José Sarney
Estamos vivendo o Terceiro Domingo do Advento. Na
liturgia da Igreja Católica, o Advento é o tempo preparatório da vinda do Filho
de Deus, que, assumindo a condição humana, veio para mostrar aos homens que não
estamos sós neste planeta azul, onde Deus nos colocou na beleza da Criação.
Jesus veio ao mundo numa pequena e pobre aldeia da
Judéia, mas foi em Jerusalém que Ele passou os maiores momentos de sua vida. No
templo de Salomão pregou, expulsou os vendilhões e desafiou os sacerdotes.
Jerusalém é um símbolo da humanidade, sagrado para as
três religiões monoteístas do Ocidente. Ela foi palco de grandes batalhas, da
destruição do templo, de sua reconstrução e de nova destruição, de invasões de
bárbaros e da crença de que devia ser retomada, por um ou outro lado, inclusive
na sedução das Cruzadas, onde se bateram santos e heróis.
Com o tempo, os homens, para resolverem questões
políticas, dividiram a cidade, separada em áreas onde cada uma das religiões
tinha o seu terreno sagrado, mas todos insatisfeitos e desejando tomar o todo e
não ficar com apenas uma parte.
Eu estava na Organização das Nações Unidas (ONU), em
1961, membro da Comissão de Política Especial, onde se discutia a questão dos
refugiados árabes da Palestina, como eram chamados aqueles que haviam sido
desalojados para a criação do Estado de Israel, que ocorrera sob a presidência,
naquele organismo internacional, de um brasileiro, o grande Osvaldo Aranha.
Dessa comissão fazia parte Golda Meir, um ícone na história de Israel, que
ainda não fora primeira-ministra, era Ministra das Relações Exteriores e chefe
da delegação israelense. Com ela muitas vezes conversei e por duas vezes
almocei.
Já àquele tempo o tema causava profundos radicalismos.
Ano vem, ano passa e chegamos a uma relativa
tranquilidade, com a fundação da Autoridade Palestina, que passou a unir os
diversos grupos árabes da área em busca de negociar a Paz. Os que mais
avançaram nessas negociações foram o presidente israelense Isaac Rabin e o
presidente egípcio Anwar Sadat, ambos mortos por extremistas dos dois lados,
imolados pela visão da convivência em harmonia, e o construtor do Acordo de
Oslo, Shimon Peres, de quem fui amigo. Os três ganharam, com justiça, o Nobel
da Paz.
Vários presidentes americanos tentaram resolver essa
questão, devendo se destacar Carter, Clinton e Obama, e fizeram grandes
esforços. Agora, quando parecia que as coisas iam serenar, ganhou as eleições
americanas o Senhor Donald Trump, um troglodita da melhor espécie, que por
nada, a não ser para desviar as acusações de assédio sexual e de aliança com os
russos para fazer um jogo sujo contra a Hillary Clinton, resolveu anunciar que
reconhecia Jerusalém como capital de Israel e iria mudar a embaixada americana
para lá. Sabe ele que isso não é exequível, mas, na sua alucinação permanente,
criou uma crise mundial.
Começa uma nova Intifada, a terceira, a inquietação
invade a população de Telavive e o terrorismo recrudesce em todas as partes do
mundo, em ondas de protesto e atentados.
Jerusalém é considerada sagrada por judeus, muçulmanos e
cristãos. Ali, Jesus Cristo morreu, ressuscitou e anunciou que voltará, Maomé
falou com Deus e Salomão construiu o Templo. Quantos mortos já contabiliza a
loucura demagógica de Trump?
Os sinos do Natal já são ouvidos.
O mundo inteiro se prepara para as festas natalinas. No
entanto, no Oriente Médio, em vez do Menino Jesus chega Trump, que não leva
brinquedos, mas semeia a morte das crianças, nos dentes cerrados que de lado a
lado se enfrentam e nas consequências, que sempre pesam mais para os mais
fracos.
Choremos por essa guerra, que toda noite nos deixa
comovidos com os cadáveres loucamente carregados por grupos de fanáticos
religiosos, enquanto Trump nem se desculpa das acusações de desrespeitar
mulheres.
José Sarney
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