
Confesso que não estou desdobrado: continuo dobrado! O dia que eu desdobrar de vez, talvez não volte mais... O tempo aqui na terra é bom; porém, quiçá, não desejo vivê-lo de novo... Alguém poderá dizer que levarei a política na mochila. Pode ser..., mas sem o Sarney, Renan, Collor, Dilma e Lula. Não ficaria bem, para um pobre nordestino, carregar más recordações...
Hoje, lembrei de minha burrice..., e como lembrei!... Dias antes de retornar a Curitiba, arrumei meus livros de leitura e pesquisa que tratam da técnica apométrica, inclusive o básico: Espirito/Matéria: novos horizontes para a medicina... Esqueci tudo, na estante velha da Casa Grande de Upaon-açu...
E agora deu vontade de levantar o véu da apometria, prática não muito aceita entre espíritas e umbandistas...
A apometria é uma técnica de desdobramento espiritual induzida pela energia mental do operador - médium - encarnado. Trata-se de uma técnica anímica, ainda desconhecida de muitos companheiros espíritas e umbandistas... Hoje, só para começar o primeiro capitulo da novela, publico um estudo do professor Alexandre Pontes da Fonseca sobre o assunto.
ANÁLISE CIENTÍFICA DA APOMETRIA
De Alexandre Fontes da Fonseca - Bauru- SP
I. Introdução
A Apometria é uma técnica de desdobramento
desenvolvida pelo Dr. José Lacerda de Azevedo com o propósito de auxiliar
enfermos encarnados ou desencarnados [1,2]. Ela se apresenta como uma teoria de
caráter científico que pretende “mostrar um mundo novo” através de
premissas “formuladas cientificamente” [1]. Em resumo, na Apometria o
médium é levado ao desdobramento para atuar na observação de enfermos encarnados
e desencarnados; executar comandos oriundos de um doutrinador; e relatar
atividades realizadas na esfera espiritual. A eficácia das técnicas da Apometria
se baseia na hipótese de que processos mentais de contagem e comando
aglutinariam e condensariam energias do corpo físico e do espaço vazio para
realização das tarefas do desdobrado na ajuda a enfermos ou na contenção de
Espíritos obsessores.
Em vista da Apometria ser baseada em
conceitos científicos da Física, e se apresentar como uma técnica inovadora e de
consequências mais eficazes que o Espiritismo [1], este artigo tem como objetivo
apresentar uma análise científica rigorosa da validade do emprego de conceitos
da Física e da Matemática na formulação da teoria da Apometria.
Mesmo sabendo que a Apometria é uma
técnica incondizente com a orientação espírita (vide, por exemplo, artigos de O
Consolador, Refs. [3,4,5]), vários grupos insistem na adoção das práticas da
Apometria nos centros espíritas acreditando que ela produz resultados melhores e
mais “fortes” do que o Espiritismo, e alegando que, por usar conceitos de
teorias modernas da Física, a Apometria seria uma proposta mais avançada do que
o Espiritismo.
Da mesma forma como se avaliam os
trabalhos científicos na área de Física, analisaremos a validade da utilização
dos conceitos da Física na formulação da Apometria. Verificaremos se a teoria da
Apometria apresenta ou não contradições entre si ou com os conceitos da Física.
Isso será feito da mesma forma como novas teorias são analisadas dentro da área
da Física.
O principal critério de análise neste
artigo é: existência de inconsistências ou incoerências, isto é,
de falhas, conflitos e contradições entre conceitos diferentes da própria teoria
ou entre conceitos da teoria e da Física. No caso de uma equação da teoria,
analisaremos a consistência lógica entre os resultados possíveis da equação e
sua interpretação.
II. Análise
de alguns conceitos e de uma equação da Apometria
Neste artigo, vamos nos ater à análise de dois conceitos da Apometria que
usam conceitos da Física e uma equação matemática usada na definição de uma lei
da Apometria. Essa escolha foi feita em função do nível de complexidade dos
conceitos e equação serem baixos e, portanto, mais acessíveis ao leitor. Um
artigo contendo uma análise completa de mais conceitos e equações da Apometria
será publicado futuramente na coletânea de trabalhos apresentados no 8º
ENLIHPE [1]. Reproduziremos alguns
conceitos da Apometria apresentados na obra da Ref. [1] e apresentaremos, em
seguida, a análise científica em linguagem o mais acessível possível ao leitor
não especialista em Física ou Matemática.
Conceito 1. Corpo astral
imaterial
Na seção intitulada “8 - Propriedades e
funções do corpo astral” do capítulo “III - Corpo Astral” de [1], é dito que
“Esta facilidade de separar-se do corpo físico é característica do corpo
astral, imaterial e de natureza magnética, não tem constituição fluídica como o
duplo etérico ...”. Adiante, na seção intitulada “9 - Alimentos e "morte" do
corpo astral” do mesmo capítulo é dito que “Nosso corpo astral perde energia
constantemente, necessitando de suprimento energético para sua sustentação, tal
qual o corpo físico. Mas a natureza deste alimento varia muito; vai dos caldos
protéicos necessários aos espíritos muito materializados, fornecidos pelas casas
de socorro no astral, até as quintessenciadas energias que alimentam os
espíritos superiores, (...)”.
Análise científica: Acima encontramos erros de
inconsistência e contradição já que se o corpo astral é
“imaterial” e “não tem constituição fluídica”, não pode perder
“energia constantemente, necessitando de suprimento energético (...) tal qual
o corpo físico”? Em termos filosóficos e científicos, qualquer coisa que
seja imaterial não contém nem depende de energia, já que energia é uma
propriedade associada a corpos, objetos ou partículas materiais.
Conceito 2. Tempo e Espaço não existem na
dimensão mental
O conceito acima é o título da seção 7 do
capítulo “IV – Corpo Mental” de [1].
Análise científica: O título é um exemplo direto de
incoerência e contradição científica e filosófica das teorias
apresentadas na Ref. [1]. Isso pois se o tempo e o espaço não existem na
dimensão mental, então não se pode falar de frequência, vibração e propagação de
ondas mentais já que os conceitos de frequência, vibração e propagação dependem
dos conceitos de tempo e espaço. Para mais detalhes sobre equações de ondas, o
leitor é referido à obra da Ref. [6].
Equação 1. Energia do psiquismo –
W e Ψ
No capítulo intitulado “”Nohtixon - O
pensamento como trabalho do Espírito” da obra da Ref. [1], o Dr. Azevedo
apresenta uma análise de como o pensamento poderia agir sobre a matéria e propõe
a seguinte lei que rege o pensamento do Espírito: “A energia do pensamento
manifestada no campo físico é igual ao produto da energia elétrica neuronal (En)
pela energia psíquica (da alma) - Ψ na potência v, quando v tende para o
infinito.” Em termos matemáticos, a lei acima pode ser escrita numa das
seguintes fórmulas que são equivalentes entre si:
W = En Ψv→∞
, ou W = En lim v→∞
(Ψv ) , (1)
O primeiro erro dessa lei é de
inconsistência teórica pois consiste de não definir-se a variável Ψ.
Toda definição matemática requer algum valor de referência. A teoria da
Apometria apenas diz que Ψ é de natureza psíquica. O que significa isso
em termos quantitativos, já que Ψ faz parte de uma fórmula matemática?
Ψ é igual, maior ou menor que 1? Como diferenciá-lo entre as pessoas ou
seres? Que experimentos permitiriam medir Ψ ?
O segundo erro é o que chamamos de
absurdo matemático e consiste da análise da própria equação (1). Segundo
Dr. Azevedo, o que diferencia os seres é o valor do expoente v que
valeria 1 (v = 1) em seres unicelulares, maior que 1 (v > 1) em
seres animais, e v tenderia ao infinito em humanos (v →
∞: esse símbolo significa “tender ao infinito” ou “limite quando v
tende ao infinito”) [1]. A Apometria propõe estimar o valor da energia do
pensamento de um ser humano através do cálculo do limite da função
Ψv quando v tende ao infinito (ou v → ∞).
Aqui, para mostrar o absurdo da fórmula da Apometria, analisaremos o resultado
da seguinte expressão:
lim v→∞
(Ψv ). (2)
Para estimar os valores do limite definido
na equação (2), identificaremos a grandeza do tipo parâmetro e a grandeza
do tipo variável no cálculo do limite. A variável é aquela que irá
para o limite infinito: no caso a grandeza v. O parâmetro é o
elemento considerado fixo no cálculo do limite: no caso, a grandeza Ψ. A
operação de “calcular o limite” é aplicada a uma função que no caso, segundo a
equação (1) ou (2), é Ψv. Calcular o limite de v tender ao
infinito de Ψv nada mais é do que analisar para que
valor numérico a operação Ψv (lembrando: “Ψ
elevado à potência v”) se aproxima, quando a
variável do limite, no caso v, adquire valores extremamente altos,
tendendo ao infinito [7].
Para realizar as estimativas de cálculo do
limite da equação (2), precisaremos testar todas as possibilidades para o valor
do parâmetro Ψ. As possibilidades são: Ψ = 1 (possibilidade 1); -1
< Ψ < 1 (possibilidade 2); Ψ > 1 (possibilidade 3); e
Ψ ≤ -1 (possibilidade 4).
- Se Ψ = 1, sabemos que 1 elevado a
qualquer valor de potência é igual a 1 [7]. Portanto, o limite da equação (2)
quando v tende ao infinito, com a possibilidade 1, é 1 (um).
- Se -1 < Ψ < 1, então
observamos que Ψ tem valor absoluto menor que 1 e sabemos da Matemática
que um número de valor absoluto menor que 1 elevado a um expoente de valor
elevado, é um número tão menor quanto maior for o expoente [7]. Assim, o limite
da equação (2) quando v tende ao infinito, com a possibilidade 2, é 0
(zero).
- Se Ψ > 1, ou se “Ψ tem
valor maior que 1”, sabemos da Matemática que um número de valor maior que 1
elevado a um expoente de valor elevado é um número também elevado [7]. Assim, o
limite da equação (2) quando v tende ao infinito, com a possibilidade 3
é infinito, isto é, tende ao infinito na medida que o expoente v
tende ao infinito.
- Se Ψ ≤ -1, isso significa que
Ψ tem valor negativo. Sabemos da Matemática que o limite de um número
negativo de valor absoluto maior ou igual a 1 (um) elevado a um expoente que
tende ao infinito, é um resultado indeterminado pois dependendo do valor par ou
ímpar do expoente, o resultado é positivo ou negativo [7]. Por isso o limite da
equação (2) quando v tende ao infinito, com a possibilidade 4 é
indeterminado.
Em resumo, obtemos as seguintes soluções
para o limite definido pela equação (2):
lim v→∞
(Ψv ) = 1 se Ψ = 1
, (3a)
lim v→∞
(Ψv ) = 0 se -1 <
Ψ < 1 , (3b)
lim v→∞
(Ψv ) = +∞ se Ψ
> 1 , (3c)
lim v→∞
(Ψv ) = Indeterminado se Ψ ≤ -1 .
(3d)
A interpretação dos resultados acima é a
seguinte:
- Se a equação (3a) for o resultado
válido, então a energia da alma não tem utilidade pois que na composição da
energia do pensamento, o termo associado à energia material, En, é
multiplicado diretamente por lim v→∞
(Ψv ) que é igual a 1, e multiplicar En pela unidade
(por um) não altera o resultado e a energia do pensamento é apenas a energia da
parte material.
- Se a equação (3b) for o resultado
válido, então a energia total do pensamento é zero pois multiplicar En
por zero é igual a zero. Esse resultado não serve para nada e é contraditório
pois segundo a teoria da Apometria a energia mental de uma ameba (para a qual
v tem um valor finito) seria maior do que a de um ser humano.
- Se a equação (3c) for o resultado
válido, então a energia do pensamento é infinita pois multiplicar En por
infinito é infinito. Esse resultado não serve para nada pois em Ciências Exatas
não se trabalha com valores infinitos que não podem ser medidos, calculados ou
comparados.
- Se a equação (3d) for o resultado
válido, então a energia do pensamento é algo indeterminado pois multiplicar
En por um número indeterminado dá um resultado indeterminado. Portanto,
essa possibilidade também não tem utilidade alguma.
Da análise acima concluímos, por absurdo,
pela não-validade da equação (1) e do enunciado da lei que rege o
pensamento segundo a Apometria.
III. Conclusões
A análise acima permite concluir que a
teoria da Apometria foi construída sem nenhum respaldo da Física ou Matemática
não podendo, portanto, ser considerada científica. Ela apresenta erros do tipo
incoerência, inconsistência, e contradição entre seus
conceitos e equações. A Apometria, portanto, não representa um avanço
científico e, pelo contrário, demonstra desconhecimento a respeito dos
conceitos da Ciência.
É importante esclarecer que essa análise
não teve a intenção de desrespeitar os praticantes e simpatizantes da Apometria.
Na medida que temos a orientação de Jesus de que devemos buscar a verdade pois
ela nos libertará (João 8:32), e de que devemos dizer “sim, sim, não, não”
(Mateus 5:37), nosso objetivo é esclarecer e alertar espíritas e não-espíritas
sobre as bases falsas da teoria Apometria. Se a prática da Apometria produz
resultados, estes se devem a fatores diferentes do que a teoria ensina. As curas
e outros auxílios que eventualmente ocorrem em nome da Apometria são decorrentes
de fatores como merecimento dos envolvidos, presença de médiuns de efeitos
físicos, concentração e fé das pessoas, e outros fatores que o Espiritismo
ensina. As orientações para que sejam usados objetos ou práticas como contagens
ou outras técnicas que foram propostas com base em conceitos da Física são
completamente equivocadas e sem fundamentos. Conforme estudo anterior [8], o
Espiritismo é a teoria mais moderna e segura que temos na atualidade para tratar
e orientar a prática mediúnica.
Referências:
[1] José Lacerda de Azevedo,
Espírito / Matéria – Novos Horizontes Para A Medicina, 7ª edição, VEC
Gráfica e Editora Ltda, Porto Alegre (2002).
[2] José Lacerda de Azevedo,
Energia e Espírito, 2ª edição, Comunicação Impressa, Porto Alegre (1995).
[3] Jorge Hessen, “A apometria e as
práticas espíritas”, O Consolador 67 (3 de Agosto de 2008),
link:
[4] Astolfo O. de Oliveira Filho,
“Apometria não é Espiritismo”, O Consolador 130 (25 de Outubro de
2009), link:
[5] Gebaldo José de Sousa, “Apometria
não convém às Casas Espíritas”, O Consolador 139 (3 de Janeiro de
2010), link:
[6] D. Halliday, R. Resnick e J.
Walker, Fundamentos da Física – Volume 2 – Gravitação, Ondas e
Termodinâmica, Editora LTC, 8a. Edição (2009).
[7] H. L. Guidorizzi, Um Curso de
Cálculo – Vol. 1, Editora Livros Técnicos e Científicos Editora LTDA., 2a.
Edição (1987).
[8] A. F. da Fonseca, “Estaria o
Espiritismo ultrapassado?... Ou muito na frente?”, O Consolador
271 (27 de Julho de 2012), link:
[1] 8º Encontro Nacional da Liga de Pesquisadores em
Espiritismo, ocorrido nos dias 18 e 19 de Agosto de 2012, na sede do Centro de
Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo, Eduardo Carvalho Monteiro,
CCDPE-ECM, em São Paulo. A apresentação do trabalho pode ser assistida em:
http://www.youtube.com/watch?v=-3nsVYTPFyU
Publicado em O Consolador 289 – 2 de Dezembro de 2012 – link:
Alexandre
Fontes da Fonseca é professor de Física na
Universidade
Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", em Bauru-SP.

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