Sebastião Nery
RIO – Um sultão todo poderoso acordou desesperado. Sonhou
que havia perdido todos os dentes. Ao despertar, mandou chamar o adivinho da
Corte para as devidas interpretações.
– Que sonho terrível! Cada dente perdido significa a perda
de um parente de Vossa Majestade.
– Como te atreves a dizer-me semelhante coisa? Fora daqui,
insolente!
Enfurecido, o sultão chamou os guardas e ordenou que lhe
dessem 50 chibatadas.
Mandou chamar outro bruxo, que foi logo interpretando o
sonho do sultão:
– Meu grande e excelso senhor! Grande felicidade vos está
reservada. O sonho significa que haveis de sobreviver a todos os vossos
parentes.
O sultão sorriu. Sua fisionomia iluminou-se. Chamou o
guarda e mandou dar 200 moedas de ouro ao novo adivinho.
Quando o adivinho saía do palácio, um guarda lhe disse ao
pé do ouvido:
– Incrível, sua interpretação do sonho foi a mesma de seu
primeiro colega. Ao primeiro, o sultão mandou dar 50 chibatadas. A você 200
moedas de ouro.
– Meu amigo, tudo depende da maneira de dizer. O fato é o
mesmo, a comunicação pode ser interpretada a favor ou contra. O importante é
dizer o que a plateia ou o interlocutor quer ouvir.
Conclusão: a comunicação é uma arte. É como pedra preciosa.
Se atirarmos nos olhos de alguém, pode ferir. Se a embalamos e oferecemos com
ternura, é amizade e alegria.
Em tempos de “fake news”, de buscar todas as mídias para se
tornar conhecido e de fazer da comunicação uma ferramenta de primeira
necessidade, nada como relembrar de um texto de anos atrás.
Na França o debate sobre as “fake news” esta indo a pleno
vapor. Quem é a favor, aplaude, quem é contra, repele. O presidente Emmanuel
Macron que é um líder moderno e esperto já encontrou a solução: vai fazer uma
lei que está sendo chamada Lei da Primavera, para definir as “fake news”.
Já começa enquadrando os ingleses e americanos. Se a França
tem como traduzir por que pedir a tradução em inglês?
O anúncio de Macron informa que a pesquisa Odoxa mostra o
apoio dos franceses ao projeto para lutar contra as “fake news” em período
eleitoral.
Este movimento pode fazer temer uma rejeição maciça a ideia.
De fato sobre 54.300 mensagens postadas em quatro dias praticamente a metade
exprimia uma rejeição clara ao controle dos conteúdos pelo Estado.
O espectro da censura foi largamente denunciado mas essas
reações refletiram sobretudo a visão deformadora da realidade da opinião
pública. Em compensação a opinião pública no conjunto, tem largamente uma
posição contrária. Este é o ensinamento maior da sondagem.
A expressão designa falsas informações que circulam sobre a
internet, afinal vazia de sua substância. O Figaro chama a atenção para o termo
que surgiu na campanha presidencial americana. Apareceu finalmente no
dicionário de Donald Trump. Nas últimas semanas o presidente dos Estados Unidos
não parou de denunciar as “fake news”: compreendam, as informações segundo as
mentiras das mídias desonestas.
O que é uma “fake news”? Dar uma definição curta que
engloba todas as facetas não é coisa fácil, sobretudo em francês. Sempre
traduzida por “falsas informações” a expressão “fake news” perdeu uma parte de
seu senso original. O inglês distingue “fake” de “falso”, o que é errado, o que
é falsificado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Este blog só aceita comentários ou críticas que não ofendam a dignidade das pessoas.