Jorge Oliveira
Barra de S. Miguel, AL – O governo do Bolsonaro entrou
numa camisa de força porque a sua equipe ainda não desceu do palanque. Os
meninos do presidente continuam entretidos com os brinquedinhos da internet e o
pai ocupa seu tempo respondendo aos internautas. Enquanto isso, no mundo real,
o que se vê é um governo tonto, vazio, batendo cabeça e tentando se defender de
uma infinidade de acusações contra alguns de seus integrantes tão despreparados
quanto o próprio chefe. Por exemplo: Onyx Lorenzoni acha que é normal desviar
R$ 100 mil em passagens aéreas da Câmara dos Deputados para participar da então
campanha do chefe. E o pior: Rodrigo Maia, no afã de chegar à reeleição a
qualquer custo e não desagradar o amigo, fecha os olhos para a ilegalidade como
se o dinheiro torrado não tivesse saído dos cofres públicos.
A confusão generalizada tem cheiro de pânico tanto no
plano interno como no externo. O diplomata Ernesto Araújo, o novo chanceler,
vai atuar como homem-de-neandertal, aquele das cavernas. Nega inclusive a
globalização na sua visão curta e cega de ódio ideológico. Viramos uma nação de
macacos de auditório do Trump até nas mínimas imitações como a de se comunicar
sobre os afazeres do governo por twitter. O brasileiro não esquece o mal que os
Estados Unidos fizeram ao país patrocinando a ditadura militar e mantendo
agentes da CIA aqui nas décadas de 1960/70 para ensinar tortura tão ao gosto de
alguns militares, inclusive do capitão admirador desse método medieval.
A equipe de transição teve quase três meses para preparar
um plano de governo mas o que se viu foi uma mixórdia, que reuniu um bando de
trapalhões, confusos e alheios sobre os problemas do país. Paulo (Posto
Ipiranga) Guedes apresenta-se como o sabe-tudo com soluções para todos os
males. Diagnostica as doenças da economia que todos os brasileiros conhecem,
mas não receita nenhum tipo de remédio eficaz para combater os sintomas. Bateu
na mesma tecla dos outros governos: a solução para tudo está na Reforma da
Previdência, raciocínio preguiçoso para quem não tem nem rascunho de proposta.
Na outra ponta, o seu chefe, o capitão, sem nada na
cabeça, fala ao vento. Disse duas ou três bobagens sobre a economia,
imediatamente desmentido por seus auxiliares, caso inédito na república. Onyx
apressou-se em dizer à imprensa que o presidente se “equivocou” ao falar sobre
aumento de impostos. Que mico! Será que isso não foi discutido com a equipe de
transição? Como não bastasse, o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, seu homem
de confiança na secretaria de Governo do Planalto, procurou os jornalistas para
dizer que “nada” ainda é certo quanto à mudança da embaixada do Brasil para
Jerusalém.
O general não vê isso com bons olhos pela nossa relação
comercial com os países árabes e a ameaça terrorista pelo mundo que pode afetar
o Brasil, um país que não vive em conflito com a banda de lá. Se a mudança era
para bajular o Trump – que usou isso como plataforma de sua campanha nos EUA -,
seus áulicos por aqui vão esperar um pouco mais. Esse alinhamento cego do
Brasil com os Estados Unidos é feito de forma atabalhoada, precipitada – e até
ingênua. Daqui a dois anos, Trump vai tentar a reeleição. Se perder, como ficam
nossas relações diplomáticas e comerciais com o novo governo, certamente mais
sereno, sensato e equilibrado do que isso que está aí?
Esse governo oco, sem ideias e propostas para governar,
chegou ao poder por acaso, no rastro da corrupção petista que contaminou o
país. Entulhou os ministérios de gente inexperiente sob o prisma – e com razão
– de que só pessoas honestas poderiam ocupar os espaços. Mas não se preocupou
em fazer uma varredura na vida pregressa da equipe e olhar para o próprio
umbigo. Alias, isso não foi feito nem na própria família, que adotou o Queiroz
como PC Farias de Flávio, filho do presidente, que trincou a retidão dos
Bolsonaro. Com o telhado de vidro estilhaçado, pedaços caíram na cabeça de
alguns nomeados. Guedes responde a três processos no Ministério Público por
crimes financeiros, Onyx está envolvido na Lava Jato que apurou doações ilegais
da JBS de R$ 200 mil em suas contas e o presidente tem ido à televisão para
desmentir que Queiroz não é seu laranja.
Vê-se, então, que a vestal da honestidade está
dissolvendo como bolha de sabão. Para piorar, não existe proposta para a
economia, além das ideias de Guedes de entregar o país com a venda
indiscriminada de empresas estatais, as mais rentáveis que atraem os olhos do
capital estrangeiro, principalmente dos norte-americanos. Uma delas é a
Petrobrás, uma das maiores do mundo na área de petróleo. O pretexto é que a
empresa foi fonte de corrupção da petezada. Com esse argumento, Guedes pretende
negociar a estatal. Alias, pesquisa recente do Datafolha mostra que mais de 60%
dos brasileiros são contra essa desestatização inoportuna, desenfreada e sem
critérios.
Essa barafunda é fruto dos vários governos paralelos que
se formaram em torno de Bolsonaro na Esplanada dos Ministérios: o governo do
Guedes, o dos generais, o dos filhos, o do Moro e o do Onyx. E como no reino
encantado da Inglaterra, Bolsonaro está como a Rainha Elizabeth: “Reina, mas
não governa”.
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