sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

A vida conta - texto/artigo do jornalista Carlos Alberto Lima Coelho

 

A vida conta



Carlos Alberto Lima Coelho


“A nossa felicidade será naturalmente proporcional em relação à felicidade que fizermos para os outros.” - Allan Kardec

Em várias oportunidades, fomos motivados a contar história de vida, de radiovintes que enviavam cartas às emissoras para as quais trabalhávamos. Muitas se relacionavam a amores não correspondidos e outras tocavam a nossa sensibilidade, nos trazendo fortes emoções. Foram centenas de histórias que nos proporcionaram não só audiência  noturna como nos fizeram refletir o quanto era importante o equilíbrio emocional para a convivência familiar e mesmo social sempre com retidão.

Uma delas, antiga e publicada nas redes sociais, lidas também em programas de rádio, cujo autor é tido como desconhecido, nos fala de dois homens, ambos gravemente doentes, que  estavam no mesmo quarto de hospital. Um deles podia sentar-se na sua cama durante uma hora, todas as tardes, para que os fluidos circulassem nos seus pulmões. Sua cama estava junto da única janela do quarto. O outro homem tinha de ficar sempre deitado de costas. Os homens conversavam horas a fio. Falavam das suas mulheres e famílias, das suas casas, dos seus empregos, onde tinham passado as férias... E todas as tardes, quando o homem da cama perto da janela se sentava, ele passava o tempo a descrever ao seu companheiro de quarto todas as coisas que ele conseguia ver do lado de fora da janela. O homem da cama do lado começou a viver à espera desses períodos de uma hora, em que seu mundo era alargado e animado por toda a atividade e cor do mundo do lado de fora da janela. A janela dava para um parque com um lindo lago. Patos e cisnes chapinhavam na água enquanto as crianças brincavam com os seus barquinhos. Jovens namorados caminhavam de braços dados por entre as flores de todas as cores do arco-íris. Árvores velhas e enormes acariciavam a paisagem e uma tênue vista da silhueta da cidade podia ser vista no horizonte. Enquanto o homem da cama perto da janela descrevia isto tudo com extraordinário pormenor, o homem no outro lado do quarto fechava os seus olhos e imaginava a pitoresca cena. Um dia, o homem perto da janela descreveu um desfile que ia a passar. Embora o outro homem não conseguisse ouvir a banda, ele conseguia vê-la e ouvi-la na sua mente, enquanto o outro senhor a retratava através de palavras bastante descritivas. Dias e semanas passaram. Uma manhã, a enfermeira chegou ao quarto trazendo água para os seus banhos, e encontrou o corpo sem vida do homem perto da janela, que tinha falecido calmamente enquanto dormia. Ela ficou muito triste e chamou os funcionários do hospital para que levassem o corpo. Logo que lhe pareceu apropriado, o outro homem perguntou se podia ser colocado na cama perto da janela. A enfermeira disse logo que sim e fez a troca. Depois de se certificar de que o homem estava bem instalado, a enfermeira deixou o quarto. Lentamente, e cheio de dores, o homem ergueu-se, apoiado no cotovelo, para contemplar o mundo lá fora. Fez um grande esforço e lentamente olhou para o lado de fora da janela que dava, afinal, para uma parede de tijolos! O homem perguntou à enfermeira o que teria feito com que o seu falecido companheiro de quarto lhe tivesse descrito coisas tão maravilhosas do lado de fora da janela. A enfermeira respondeu que o homem era cego e nem sequer conseguia ver a parede.

Então, você percebeu que existem pessoas que entram na nossa vida e deixam sinais que nos marcam para sempre?  Como a sonoridade do vento ao final da tarde. Como os ataques de guitarras e metais presentes em cada clarão da manhã. Olhe a pessoa que está do seu lado e você vai descobrir, olhando fundo, que há uma melodia brilhando no disco do olhar. Procure escutar... Amigos foram compostos para serem ouvidos, sentidos, compreendidos e interpretados. Para tocarem nossas vidas com a mesma força do instante em que foram criadas, para tocarem suas próprias vidas, e de poderem alçar todos os voos, de poderem vibrar com todas as notas, de poderem cumprir, afinal, todos os sentidos que a elas foi dado pelo compositor. Amigos são como você, com quem tenho o prazer de conviver. Amigos são músicas, como você que tenho o prazer de ouvir. Amigos tem que fazer o sucesso que lhes desejamos. Mesmo que não estejam nas paradas. Mesmo que não toquem no rádio, apenas no coração! Aprendemos também que muitas flores são colhidas cedo demais. Algumas, mesmo ainda em botão. Há sementes que nunca brotam e há aquelas flores que vivem a vida inteira até que, pétala por pétala, tranquilas,  vividas, se entregam ao vento.
Ainda é tempo de reconstruir alguma coisa, de dar o abraço amigo, de dizer uma palavra carinhosa, de agradecer pelo que temos.  Nunca se é velho demais ou jovem demais para amar, dizer uma palavra gentil ou fazer um gesto carinhoso. Não olhe para trás. O que passou, passou. O que perdemos, perdemos.

Ainda é tempo de apreciar as flores que estão inteiras ao nosso redor. Ainda é tempo de voltar-se para dentro e agradecer pela vida, que mesmo efêmera, ainda está em nós. Ou ao ouvir o canto da cigarra, lembrar-se  “ que dentro de casa pode significar a presença de um sinal ou desejo de mudança, de transformação, ressurreição ou de enfrentamento de novos desafios. A cigarra, na simbologia espiritual, traz o desafio e a importância de repensar a vida e as atitudes passadas, quando necessário. Ela tem a vocação de ajudar nesse momento de reflexão do passado, de modo a que se possa aprender com as experiências em busca de atitudes positivas para o futuro.  Traz o rejuvenescimento emocional, proporcionando que se olhe a vida com novos olhos. Esse encontro com a alma se conecta com os sons emitidos pela cigarra. Pelo tempo de vida que algumas cigarras podem durar, o seu animal espiritual também é símbolo de longevidade.”(*)

A vida continua nos dois planos,  mas a  evolução fica por conta da nossa consciência. Enquanto no plano material, necessário se torna refletirmos sempre sobre as atitudes que devemos tomar,  O Evangelho Segundo o Espiritismo nos instrui sobre qual caminho seguir. As histórias seguintes mostram muitos exemplos do que o erro em escolher a estrada poderá ser bastante melancólica.

* Fonte:  www.dicionariodesimbolos.com.   

Carlos Alberto Lima Coelho

Jornalista


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