quinta-feira, 6 de julho de 2017

Emancipação da alma


Adilson Motta de Santana







Os fenômenos anímicos, segundo a literatura do final do século XIX até as primeiras décadas do século XX, eram bastante frequentes, misturando-se muitas vezes aos fenômenos mediúnicos. Ernesto Bozzano, dedicado estudioso dos fenômenos psíquicos, afirmou que apenas 40% dos casos estudados por ele representavam a comunicação dos mortos. A proporção pode variar, mas esses fenômenos continuam ocorrendo, pois representam o patrimônio espiritual do ser humano encarnado.

Infelizmente, de lá para cá, fez-se uma lacuna de quase um século em que este tema deixou de ser alvo do interesse e pesquisa do meio espírita, tornando-nos ignorantes de uma temática importante, pois que diz respeito às faculdades da alma.

Os fenômenos anímicos ou de emancipação da alma, como Allan Kardec preferiu chamar, revelam o Espírito que somos. A alma se mostra tal qual é, expressa a sua condição imortal e prova que o pensamento não é produto das atividades cerebrais. Se podemos ouvir e ver sem o auxílio dos ouvidos e dos olhos e com uma amplitude e clareza bem maior que o habitual, se podemos raciocinar com capacidade superior à da condição de vigília, se é possível expressar uma sabedoria e compreensão das coisas para além do estado de consciência, é por que há algo em nós que transcende a matéria e que, devido ao estado especial de sonambulismo, se encontra mais livre do jugo do organismo biológico, facultando-lhe a maior e melhor percepção. Esse algo é a alma.

O sonambulismo magnético, um desses fenômenos de emancipação da alma, foi o precursor da mediunidade moderna, todavia, não desapareceu com o surgimento desta. O aparecimento da mediunidade apenas ampliou as possibilidades do ser humano mostrando a sua capacidade não só de entrar em contato consigo mesmo, mas também com outros Espíritos, encarnados ou desencarnados.

Através do sonambulismo podemos investigar a alma, conhecer as suas nuanças, percorrer as suas trilhas desvendando os mistérios que a envolvem, dentro dos limites do progresso do Espírito e do desenvolvimento da faculdade.

Os fenômenos de emancipação da alma demonstram o potencial divino implantado na alma humana pelo Criador. A condição terrena é às vezes por demais difícil, cheia de altos e baixos, de dificuldades, além de que a matéria exerce uma pressão sobre o Espírito toldando-lhe as faculdades, mantendo-as em suspenso, as mesmas capacidades que ele pode utilizar quando no mundo espiritual. Por isso os Espíritos disseram a Allan Kardec que "basta que os sentidos entrem em torpor para que o Espírito recobre a sua liberdade. Para se emancipar, ele se aproveita de todos os instantes de trégua que o corpo lhe concede. Desde que haja prostração das forças vitais, o Espírito se desprende, tornando-se tanto mais livre, quanto mais fraco for o corpo". A matéria o constringe e afeta, é como que uma prisão da qual deseja libertar-se, mas que só o pode fazer por ocasião da morte. Enquanto isso, os momentos que se apresentam são utilizados pela alma para retemperar-se junto aos amigos espirituais. Toda noite, enquanto o corpo se refaz do desgaste diário e mantém latentes as suas funções, o Espírito se desprende parcial e temporariamente, podendo, assim, obter algum descanso das lutas cotidianas na matéria, adquirir novas forças para a continuação da sua jornada terrena, receber novos incentivos e orientações, voltando ao corpo mais disposto e motivado para seguir na experiência física.

Estes fenômenos tão largamente estudados pelo codificador da Doutrina Espírita precisam ser mais pesquisados e explorados se quisermos conhecer mais a respeito do ser humano. Freud com a Psicanálise conseguiu, até certo ponto, delinear os contornos da alma humana. Há muito mais ainda, entretanto, para se descobrir. O pai da Psicanálise estava limitado pelas concepções materialistas. Entendendo que somos Espíritos e utilizando as ferramentas oferecidas pelos fenômenos de emancipação da alma podemos realizar uma "viagem" ao seu interior explorando os seus meandros, corrigindo concepções, melhorando condutas, abrindo caminhos para o entendimento, etc. São tantas as possibilidades, mas que se encontram engavetadas graças a certo descuido deixando passar oportunidades formidáveis de entendimento e de ajuda ao ser humano e às suas mazelas.


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