sexta-feira, 29 de março de 2013

CRÔNICA DE ALGUMAS “PAIXÕES” RENUNCIADAS

29/03/2013 13:14



Por  Alanna Souto






Alanna Souto
Msc. Historia Social da Amazônia


A semana santa marca um período de meditação e expiação para os cristãos e todos aquelas religiões que tem como uma de suas bases, o cristianismo, a citar a Umbanda Sagrada. Um momento de louvor a Cristo Jesus, o emissário de Deus, que veio executar a lei divina, transformar e acolher a humanidade, contudo foi crucificado, morto e sepultado por suas autoridades políticas despóticas. Tal relato encontra-se nas principais escrituras sagradas, em especial na Torá e na Bíblia cristã.
A sexta-feira da Paixão foi o dia em que Jesus passou pelo seu calvário de sacrifícios físicos, mentais e espirituais, apedrejado, alijado... sem direito a se defender, se quer ousou a defender-se , sofreu calado, sem dar um pio. Aliás, a palavra paixão se originou do termo latino passio é usado para se referir ao sofrimento mortal de Cristo da Vulgata. O termo volta a aparecer no século II em textos cristãos para descrever precisamente as dores e o sofrimento de Jesus neste contexto. Não é a toa que uma das derivações desta palavra vem do verbo grego paschō o qual significa "sofrer”, posteriormente evoluiu para um sentido mais abrangente.
O certo é que Jesus optou em viver a sua “Paixão” por amor, compaixão e “salvação” aos seres humanos, os mesmos que decretaram sua tortura e morte. Abraçara todos os povos, sem distinção de cor, condição social ou opção sexual, como se sabe a prática homoafetiva é mais antiga quanto à própria humanidade. Uma prova dessa diversidade de culturas encontra-se na própria organização da bíblia que nada mais é que um emaranhado de relatos descritos por várias seitas e crenças da época, cada “cultura” enfocando um ponto de vista.
A babel de cristianismos resistiu até o século 2, quando alguns bispos decidiram organizar as “Escrituras” sob o argumento que precisavam de um cânon definitivo para a expansão da religião, mas para isso seria necessário sacrificar as diferenças e chegar a uma espécie de “versão oficial”. Na hora de selecionar os livros, o espírito democrático que permitiu a existência das diferentes versões deu lugar às disputas de poder, prevalecendo, obviamente, o cristianismo apostólico sob o pulso autoritário e sanguinário de Constantino, que perseguiu todas as outras minorias cristãs que discordassem da “versão bíblica oficial”, escondendo, queimando todos os seus registros. Organizou-se, assim, a bíblia que conhecemos atualmente e anunciava o que viria ser a idade das trevas, em especial, no que tange a liberdade e tolerância religiosa e cultural.
A herança atual desse contexto irá se refletir nos filhos deste cristianismo medieval, representado pela sucessão de Papas Pops que não poupam ninguém, a não ser aqueles que seguem cartilha “moral e “familiar” de sua Igreja Católica Apostólica romana. Ainda, pior, que isto, é quando a bancada ortodoxa e fundamentalista religiosa passam a ser lideranças parlamentares e começam a intervir em questões tão caras a nossa democracia e as minorias, a exemplo, do deputado Marco Feliciano que já xingou os sacerdotes dos cultos de nação afro, pedindo seus “sepultamentos” ou mesmo quando não reconhece como legítima a união homoafetiva, atitudes intoleráveis e paradoxais para quem foi “eleito” presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) . É claro que os ativistas afro-religiosos, a comunidade LGBT, bem como todos os grupos organizados e cidadãos que apoiam a luta e a inclusão dessas minorias protestaram e pediram pela saída imediata do pastor e deputado federal Marco Feliciano, que diferente daquele que tanto inspirou e inspira sua religião, Cristo Jesus, recusa-se a sacrificar-se em prol do povo, optando por renunciar a “Paixão”, o que por si só demonstra a ação egoíca, intolerante e incompatível para com o cargo que teima em assumir.
Quantas mais pessoas irão ter que dizer que não se sentem representadas pelos seus discursos e práticas excludentes? Quantas manifestações e passeatas terão que ser feitas? Quem mais terá que dar depoimento? Será preciso uma intervenção do alto, digo, do poder executivo? Ou mesmo do Alto, de Deus, dos raios de Xangô e Yansã para que o conduza a uma direção mais condizente com aquele que o ilustre senhor diz seguir e que, apesar das pedras as quais lhe atiraram , esse, sim, optou por vivenciar amorosamente a “PAIXÃO” de Cristo.
Nessa sexta-feira da paixão, crentes e não crentes, afinal não precisa ser cristão para que meditemos sobre a simbologia UNIVERSAL da paz em “Cristo” a qual está pautada no amor, solidariedade e tolerância, quantas vezes não agimos com intolerância para com outro, querendo impor nossas verdades? Quantas vezes alijamos o outro sem ouvir com falsas acusações, denegrimos-lhe por simples desentendimento pessoal?
Eu mesma recentemente passei e ainda estou passando, de alguma forma, por um processo de alijamento por simplesmente ter me desentendido com o ser dirigente de um templo que fiz parte, a qual de forma intolerante me crucificou por tal desentendimento perante todos da “igreja”, sem minha presença, sem direito a defesa, semeando um clima de ódio ao meu respeito, uma prova disso que quase todos do templo excluíram-me de suas redes sociais para não ter contato com o “fruto proibido”, pergunte se alguém tomou atitude sensata de me ouvir? De dialogar, Ninguém! Um ou dois que decidirem me ouvir, acabaram por serem afastados do templo pelo simples fato de continuar sendo meus amigos. Tamanha a pressão da dirigência sacerdotal, que alguns quando me encontram na rua até viram a cara, com raiva ou medo, afinal na visão deles estou fora do alcance da LUZ e o mais lamentável ainda que passados 5 meses do meu rompimento a intolerância em relação ao meu respeito,ou melhor, em respeito ao “diferente” ainda continua sendo um fator de séria debilidade atingindo, inclusive, aqueles que não me conhecem que frequentam o templo , já que qualquer possibilidade de contato, adiantam minha ficha “subversiva”e dizem : “ cuidado, ser inimigo” ou “está do lado de quem?”...Será que Jesus fazia isso com seus apóstolos? Nem mesmo com Judas fez... É meus caros, esses são os filhos do cristianismo medieval, aquele que excluiu as minorias cristãs e suas sabedorias da Bíblia e assim como o deputado Marco Feliciano, dizem-se seguidores de Cristo Jesus, mas que diferente dele renunciam a “ Paixão”, o ego é maior.
Apenas sorrio, sigo sorrindo e sempre aberta ao diálogo até mesmo para com aqueles que me odeiam. Cada um de nós possui um relato ou relatos de intolerância em algum momento, crônicas das vidas, basta ter um pouco de coragem para compartilhar, depois que passa a dor, devemos buscar lembrar com tranquilidade, esvaziar o pote de mágoa e nada mais convidativo a reflexão, ao esvaziamento e ao (auto) perdão que a Sexta-feira da Paixão.
Saravá!
29 de março de 2013.

 

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