Bispo auxiliar de São Luís
Na década de cinquenta do século passado, quando iniciei a minha vida escolar, o Brasil ainda era um país predominantemente rural. O processo de urbanização, porém, já se acelerava. Ao estudar Geografia, minha geração se orgulhava de o Brasil já possuir grandes metrópoles que podiam rivalizar-se com Nova Iorque ou Tóquio. O fato é que, num período curtíssimo de tempo, digamos em cerca de cinco décadas, oitenta por cento da população brasileira resolveram viver em médias e grandes cidades. Corrijo-me. Mais do que resolveram, talvez seja mais exato dizer que foram levadas a sair do campo pelas mudanças sociais e econômicas pelas quais passava o país. Obrigados ou não, o viver na cidade oferece algumas vantagens para os recém-chegados do campo. Não há como negar – a cidade tem seus atrativos.
O cuidado pastoral da Igreja católica tem tentado, talvez
um tanto vagarosamente, acompanhar todo esse processo. Assim é que, a partir da
década de sessenta do século passado, a Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil-CNBB, de quatro em quatro anos, vem propondo à Igreja em seu conjunto e
aos vários segmentos que a compõem – arqui/dioceses, paróquias, comissões
pastorais, movimentos etc. – algumas orientações para seu trabalho de
evangelização. A princípio, falava-se em Plano de Pastoral. A partir de certo
momento, porém, ao se tomar consciência do tamanho e da diversidade cultural,
social e econômica do país, preferiu-se falar em Diretrizes Gerais da Ação
Evangelizadora da Igreja no Brasil.
Sempre coincidindo com a eleição dos novos dirigentes da
CNBB, essas Diretrizes são revistas ou, se for o caso, se redigem novas
Diretrizes. Assim é que, na última Assembleia Geral, acontecida nos primeiros
dias do mês de maio, foram aprovadas as Diretrizes Gerais para a Ação
Evangelizadora da Igreja no Brasil para o período de 2019 a 2023. Como questão
de fundo, elas propõem orientações sobre como responder pastoralmente aos
desafios propostos pela cultura urbana atual.
O texto dessas novas Diretrizes começa com um olhar amoroso
sobre o mundo urbano. É o olhar do discípulo missionário, inspirado no olhar de
Jesus sobre a multidão: “Tenho compaixão deste povo” (Mt 9,36). Já dizia o
Documento de Aparecida: “A fé nos ensina que Deus vive na cidade, em meio a
suas alegrias, desejos e esperanças, como também em meio a suas dores e
sofrimentos” (nº 514). É nessa realidade que a Igreja deve marcar presença.
Tomando como modelo a Igreja primitiva, ela procura se organizar em comunidades
eclesiais missionárias.
Os Atos dos Apóstolos relatam que as primeiras comunidades
cristãs “eram perseverantes no ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna,
na fração do pão e nas orações” (At 2,42). Ora, o ato de perseverar refere-se a
uma realidade sempre em processo que bem pode ser comparada à construção de uma
casa. Nesta casa moram os discípulos missionários. Trata-se de uma casa de
portas sempre abertas, tanto para acolher os que chegam como para a saída dos
que partem em missão.
As novas Diretrizes falam em quatro pilares que sustentam
essa casa.
O primeiro pilar é a Palavra, pois os primeiros cristãos
“eram perseverantes na doutrina dos apóstolos”. O segundo pilar é a liturgia e
a espiritualidade, ou seja, “a fração do pão e as orações”. O terceiro pilar é
a caridade, pois é preciso construir a “comunhão fraterna”. E o quarto pilar é
a ação missionária, lembrando-nos que a Igreja não existe para si mesma, mas
para a missão.
Temos, portanto, uma agenda para os próximos quatro anos.
Que o Senhor nos ajude a cumpri-la.
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