PEDRO VALLS FEU ROSA
Dia desses meditava sobre aquela placa que a imaginação
de Dante Alighieri afixou no portal do inferno: "deixai toda esperança,
vós que entrais". Eis aí o suplício maior dos condenados - afinal, sem
esperança, que espírito poderá resistir?
Contemplando nosso país, fico a pensar em quanta coisa
defendemos, cada qual em sua trincheira, ao longo das últimas décadas! Fomos às
ruas, clamando pelo fim da corrupção. Pedindo eleições justas. Combatendo o
coronelismo. Denunciando a tortura. Lutando por justiça. Praticamente
implorando por uma melhor infraestrutura. Gritando por socorro diante de
índices intoleráveis de criminalidade. Empunhando tão nobres bandeiras, enfim,
cada bom brasileiro fez a sua parte, com idealismo e sacrifício, sujeitando-se
a violências e represálias - para tudo dar em nada! Aliás, até piorou - olhe
pela janela e contemple o provincianismo mais medíocre e corrupto
reafirmando-se e sufocando nossa ânsia por um país mais moderno e cosmopolita.
Enquanto isso, envelhecemos. Passa a apertar-nos o
coração a sensação de que não veremos a sociedade menos injusta ou o Brasil
grande dos nossos sonhos. O desânimo bate à porta, mascarado de cansaço. É
quando começamos a nos calar, contagiando as gerações mais novas, já
desiludidas e carentes de esperança diante do gargalhar dos maus.
Atordoados diante do nosso aparente fracasso em melhorar
este mundo, acabamos nos esquecendo de que o nosso tempo não é o de Deus, como
bem o demonstrou Gandhi, do alto de sua sofrida luta para libertar o povo
indiano: quando me desespero, lembro-me de que em toda a História a verdade e
o amor sempre venceram. Houve tiranos e assassinos, e, por um tempo, pareciam
invencíveis, mas, no final, sempre caíram. Os fortes só o são por um instante,
como o sonho de uma tarde que dura apenas um momento. No final, são sempre
destroçados. São como poeira ao vento. Pense nisso. Sempre.
Está aí, no fato de que somos apenas uma efêmera presença
em um milenar processo histórico, o chamado a que não deixemos de fazer a nossa
parte, com aquela firmeza serena da profética frase brandida por Paulo Coelho
em defesa do povo iraquiano, quando seu país era invadido: que sua manhã seja
linda, que o sol brilhe nas armaduras de seus soldados, porque durante a tarde
eu o derrotarei.
Pedro Valls Feu Rosa é desembargador do Tribunal de
Justiça do Espírito Santo.
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