Lula, que fizera festejado primeiro mandato, escorregara
no mensalão, mas recuperara terreno. Além disso, os resultados que podia
apresentar na economia eram imbatíveis, e ele dificilmente perderia. Serra
pesou bem essa variável-chave e, apesar de haver demorado a se decidir, abriu
espaço para o governador, que perdeu no segundo turno depois de largar na
frente.
Em 2010, Aécio e Serra travaram uma briga de morte pela
indicação para disputar a Presidência, a ponto de haver circulado a informação
de que Aécio teria estimulado a publicação do livro “A Privataria Tucana”, de
Amaury Ribeiro, para ferir o adversário. Tratava-se de uma pesquisa pouco
convincente denunciando supostas irregularidades sobre a venda de estatais na
era FHC, quando Serra era ministro do Planejamento e chefe da comissão que
cuidava do assunto. Aécio negou qualquer relação com a história, divulgada em
forma de campanha anti-Serra – que perdeu a Presidência porque ninguém venceria
Dilma Rousseff, indicada por um Lula superpopular e com a economia bombando. O
PIB cresceu 7,5%.
Depois disso, o eixo de disputa tornou-se triangular:
Aécio x Alckmin x Serra. Em 2014, Aécio tomou de assalto a presidência do PSDB
e bloqueou a presença de Serra mesmo em cargos burocráticos, enquanto Alckmin
quase o deixava sem legenda na disputa para o Senado. Aécio uniu o partido como
só aconteceu na primeira campanha de FHC, mas os tucanos perderam pela terceira
vez o comando do Executivo nacional para o PT de Lula, com Dilma mentindo de
forma desconcertante sobre a crise.
Hoje, o tucano mais forte é o governador de São Paulo,
Geraldo Alckmin, graças à vitória arrasadora de João Doria Jr. – invenção sua –
na eleição para prefeito da capital paulista e às seguidas derrotas de Aécio em
Minas Gerais. Alckmin não aceita menos do que a presidência do PSDB e a candidatura
para presidente.
José Serra e Aécio Neves, atual presidente da legenda,
têm idêntica ambição, e, para conter Alckmin, ambos engendraram uma aliança de
conveniência – na prática, mais tática do que estratégica. Adiante, vão se
separar. Correm o risco de serem demolidos pela operação Lava Jato. Mas, como
diria Serra, “treino é treino”. Jogo mesmo, só em 2018.
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