Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora – MG
Amanhecia um novo dia. Jesus havia passado a noite toda
em oração a Deus no alto de uma montanha. Lá mesmo, ainda nas alturas
espirituais da oração, ele reúne os seus discípulos e forma um grupo mais
restrito ao qual deseja entregar uma responsabilidade maior: a de irem e
anunciarem a todas as gentes a sua boa nova. “Ao amanhecer, chamou os
discípulos e escolheu doze entre eles, aos quais deu o nome de apóstolos” (Lc
6,13). O termo tem origem no idioma grego e significa “enviados”. De fato, ele
confia a este pequeno grupo uma enorme tarefa: a de conquistar o mundo para
Deus. “Ide por todo mundo, a todos anunciai o evangelho, fazendo-os discípulos
meus... ensinai a todas as criaturas, tudo o que vos ensinei... batizai a todos
em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Eis que estarei convosco todos
os dias até os confins dos tempos” (cf Mt 28,20).
Entre aqueles que Jesus escolheu naquela manhã, no alto
da montanha sagrada, encontravam-se dois que se chamavam Simão e dois que se
chamavam Judas. Simão Pedro, a quem Jesus escolheu para ser o coordenador do
grupo, seu imediato vigário, a pedra que o representasse, pois somente Cristo é
Pedra Fundamental. Era Pedro, portanto, constituído chefe visível, sobretudo
para depois que o Mestre se tornasse invisível a partir da ascensão.
O outro Simão ficou conhecido como Simão Zelote, na
versão de Lucas e Simão Cananeu, na lista de Mateus. Zelote, certamente porque
teria pertencido a um grupo político contrário à dominação romana sobre os
judeus. Cananeu, porque nasceu em Caná da Galileia, onde Jesus fez seu primeiro
milagre, mediante a intercessão de Maria, sua mãe.
Entre os dois Judas, um se perdeu nos caminhos da
infidelidade e da traição, que foi Judas Iscariote cujo nome figura sempre no
último lugar nas listas dos apóstolos, seja nos escritos de Lucas quanto de
Mateus.
Mas o outro que ficou conhecido e venerado com o nome de
Judas Tadeu, tendo o seu nome nas listas no penúltimo lugar, figura como sinal
de fidelidade, muro que separa os que permaneceram fiéis ao Senhor e aquela
terrível defecção do apóstolo que traiu clamorosamente o Mestre.
A luz que se acendia naquela manhã para o rosto daqueles
discípulos privilegiados pelo amor de Cristo, e que em Iscariote se tornou
trevas pela diabólica infidelidade, permaneceu, contudo, acesa e irradiante
para os onze.
Todos os Apóstolos fiéis ao Senhor, inclusive Matias que
foi escolhido após a ressurreição para ocupar o lugar de Judas Iscariote, têm
recebido veneração e culto desde o princípio da história cristã.
Entre eles, alguns se destaca em especial devoção, como é
o caso de são Judas Tadeu, celebrado liturgicamente dia 28 de outubro,
juntamente com São Simão.
Sobre Judas Tadeu, pode-se perguntar: “por que tem
recebido tanta admiração, sendo que de sua vida se sabe tão pouco? Sobre seu
destino, a tradição diz que tenha ela pregado na Judeia, na Samaria, na
Mesopotâmia e na Líbia. Os Armênios o consideram seu primeiro evangelizador ao
lado de São Bartolomeu. Mas tudo isso ainda depende de maior documentação
comprobatória no atual estágio da pesquisa.
Popularmente, se explica a predileção e confiança atual
por São Judas Tadeu, por ter seu nome, no decorrer da história, ficado um tanto
esquecido nas devoções, dada a semelhança nominal entre ele e o infeliz
traidor. A partir da idade moderna vem, por este motivo, venerado como o
intercessor nas causas desesperadoras, nas ocasiões que parecem não haver mais
remédio para solução de graves questões.
Pessoalmente, julgo ter esta devoção popular um bom
sentido bíblico e teológico, pois os santos no ato de suas intercessões não
fazem outra coisa senão suplicar e manifestar o amor incondicional, o poder
infinito de Deus. No caso, haver-se-á de recordar a palavra do Arcanjo Gabriel
a Maria, no ato da anunciação, quando avisa a respeito da gravidez de Isabel na
velhice, afirmando que “Para Deus, nada é impossível” (Lc 1,37).
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Este blog só aceita comentários ou críticas que não ofendam a dignidade das pessoas.