José Sarney
Com minha compulsão pela leitura, chega-me às mãos um
pequeno livro sobre um tema incomum e de pouco interesse literário: a tradução.
O livro é de duas professoras de São Paulo, Damiana Rosa de Oliveira e Andreia
de Jesus Cintas Vazquez. São profissionais e devotas na arte de traduzir. O
livro é constituído de dez pequenos capítulos, ricos de erudição, de lendas
sobre a origem das línguas e da história dos primitivos tradutores.
Coincidentemente surge no Maranhão um livro sobre o tema
que foge à abordagem histórica tradicional e envereda por uma pesquisa inédita
e fascinante que nunca foi objeto de nossos estudiosos da cultura maranhense,
que, para usarmos uma expressão popular, “comeram mosca”. É de autoria de um
jovem e excelente pesquisador, Roberto Sousa Carvalho, que tem passado sua vida
nos arquivos europeus e brasileiros em busca de curiosidades e temas inéditos.
Ele revela que o Maranhão não somente produziu grandes escritores, mas também
importantes e desconhecidos tradutores. Já tínhamos boa reputação nessa área
pelas traduções de Odorico Mendes, com o desafio enorme que foi traduzir Homero
(Ilíada e Odisseia) e Virgílio (Eneida, Geórgicas, Bucólicas, reunidas no
volume Virgílio Brasileiro).
Roberto Carvalho descobriu e explorou com competência o tema.
Seu livro Tradutores inusitados, editado pelo Instituto Geia, que tem uma
coleção que ficará na história cultural do Maranhão como um dos mais valiosos
marcos, porque não deixou cair no esquecimento notáveis obras clássicas e
promoveu novos escritores. Roberto Carvalho tem enriquecido os estudos
maranhenses com importantes análises e pesquisas do nosso passado.
Sebastião Moreira já destacou, em estudos que publicou, a
importância do parque gráfico maranhense no século XIX, tendo à frente o J. M.
C. de Frias e Belarmino de Matos, que se esmeravam na arte de imprimir com
grande beleza e inovação.
Roberto Carvalho arrancou do esquecimento das raridades
bibliográficas alguns exemplares que são raríssimos. Além de parque gráfico, o
Maranhão era um dos grandes parques editoriais do Brasil. Basta dizer que a
Tipografia de Frias publicou a segunda edição do Livro dos meninos, de Antônio
Rego, em seis mil exemplares!, best-seller para aquela época em que São Luís
tinha 25 mil habitantes. A parte teatral era muito ativa, como mostra a
Biblioteca Dramática traduzida por Antônio Rego e Antônio Henriques Leal,
coleção que publicou doze peças francesas, de autores então em voga, entre eles
Eugène Sue e Alexandre Dumas. Para dizer o quanto estávamos atualizados, Os Miseráveis,
de Vitor Hugo, foram publicados quase ao mesmo tempo em Paris e São Luís.
O livro erudito de Roberto Carvalho é agradável de ler e
passa a ser essencial para todos que se interessam por nossa história
literária.
José Sarney
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