Miguel Lucena
Um homem de 18 anos, chamado de rapaz pela imprensa,
espancou o pai por causa de uma dívida de R$ 100. A inversão de valores chegou
ao ponto de a mercancia se instalar na relação entre pais e filhos.
Meu pai nunca permitiu esse tipo de negócio em nossa casa.
Se um irmão pudesse ajudar o outro, que o fizesse voluntariamente e de graça,
sem cobranças e muito menos juros. E quem saísse da linha se veria com o
patriarca, sem ninguém de fora, muito menos o Estado todo-poderoso,
intrometer-se na hierarquia familiar.
Ao longo dos anos, os chamados progressistas e avançados
foram enfraquecendo o pátrio-poder: primeiro, forjando a imagem do chefe de
família provedor como algo ultrapassado e mau, opressor da família, a quem
tratava como propriedade particular. Depois, limitando o exercício da
autoridade, passando o Estado a ditar como deveria ser a criação dos filhos,
mas sem dar um centavo para ajudar nessa tarefa.
O legislador passou para o Estado o pátrio-poder, mas
deixou as consequências para o pai e a mãe, desmoralizados, administrarem:
filhos sem freios, desrespeitosos, insolentes, drogados, ressentidos por não
terem o que a propaganda estimula, invejosos e sensíveis demais para aceitar
uma advertência.
Nos tempos do meu pai, a correção moderada dos filhos nunca
fez mal. Nunca ficamos com ódio dele e da nossa mãe por causa de uma
reprimenda. O próprio Código Penal punia os excessos que ultrapassavam o dever
de correção dos pais, deixando claro que o corretivo moderado era, às vezes,
necessário. O legislador, porém, tipificou como crime qualquer palmada,
retirando de vez do pai e da mãe a autoridade sobre os filhos, especialmente os
rebeldes sem causa que não dão ouvidos nem aceitam hierarquia familiar.
A intromissão do Estado, a pretexto de assegurar direitos
totais à pessoa humana, sem a contrapartida dos deveres, está esfarelando a
família, que começa a virar um ajuntamento sem comando de autoridade.
Esse filho que espancou o pai é fruto dessa modernidade.
Para servir de exemplo, ele deveria ser condenado a prestar serviços em lares
de idosos por um bom tempo, para se lembrar de que mais adiante será pai, terá
filhos e ficará velhinho também, se for corrigido a tempo e não morrer novo
pelas mãos de quem não aceita insolências de valentões covardes.
Miguel Lucena é Delegado de Polícia Civil do DF, jornalista
e escritor.
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