terça-feira, 11 de abril de 2017

DESDOBRAMENTO


Adilson Motta de Santana






Em termos espíritas, o desdobramento é uma faculdade anímica onde o Espírito encarnado desliga-se parcialmente do seu corpo físico. Este processo pode ocorrer com ou sem um transe. É uma capacidade intrínseca ao ser humano que desenvolveu, ao longo da evolução da espécie, a possibilidade de desembaraçar-se do corpo material, dentro de certos limites, adquirindo alguma sensação de liberdade.

A faculdade de desdobramento é muito utilizada nas reuniões mediúnicas modernas. O sensitivo, através da concentração dos pensamentos, entra em uma espécie de transe que possibilita esse desprendimento parcial do Espírito colocando-se em condições de exercer tarefas de auxílio, geralmente orientado pelos Espíritos Instrutores. Dessa forma, ele é colocado muitas vezes em contato com Espíritos sofredores, os quais necessitam de uma palavra amiga e consoladora ou mesmo de um tratamento através das suas energias, as quais possuem uma densidade adequada a esse tipo de atendimento pela sua condição de encarnado.

Apesar de muitos se referirem ao desdobramento como mediunidade, ele é um fenômeno anímico. Para usar o linguajar de Allan Kardec, é um fenômeno de emancipação da alma. A mediunidade se constitui numa intermediação entre os Espíritos desencarnados e o mundo material. Desdobrar-se, grosso modo, significa “sair do corpo”. Este simples fato não o torna médium, se ele não se constitui em transmissor de qualquer informação enviada do plano espiritual para o ambiente terreno.

Pode ser considerado uma espécie de mediunidade quando o sensitivo, durante o desprendimento, mantém um contato com a Espiritualidade, recebendo de lá comunicações que devem ser enviadas aos encarnados.

O desdobramento não ocorre apenas nas reuniões mediúnicas. É fenômeno corriqueiro e acontece com as pessoas em geral, todas as vezes que dormimos. Ele é o preâmbulo do sono. Quando o corpo adormece para o necessário repouso, o Espírito desligado parcialmente do corpo vai a diversos lugares realizar as atividades que estejam em afinidade com as suas motivações íntimas. Para que ele entre no estado de sono, antes precisa desdobrar-se, ou seja, afastar-se vibratoriamente do corpo biológico.

Também a mediunidade, seja na modalidade de psicofonia, psicografia, audiência, vidência, desenho ou pintura, entre outras, exige um desdobramento. O médium possui em seu organismo a facilidade de, ao entrar em estado de transe, desvencilhar-se do seu corpo em maior ou menor grau, de acordo com as características da sua faculdade mediúnica. Isso ocorre a fim de dar ao Espírito comunicante a oportunidade de assenhorear-se, através de uma expansão dada ao seu perispírito dos implementos perispirituais e, na sequência, cerebrais do médium.

O sonambulismo, bem como a dupla vista, a letargia, a catalepsia e o êxtase, todos eles classificados por Allan Kardec como fenômenos de emancipação da alma, têm o desdobramento como pré-condição para acontecerem. Às vezes, como é o caso da dupla vista, esse deslocamento do Espírito (sempre junto com o perispírito) é imperceptível, mas suficiente para fazê-lo enxergar além da realidade física presente.

Há outras situações ainda em que o desdobramento ocorre: no coma, durante o uso de algumas drogas alucinógenas ou ainda em certos estados psíquicos classificados como catatonia e outros em que há um alheamento do meio externo.

Deus, na sua sabedoria e bondade concedeu ao homem a capacidade de, vez ou outra, retemperar-se no mundo espiritual através da faculdade do desdobramento. Assim ele recobra parte das suas faculdades de Espírito, como que descansando da rudeza da vida na matéria, além de absorver as energias mais sutis necessárias ao seu refazimento para a continuidade do aprendizado aqui na Terra. Vivendo no ambiente terreno em meio às dificuldades e desafios diários, imerso na atmosfera densa da matéria, pode ele aliviar-se destas lutas desacoplando-se temporariamente do organismo físico, retornando ao mundo espiritual e tendo o contato com Espíritos esclarecidos que o orientam, a fim de direcionar-se melhor no caminho do progresso.


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