Adilson Motta de Santana
Em termos espíritas, o desdobramento é uma faculdade
anímica onde o Espírito encarnado desliga-se parcialmente do seu corpo físico.
Este processo pode ocorrer com ou sem um transe. É uma capacidade intrínseca ao
ser humano que desenvolveu, ao longo da evolução da espécie, a possibilidade de
desembaraçar-se do corpo material, dentro de certos limites, adquirindo alguma
sensação de liberdade.
A faculdade de desdobramento é muito utilizada nas
reuniões mediúnicas modernas. O sensitivo, através da concentração dos
pensamentos, entra em uma espécie de transe que possibilita esse desprendimento
parcial do Espírito colocando-se em condições de exercer tarefas de auxílio,
geralmente orientado pelos Espíritos Instrutores. Dessa forma, ele é colocado
muitas vezes em contato com Espíritos sofredores, os quais necessitam de uma
palavra amiga e consoladora ou mesmo de um tratamento através das suas
energias, as quais possuem uma densidade adequada a esse tipo de atendimento
pela sua condição de encarnado.
Apesar de muitos se referirem ao desdobramento como
mediunidade, ele é um fenômeno anímico. Para usar o linguajar de Allan Kardec,
é um fenômeno de emancipação da alma. A mediunidade se constitui numa
intermediação entre os Espíritos desencarnados e o mundo material.
Desdobrar-se, grosso modo, significa “sair do corpo”. Este simples fato não o
torna médium, se ele não se constitui em transmissor de qualquer informação
enviada do plano espiritual para o ambiente terreno.
Pode ser considerado uma espécie de mediunidade quando o
sensitivo, durante o desprendimento, mantém um contato com a Espiritualidade,
recebendo de lá comunicações que devem ser enviadas aos encarnados.
O desdobramento não ocorre apenas nas reuniões
mediúnicas. É fenômeno corriqueiro e acontece com as pessoas em geral, todas as
vezes que dormimos. Ele é o preâmbulo do sono. Quando o corpo adormece para o
necessário repouso, o Espírito desligado parcialmente do corpo vai a diversos
lugares realizar as atividades que estejam em afinidade com as suas motivações
íntimas. Para que ele entre no estado de sono, antes precisa desdobrar-se, ou
seja, afastar-se vibratoriamente do corpo biológico.
Também a mediunidade, seja na modalidade de psicofonia,
psicografia, audiência, vidência, desenho ou pintura, entre outras, exige um
desdobramento. O médium possui em seu organismo a facilidade de, ao entrar em
estado de transe, desvencilhar-se do seu corpo em maior ou menor grau, de
acordo com as características da sua faculdade mediúnica. Isso ocorre a fim de
dar ao Espírito comunicante a oportunidade de assenhorear-se, através de uma
expansão dada ao seu perispírito dos implementos perispirituais e, na sequência,
cerebrais do médium.
O sonambulismo, bem como a dupla vista, a letargia, a
catalepsia e o êxtase, todos eles classificados por Allan Kardec como fenômenos
de emancipação da alma, têm o desdobramento como pré-condição para acontecerem.
Às vezes, como é o caso da dupla vista, esse deslocamento do Espírito (sempre
junto com o perispírito) é imperceptível, mas suficiente para fazê-lo enxergar
além da realidade física presente.
Há outras situações ainda em que o desdobramento ocorre:
no coma, durante o uso de algumas drogas alucinógenas ou ainda em certos
estados psíquicos classificados como catatonia e outros em que há um alheamento
do meio externo.
Deus, na sua sabedoria e bondade concedeu ao homem a
capacidade de, vez ou outra, retemperar-se no mundo espiritual através da
faculdade do desdobramento. Assim ele recobra parte das suas faculdades de
Espírito, como que descansando da rudeza da vida na matéria, além de absorver
as energias mais sutis necessárias ao seu refazimento para a continuidade do
aprendizado aqui na Terra. Vivendo no ambiente terreno em meio às dificuldades
e desafios diários, imerso na atmosfera densa da matéria, pode ele aliviar-se
destas lutas desacoplando-se temporariamente do organismo físico, retornando ao
mundo espiritual e tendo o contato com Espíritos esclarecidos que o orientam, a
fim de direcionar-se melhor no caminho do progresso.
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