José Sarney
Dirijo-me às minhas amigas e aos meus amigos do nosso
querido Estado do Amapá, bem como a todo seu povo para lembrar que encerrei a
minha vida política com a decisão tomada, desde a eleição passada, de não
concorrer a mais nenhum cargo eletivo, em razão da minha idade e das
dificuldades que tenho hoje para atender, plenamente, às obrigações para com o
Estado do Amapá.
Como todos sabem, tenho residência em Brasília, no Maranhão
e no Amapá. Pela lei, não tenho mais obrigatoriedade de votar. Assim, achei ser
do meu dever transferir o meu título eleitoral para onde reside a minha
família, que não é formada apenas por mim e minha mulher, mas também por
filhos, netos, bisnetos, além de onze irmãos, dos quatorze que possuía.
Diante do fato de vivermos um ano eleitoral, de ter tido
insistente apelo a uma possível candidatura minha e de aparecer em grande
preferência nas pesquisas eleitorais no Amapá, não quero frustrar nem uns nem
outros mantendo falsas expectativas, o que seria certa falta de consideração
para com os que sempre estiveram comigo e me apoiaram, que têm o direito de
novas oportunidades.
Assim, sem abandonar os meus vínculos e os meus deveres
para com esse querido Estado, que me acolheu e me deu três mandatos de Senador,
resolvi transferir o meu domicílio eleitoral para a cidade de São Luís, de onde
saí.
Eu não digo “Adeus”, digo “Até logo”, pois meus vínculos
com essa terra jamais se dissolverão, uma vez que a ela estou ligado por todos
os laços, e não por domicílio eleitoral.
Tenho a consciência de que o Amapá hoje tem um grande
futuro e está preparado para ser um importante Estado, sobretudo com as portas
abertas para a juventude, que, quando aí cheguei, não tinha horizontes.
Assim é que deixo, como parte do meu trabalho, toda a
infraestrutura do Estado do Amapá apta para seguir seu grande caminho.
A Zona de Livre Comércio, que ajudei a construir, deu uma
nova perspectiva ao Estado e é hoje sua maior fonte de empregos e de
desenvolvimento, tendo definido a sua História em dois momentos: antes e depois
de existir.
Encontrei o Amapá com motores a óleo diesel e racionamento
de energia elétrica durante todo o dia. Hoje o Estado é um exportador de
energia, com as Usinas do Caldeirão, de Ferreira Gomes e de Santo Antônio. Além
de uma coisa que nem eu mesmo acreditava que pudesse conseguir: influir para
que o Linhão do Tucuruícolocasse o Amapá no Sistema Elétrico Nacional.
Deixo também a Zona Franca Verde, cujos primeiros projetos
já estão sendo aprovados, que será, sem dúvida nenhuma, a complementação para a
economia industrial do Amapá.
Consegui, por outro lado, salvar o Projeto Jari, uma das
alavancas da economia de mercado de trabalho para o sul do Estado; que fizessem
o Hospital Sarah Kubitschek, que tão grandes serviços tem prestado aos que mais
precisam de ajuda, sobretudo às crianças – somente suas mães sabem o que isso
significa para elas; em um Estado que não tinha terras, que fossem passadas
terras da União para o Amapá; fundei a Universidade do Amapá, que sempre
ajudei, e levei para o Estado as escolas profissionais de Porto Grande, de
Macapá, de Santana, do Laranjal do Jari e do Oiapoque, com sua grande estrutura
de ensino moderno, que se formaram com a criação de recursos humanos.
Foi importante a ajuda que dei ao prosseguimento dos
estudos — que comecei ainda como Presidente da República, na época do Governo
Nova da Costa — para a construção da ponte sobre o rio Araguari, a ponte sobre
o rio Oiapoque e os recursos para a ponte sobre o rio Jari, que por três vezes
foram mandados por mim e constitui uma grande frustração que ainda não tenha
sido concluída.
Toda a minha atuação foi em obras estruturantes, que duram
para sempre. É como dizia Rui Barbosa: “Plantar carvalho, que dura séculos, e
não couve, que morre em 48 horas.”
Em todos os momentos, impedi que se cometessem injustiças
ao funcionalismo, civil e militar, que defendi com todas as forças. Nunca
deixei de defender as causas dos servidores, que passaram a receber o décimo
terceiro salário porque o criei quando exerci a Presidência da República.
Não quero fazer um relatório do que deixo, porque não
deixarei nunca de trabalhar pelo Estado do Amapá, pelo qual lutarei até a
morte.
Devo ressaltar que, do meu lado intelectual, também criei
duas obras definitivas para o Estado: a primeira é a história do Amapá —
“Amapá, a terra onde o Brasil começa” —, que escrevi e que hoje é a única obra
à disposição de estudantes e intelectuais. E a segunda: no meu romance
“Saraminda”, a ação se passa numa área do Amapá — esse livro hoje é referência
na literatura brasileira e na mundial, para a qual foi traduzido em 12 línguas.
Trabalho ainda e, se Deus me permitir com alguns anos mais
pela frente, entregarei um Guia Sentimental do Amapá, para o qual venho
colhendo notas e trabalhando há tempos.
A todos que me apoiaram, que me deram três vitórias, a
minha mais comovida gratidão.
Agora que estou desobrigado de votar, quero,
simbolicamente, eleger o Estado do Amapá como grande destinatário do meu
trabalho.
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