Dom Walmor Oliveira de Azevedo - Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte – MG
As diferentes formas de violência crescem assustadoramente
em todo o mundo, exigindo da humanidade urgência na busca pela paz. Uma tarefa
árdua que não se realiza com promessas ou decisões simplistas, pois se trata de
um fenômeno complexo: requer análises multidisciplinares, vontade política e o
envolvimento de toda a sociedade.
As estatísticas, os números assustadores, delineiam um
amplo quadro de perversidades. Além disso, há de se considerar também as muitas
histórias compartilhadas nas redes sociais e as notícias que revelam situações
absurdas, verdadeiros atentados contra a vida. Reconhecendo a importância dos
números, das informações e das providências governamentais no âmbito da segurança
pública, é preciso enfrentar a violência a partir de suas raízes que têm origem
na compreensão do ser humano a respeito da vida e do que significa cada pessoa.
Trata-se de um conjunto de valores que configura o próprio exercício da
cidadania.
Nessa realidade, são inadiáveis os investimentos para se
estabelecer um tecido socioantropológico capaz de restaurar uma referência
inegociável: a compreensão da vida de todos, não apenas da própria vida, como
dom de Deus. O investimento a ser feito toca os mais diferentes campos que
integram a existência humana - o contexto familiar, escolar, a religiosidade,
as práticas e os costumes, que constituem a cultura de um povo. Esses campos
devem estar unidos na configuração de uma nova mentalidade. Afinal, sem o reconhecimento
da sacralidade de cada pessoa, prevalecem a banalização da vida e a consequente
expansão das violências.
Mais importante que todas as medidas reconhecidamente
necessárias para combater a violência, o que se espera é uma verdadeira mudança
de mentalidade, com força para fazer emergir novas posturas. Assim, a sociedade
poderá superar o atual cenário, em que inúmeras mortes são provocadas por
motivos banais - atenta-se contra a vida de alguém para apropriar-se de um bem
material, por exemplo. É a verdadeira banalização do mal o que se vive na
contemporaneidade. Por isso mesmo, embora sejam importantes as análises de
especialistas, pois permitem o conhecimento mais aprofundado sobre as
diferentes situações de violência, há um desafio que é de todos na busca pela
paz.
Esse desafio contempla assumir as próprias responsabilidade
e deixar de delegar sempre ao outro a atribuição de superar o mal. Deixar de
acreditar que apenas as instituições ligadas à segurança pública têm o dever de
vencer a violência. Urge contribuir para que todos partilhem uma nova
compreensão a respeito da vida, do sentido de viver, que leve à prevalência das
relações fraternas e solidárias. É assim que se alcança nova dinâmica cultural
alicerçada na paz.
Para superar a violência, o percurso a ser seguido
contempla muitas ações: cultivar a solidariedade, conhecer e respeitar a
própria história, se perceber como alguém que realmente pertence a um povo,
assumindo o compromisso de cuidar das pessoas que estão ao redor. Essas
atitudes são contrárias às banalizações de todo tipo que alimentam o mal – das
ações exclusivamente motivadas por interesses econômicos sedutores,
manipuladores, aos comportamentos cotidianos que revelam falta de limite
ético-moral.
Vale prestar atenção redobrada e cultivar valores fundamentais
capazes de fazer surgir a fraternidade como princípio que ordena os diferentes
modos de viver. Nesse sentido, todos os segmentos da sociedade partilham a
responsabilidade de reavaliar as próprias atitudes, as posturas, para serem
capazes de redesenhar um novo horizonte. Tarefa que exige sólido arcabouço
ético-moral e a espiritualidade que reconfigura a vivência humana, na superação
do desafio das violências. Esta deve ser
a nossa grande batalha diária pela paz.
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