Do Estadão
Na denúncia contra o ex-presidente Lula apresentada ao
Supremo Tribunal Federal no início de maio, o procurador-geral da República
Rodrigo Janot afirma que o petista teve ‘papel central’ na trama para tentar
barrar a Lava Jato e a delação premiada do ex-diretor da Petrobrás Nestor
Cerveró. O procurador esmiuça os contatos de Lula com o ex-senador e delator
Delcídio Amaral (ex-PT/MS) e o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo pessoal do
ex-presidente, que teriam levado às tentativas de obstruir a investigação.
As revelações sobre a denúncia de Janot foram divulgadas
pelo Jornal Nacional da TV Globo nesta quarta-feira, 18.
Na acusação, o procurador conclui que Lula ‘impediu e/ou
embaraçou investigação criminal que envolve organização criminosa , ocupando
papel central , determinando e dirigindo a atividade criminosa praticada por
Delcídio do Amaral, André Santos Esteves, Edson de Siqueira Ribeiro, Diogo
Ferreira Rodrigues, José Carlos Bumlai’.
O Jornal Nacional teve acesso à íntegra da denúncia da
Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-presidente, acusado de obstrução
à Justiça no emblemático episódio da operação envolvendo Cerveró. Delcídio foi
preso em flagrante no dia 25 de novembro de 2015 após ser pego em escuta
negociando uma fuga e mesmo uma ajuda de custo para a família do ex-diretor da
Petrobrás.
Em nota, o Instituto Lula informou que o ex-presidente
‘jamais’ tentou interferir na conduta de Cerveró ou em qualquer outro assunto
relacionado à Operação Lava Jato. Segundo o JN, a Procuradoria-Geral da
República partiu das delações de Delcidio e de seu ex-chefe de gabinete, Diogo
Ferreira, para buscar provas materiais, como extratos bancários, telefônicos,
passagens aéreas e diárias de hotéis.
A conclusão da procuradoria é de que eles se juntaram ao
ex-presidente Lula; a Bumlai, ao filho do pecuarista, Mauricio Bumlai, e
atuaram para comprar por R$ 250 mil o silêncio do ex-diretor da Petrobrás.
Segundo a denúncia, o primeiro pagamento, de R$ 50 mil, foi
feito por Delcidio em maio do ano passado. Ele teria recebido o dinheiro de
Mauricio Bumlai num almoço. A quebra de sigilo mostra que Mauricio Bumlai fez
dois saques de R$ 25 mil dias antes.
A operação, de acordo com a Procuradoria, foi feita numa
agência bancária da Rua Tutóia, em São Paulo, onde teria ocorrido o repasse dos
valores a Delcídio.
A denúncia diz que Diogo Ferreira fez os pagamentos que
restavam em outras quatro datas entre junho e setembro do ano passado, sempre
recebendo o dinheiro sacado por Bumlai na agência da Rua Tutóia, conforme os
extratos bancários.
A Lava Jato quebrou o sigilo de e-mails do Instituto Lula e
apontou que Lula se reuniu com Delcídio cinco vezes entre abril e agosto do ano
passado, ou seja, antes e durante as tratativas e os pagamentos pelo silêncio
de Cerveró. Uma das reuniões foi no Instituto Lula, em 8 de maio, dias antes de
Delcidio fazer o primeiro pagamento, segundo a denúncia revelada pelo JN.
Delcídio afirmou em delação premiada que, no encontro, o
ex-presidente expressou ‘grande preocupação’ de que Bumlai pudesse ser preso
por causa de delações na Lava Jato e que o amigo pecuarista precisava ser
ajudado. Segundo o ex-parlamentar, a intenção era evitar que viessem à tona
fatos supostamente ilícitos envolvendo ele mesmo, Bumlai e Lula.
Ainda de acordo com a reportagem, Janot também aponta como
provas telefonemas entre Lula e José Carlos Bumlai, como em 7 de abril, um mês
antes dos pagamentos, ocasião em que o ex-presidente e o pecuarista se falaram
quatro vezes. Em 23 de maio – um dia depois do primeiro pagamento – Lula
telefonou para Bumlai e, neste dia, conversaram duas vezes.
COM A PALAVRA, AS DEFESAS:
Em nota, o Instituto Lula declarou que o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva já esclareceu em depoimento prestado à Procuradoria Geral
da República que jamais conversou com o ex-senador Delcídio do Amaral com o
objetivo de interferir na conduta do condenado Nestor Cerveró ou em qualquer
outro assunto relativo à Operação Lava Jato.
A defesa de José Carlos Bumlai negou as acusações e afirmou
que ele nunca pagou qualquer valor a Cerveró. A defesa declarou que o
ex-senador Delcídio do Amaral está vendendo informações falsas em troca de sua
liberdade.
Os advogados de Maurício Bumlai informaram que só comentarão
o caso depois de terem acesso à denúncia inteira.
A defesa de Diogo Ferreira confirmou os pagamentos, mas
disse que foram feitos a mando do ex-senador Delcídio do Amaral.
O advogado de Edson Ribeiro declarou que seu cliente sequer
conhece Lula e Bumlai e voltou a afirmar que Ribeiro jamais participou de
qualquer ato de obstrução à Justiça.
A defesa de André Esteves declarou que seu cliente não
cometeu nenhuma irregularidade.O Jornal Nacional não obteve resposta dos
advogados de Delcídio do Amaral.
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