É uma crônica de João Carlos da Silva Costa Leite, filho de
Matinha.
Leiam:
A Bolachinha de Lauro, um patrimônio matinhense
João Carlos da Silva Costa Leite
Dos inúmeros bens e talentos de Matinha, no âmbito
cultural, artístico, literário, gastronômico e outros, um se destaca de forma
unânime: a bolachinha de Lauro. Dez em cada dez matinhenses sentem prazer em
degustar esse biscoito redondo, assado no forno com banha de porco, que já se
tornou célebre para além das fronteiras da nossa terra.
Meu irmão mais velho, filho do primeiro casamento de papai
com Estefânia, uma moça do povoado de Santa Vitória, que faleceu de parto do
seu terceiro filho, Lauro Costa Leite, está hoje com 71 anos. Desde criança
exerce essa atividade, começou o oficio na padaria de seu Miguel Brito, ao lado
de Chengo e Patachita, dois renomados oficiais dessa milenar arte, depois foi
trabalhar com Edson de Mundico Lima, o “seu Ed”. Quando Edson mudou-se para São
Luís, Lauro resolveu assumir o negócio, e constituiu uma panificadora na sua
própria residência.
Padeiro de reconhecida competência e valor, desde bem
pequeno. Eu o conheci, madrugada adentro, fabricando pães, não lembro de tê-lo
visto em outra profissão. Aos finais de semana gostava de caçar, numa espécie
de hobby. Quantas vezes chegava lá em casa com tatus, pacas, cutias,
siriquaras, juritis, perdizes, nambus, carões, etc.. (Nessa época ainda não
havia a pressão ecológica quanto ao hábito de caçar, que existe hoje). Lauro
era meu herói, eu o admirava e almejava ser como ele. Fazia tudo eximiamente,
preparava pães, bolachas de febre, roscas, bolachinhas, caçava, pescava, mexia
farinha, jogava futebol. Enfim, um
artista, ao meu olhar fascinado de irmão mais novo, sem contar o fato de ser
extremamente namorador.
Oportuno se torna dizer, que meu irmão quando do segundo
casamento de papai, tornou-se filho de Maria de Lola, nossa mãe, a quem amava e
era amado com a mesma intensidade. Casou-se com Maria Francisca Soares Leite, a
Maricota, tiveram quatro filhos.
Na década de noventa existiam apenas duas padarias na
cidade: a padaria de Benedito de João Lima e a de Lauro. A “bolachinha de
Lauro”, como ficou conhecida essa apetitosa guloseima de trigo, temperada com
banha de porco, segundo ele, colocada primeiramente de modo casual, e depois
fundamental na receita, tem um peculiar sabor, quando quebrada pelos dentes,
faz um singular barulho, que atua diretamente às glândulas gustativas,
possibilitando, produzindo, uma indizível, inesquecível sensação de prazer.
Hoje a “bolachinha de Lauro” virou paixão de todos os
matinhenses, já extrapolando as fronteiras da cidade e do Maranhão. Qualquer
evento, reunião, vernissage, ocorridos no município, necessariamente precisam
tê-las para degustação durante os coffee breaks. Representantes da Igreja
Presbiteriana Independente, quando em reuniões, ou presbitérios, sempre nos
exigem a presença dessa iguaria.
Todas as vezes que vou a Matinha, sou instado, cobrado,
intimado a trazer essas notórias iguarias a pessoas da igreja ou do movimento
político e sindical. Temos amigos em Belém, Rio de Janeiro, São Paulo, que
fazem o mesmo pedido, além de matinhense que ali residem, e fazem questão de
colocarem-nas em suas bagagens, para deleite próprio, bem como presentearem a parentes
e conhecidos. É comum vermos baixadeiros ou turistas, das cidades
circunvizinhas a Matinha, que em viagem para São Luís, via MA 014, encostam na
padaria, para adquirir os petiscos.
Em suma a fama das “bolachinhas de Lauro” é inconteste, uma
unanimidade que ultrapassa qualquer princípio, credo, tendência ou ala
política, fator muito forte em nossa terra. Parte desta notoriedade deve-se a
meu juízo, a Cláudio César, o seu segundo filho, falecido recentemente, que
soube conduzir a fabricação das bolachas, de forma profissional, mais apurada,
sintetizando e divulgando intensamente seu excelente conceito e tradição, de
sorte que as “bolachinhas de Lauro” são hoje patrimônio dos matinhenses e
orgulho de todos nós, seus familiares e amigos.
Texto de João Carlos da Silva Costa Leite, membro da
Academia Matinhense de Ciências, Artes e Letras (AMCAL), do Fórum em Defesa da
Baixada Maranhense (FDBM) e graduando em Filosofia pela Universidade Federal do
Maranhão (UFMA).
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