quarta-feira, 28 de março de 2018

O PAI ESPANCADO


Miguel Lucena


Um homem de 18 anos, chamado de rapaz pela imprensa, espancou o pai por causa de uma dívida de R$ 100. A inversão de valores chegou ao ponto de a mercancia se instalar na relação entre pais e filhos.

Meu pai nunca permitiu esse tipo de negócio em nossa casa. Se um irmão pudesse ajudar o outro, que o fizesse voluntariamente e de graça, sem cobranças e muito menos juros. E quem saísse da linha se veria com o patriarca, sem ninguém de fora, muito menos o Estado todo-poderoso, intrometer-se na hierarquia familiar.

Ao longo dos anos, os chamados progressistas e avançados foram enfraquecendo o pátrio-poder: primeiro, forjando a imagem do chefe de família provedor como algo ultrapassado e mau, opressor da família, a quem tratava como propriedade particular. Depois, limitando o exercício da autoridade, passando o Estado a ditar como deveria ser a criação dos filhos, mas sem dar um centavo para ajudar nessa tarefa.

O legislador passou para o Estado o pátrio-poder, mas deixou as consequências para o pai e a mãe, desmoralizados, administrarem: filhos sem freios, desrespeitosos, insolentes, drogados, ressentidos por não terem o que a propaganda estimula, invejosos e sensíveis demais para aceitar uma advertência.

Nos tempos do meu pai, a correção moderada dos filhos nunca fez mal. Nunca ficamos com ódio dele e da nossa mãe por causa de uma reprimenda. O próprio Código Penal punia os excessos que ultrapassavam o dever de correção dos pais, deixando claro que o corretivo moderado era, às vezes, necessário. O legislador, porém, tipificou como crime qualquer palmada, retirando de vez do pai e da mãe a autoridade sobre os filhos, especialmente os rebeldes sem causa que não dão ouvidos nem aceitam hierarquia familiar.

A intromissão do Estado, a pretexto de assegurar direitos totais à pessoa humana, sem a contrapartida dos deveres, está esfarelando a família, que começa a virar um ajuntamento sem comando de autoridade.

Esse filho que espancou o pai é fruto dessa modernidade. Para servir de exemplo, ele deveria ser condenado a prestar serviços em lares de idosos por um bom tempo, para se lembrar de que mais adiante será pai, terá filhos e ficará velhinho também, se for corrigido a tempo e não morrer novo pelas mãos de quem não aceita insolências de valentões covardes.

Miguel Lucena é Delegado de Polícia Civil do DF, jornalista e escritor.

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