José Sarney
São Luís é uma cidade que tem tido altos e baixos nas
mãos dos governos.
Quando eu era menino, Paulo Ramos rompeu sua unidade com
o corte da Rua do Egito e a destruição dos quarteirões a oeste do Largo do
Carmo para fazer a Avenida Magalhães de Almeida, além de derrubar o Quartel da
Praça Deodoro e a Igreja da Conceição.
A partir daí a cidade, com seus 80 mil habitantes,
estagnou. Viveu seus próximos 20 anos apertada entre as rias do Bacanga e do
Anil, vendo de longe o começo das praias na Ponta da Areia e do Olho d’Água. O
porto que tinha era ainda a Rampa Campos Melo, que não era porto, mas um
precário embarcadouro de canoas. A energia elétrica da Ullen (dois dos quatro
motores ainda usavam lenha) não seria suficiente, hoje, para alimentar um dos
nossos shopping centers. O abastecimento d’água era quase inexistente, atendia
a um terço da população da cidade, intermitente. Não havia praticamente
estradas: a dos versos do João do Vale, “soltando brasa, comendo lenha”, a
estrada de ferro São Luís-Teresina, era a única alternativa aos barcos.
Eleito governador, fiz a barragem do Batatan, a adutora
do Sacavém e a estação de tratamento d’água. Fiz a ponte do S. Francisco. Do
outro lado da ria do Anil havia espaços para onde a cidade pode se abrir e
crescer, e surgiu a cidade moderna. Fiz mais duas travessias, a do Caratatiua e
a do Bacanga. Desse lado criei o Porto do Itaqui, promessa que vinha do tempo
em que Caxias fora governador. É como São Luís hoje abre o Maranhão para o
mundo.
Com a concepção de preservar o centro histórico da
cidade, pedi o apoio do SPHAN (hoje IPHAN) e trouxemos a primeira missão da
Unesco, com Vianna de Lima. Foi sobre seu estudo que Roseana conseguiu que
fosse São Luís considerada Patrimônio da Humanidade, título que hoje periga
pelo abandono e desleixo dos dois governos, Prefeitura e Estado.
Roseana e eu fomos, sem ser prefeitos, os melhores
prefeitos de São Luís. As grandes vias, que protegem seu coração do tráfego
avassalador de veículos, foram feitas por Roseana. A Avenida IV Centenário, a
Avenida Ferreira Gullar, a Via Expressa. Vários projetos deixamos prontos.
Roseana fez as UPAs, que ou desapareceram ou não foram ampliadas; e fez os Viva
Gente: Luz, Casa, Primeiro Emprego, tudo abandonado. Valorizou nossa cultura, o
boi e o carnaval…
Mas a cidade parou, sem a continuação desses grandes e
necessários projetos. Parou no cuidado do Centro Histórico. Parou na atenção às
pessoas.
É hora de São Luís voltar a ter quem se preocupe com ela,
mesmo que seja no Palácio dos Leões. E, se não se mexem, teremos o título de
única cidade do mundo que deixou de ser Patrimônio da Humanidade.
José Sarney
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