Adilson Motta de Santana
A alma sempre foi objeto de muitas reflexões desde a
Antiguidade. O ser humano em geral sempre foi atraído pelo desejo de desvendar
os segredos mais íntimos que povoam a alma, sem conseguir, contudo, sair da
superfície do conhecimento quanto às estruturas que a compõem.
O Espírito humano carrega no íntimo toda a sua história,
conteúdos a maior parte desconhecidos ou não lembrados no estado de vigília.
São alegrias e tristezas, dores e superações, vitórias e derrotas que
representam as suas experiências e que servem de base para os direcionamentos
futuros. Em muitos momentos amou, sentiu raiva, aprendeu, ensinou, sorriu e
chorou, experimentando emoções e situações diversas, atravessando séculos e
culturas, ora no mundo físico, ora no mundo espiritual, feito viajante do
infinito que algo procura sem saber direito o que, nem onde encontrar.
Quem pode afirmar que conhece todos os recantos do seu
próprio ser? É uma procura inglória e frustrante, infindável e sem resultados
absolutos, pois provavelmente jamais conseguiremos alcançar toda a profundidade
do que somos e do que carregamos na alma. Nas experiências realizadas com
indivíduos em estado de sonambulismo magnético, vez ou outra o sujet deixa
entrever algo que lhe perpassa na intimidade, que vem à tona revelando pequenos
detalhes sobre o que ele é ou já foi. Na emancipação da alma, o Espírito deixa
o corpo temporariamente e revive situações em que assuntos não completamente
resolvidos muitas vezes machucam, angustiam, fazem-no sofrer em silêncio. De
outras vezes revelam uma potencialidade desconhecida que é toldada pela
densidade da matéria e pela rotina de vida.
É o momento em que acontece a catarse, a drenagem de toda
a dor represada que irrompe em lágrimas de alívio e ao mesmo tempo de
conscientização de que há algo por fazer e que não pode permanecer debaixo do
tapete. Por isso é prudente resolvermos as questões da nossa vida, pois não
podemos nos esconder de Deus, nem de nós mesmos. Mais cedo ou mais tarde somos
chamados a prestar contas dos nossos feitos e aquilo que ficou incompleto
precisa ser concluído.
Jaz no fundo do ser, aguardando a nossa decisão de fazer
uma limpeza, material dessa e de outras vidas ainda não resolvido. Ao mesmo
tempo, um poder divino vive em nós capaz de nos arrebatar das profundezas da
inferioridade lançando-nos a caminho da eternidade.
Fora do corpo físico a alma se reconhece melhor com suas
virtudes e defeitos, conhece a força e as fraquezas que carrega, percebe com
mais clareza os pontos em que necessita se corrigir e aqueles nos quais pode se
apoiar para fomentar novas conquistas. Pode lembrar do passado e preparar o
futuro, adquirir novas forças e reforçar os compromissos assumidos.
Crescer sempre, esse o lema da vida que por mecanismos
divinos nos impulsiona a todo instante para a frente como uma imensa roda que
gira sem parar. E quando permanecemos estacionados, seja por falta de ânimo ou
por deixar-nos enredar nas correntes dos remorsos e das culpas, acabamos presos
na nossa própria dor, retornando continuamente ao mesmo ponto de partida.
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