Dom Walmor Oliveira de Azevedo - Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte – MG
A indiferença cidadã diante da necessidade de se formular
entendimentos a respeito da política traz prejuízos graves. Por isso mesmo, é
urgente investir, sem partidarismos e polarizações ideológicas, para que todos
possam constituir qualificados juízos políticos – uma tarefa de diferentes
instituições, particularmente as educativas, culturais e igrejas. O
desinteresse das pessoas em participar, de modo qualificado, de debates e
reflexões é um déficit crônico que inviabiliza a contribuição cidadã para edificar
uma sociedade mais justa. Em vez de se
buscar formar juízos políticos, delega-se a definição dos rumos do país a
segmentos específicos, muitas vezes sem credibilidade.
A qualidade de discernimentos para o exercício da cidadania
requer uma formação que ultrapassa o simples acúmulo de conteúdo informativo ou
o conhecimento de números. As
informações e estatísticas podem ser importantes, mas imprescindível é o
conjunto de critérios éticos que permita identificar e combater configurações
ideológicas ligadas a interesses distantes da necessidade do povo. A participação cidadã, a partir da ética,
permite reconhecer também que o juízo político é algo complexo e não pode ser
reduzido a “paixões partidárias”, com embates que se assemelham aos de
torcedores de times rivais.
A obtusidade de cidadãos na tarefa de emitir juízos políticos é um contrassenso diante da “oportunidade de ouro” que a sociedade tem para dar um passo adiante no amadurecimento da democracia. É preciso reconhecer essa carência e superá-la para conseguir promover as mudanças necessárias ao país - o que inclui melhorar o quadro dos que se submetem ao sufrágio nas urnas. Todos sabem que o cenário atual é desolador. A falta de credibilidade da classe política faz com que até mesmo as pessoas íntegras sejam vistas com desconfiança por conviverem com muitas outras que deveriam representar o povo, mas se deixam seduzir por interesses mesquinhos.
O tratamento da corrupção, que é endêmica no Brasil, requer
amadurecimento no processo de formação de juízos políticos e o primeiro passo
nesse processo é vencer a indiferença, alimentada pela decepção diante do que
se verifica no mundo da política. Com a efetiva participação do povo, a classe
política será induzida a sair dos leitos de partidarismos. Deixará de ter como
prioridade quase exclusiva a eleição de seus pares. E engana-se quem pensa que
esse partidarismo, que nutre atitudes egoístas, restringe-se aos ambientes da
política institucional. Esse é um mal sofrido
por qualquer instituição, seja de natureza política, religiosa, seja cultural.
Há modos e escolhas ideológicas incapazes de promover
avanços, mas que determinam a formatação de certos juízos. Consequentemente,
são escolhidos caminhos e nomes que emperram processos de transformação. Há uma
forte tendência, em todos os lugares, para se buscar manter tudo do jeito que
está. Prevalece, assim, a “vista grossa” diante de mediocridades - são
escolhidos até mesmo nomes e projetos que tornam distante a possibilidade de se
alcançar um bem maior. A opção mais comum é pelo caminho que garanta
“vantagens” individuais ou a pequenos grupos.
Eis uma miopia cidadã, patologia que incide sobre juízos políticos e
precisa ser extirpada, principalmente em ano eleitoral.
Grande é a responsabilidade cidadã nesse processo.
Importante sublinhar ainda o dever da mídia na sua tarefa educativa e
informativa. A participação política cidadã, no diálogo e no exercício do
respeito mútuo, deve ser incentivada. Essa participação torna-se mais rica
quando são socializados juízos políticos, um intercâmbio que qualifica
compreensões e interpretações - da realidade e dos fatos. Cada pessoa esteja
aberta para o diálogo, com a necessária disposição para escutar, ponderar, e,
assim, amadurecer escolhas. Quando há efetiva participação cidadã, os juízos
políticos deixam de ser influenciados por quem não prioriza as urgências do
povo. Agora é a hora oportuna de investir para formar qualificados juízos
políticos.
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