ALMAS QUE SE ENCONTRAM
Carlos Alberto Lima Coelho
“É pelo olhar que as almas se encontram e se entrelaçam como fios da mesma teia” - Aila Sampaio
Lendo uma revista de circulação nacional, deparamo-nos com uma reportagem que nos chamou bastante atenção, principalmente para entender o que leva um casal de primos, que por muitos anos foram indiferentes ao amor carnal, e raros contatos em reuniões de família, a se apaixonarem e casarem depois de descobrirem afinidades e parcerias que acabaram por salvar uma das vidas.
Segundo relato da moça, mais velha que o primo, oito anos, eles nunca tiveram uma relação mais próximas, até porque moravam em cidades distantes, embora no mesmo Estado. Um sítio, de um avô, era a única referência de alguns encontros familiar, o que motivou alguns rápidos contatos entre os jovens. Entretanto, confessara que o achava antipático, frágil, doente sem um diagnóstico que pudesse até então que tipo de enfermidade o transtornava. Com o passar do tempo, depois de alguns exames médicos mais apurados, ficou constatado que o rapaz tinha um problema renal, o que impedia que levasse uma vida normal. Ao contrário dele, a moça estava concluindo um curso superior e tinha proposta de emprego, que deveria se concretizar em pouco tempo.
Certa vez a família resolve viajar a lazer, para outro Estado, onde tiveram a oportunidade de curtir praias durante o dia e à noite as baladas da cidade. Entretanto, devido à fragilidade em sua saúde, o rapaz pouco participava desses momentos, além do mais havia terminado recentemente um namoro e estava sem trabalhar havia algum tempo. Esses problemas passaram a chamar a atenção da prima, afinal o garoto era muito ligado a um primo, irmão dela, de quem também era confidente.
De volta para a cidade de origem, em poucos dias, souberam que a doença do rapaz agravara-se, e ele, que mal podia ficar de pé, foi internado em estado considerado grave. Depois de todos os exames médicos, foi diagnosticada uma inflamação aguda nos rins (nefrite), o que o levaria a um transplante imediatamente. Houve o doloroso processo de hemodiálise por algum tempo.
A família teve que se submeter a teste de compatibilidade para saber quem poderia doar um rim, para transplante. A moça refletiu bastante sobre o caso do primo. Ela sempre teve medo de tomar injeções, ser vacinada, de cirurgias, mas diante da possibilidade de salvá-lo, poderia fazer um esforço, caso fosse necessário doar o órgão. Os resultados confirmaram ser ela a possível doadora. Comunicou a todos, mas os amigos e a mãe foram contra, pois ela era muito saudável e ficaria com cicatriz e marcada para o resto da vida pela sua decisão. Depois de alguns contratempos a cirurgia foi marcada e realizada com sucesso.
Mesmo assim, a indiferença continuava entre os dois, agora mais por parte dele, que continuava frio diante da demonstração de carinho da prima. Certo dia a família se reuniu novamente para um passeio e lá estavam novamente os dois.
Dessa vez, tudo foi diferente. Pareciam se entender muito bem e que nunca tiveram nenhuma rejeição anterior. A partir de então, a afinidade aconteceu. Um ia trabalhar e o outro ia buscar para conversar. O beijo aconteceu. A família acenou positivamente e os dois acabaram se casando. Há casos semelhantes de pessoas de países diferentes que se encontraram em doações de órgãos e acabaram ficando juntos.
No Evangelho Segundo o Espiritismo, por Allan Kardec, numa tradução de José Herculano Pires, no capítulo Parentesco Corporal e Espiritual diz que: “Os laços de sangue não estabelecem necessariamente os laços espirituais... Os Espíritos que se encarnam numa mesma família, sobretudo como parentes próximos, são os mais frequentemente Espíritos simpáticos, ligados por relações anteriores, que se traduzem pela afeição durante a vida terrena. Mas pode ainda acontecer que esses Espíritos sejam completamente estranhos uns para os outros, separados por antipatias igualmente anteriores, que se traduzem também por seu antagonismo na Terra, a fim de lhes servir de prova. Os verdadeiros laços de família não são, portanto, os da consanguinidade, mas os da simpatia e da comunhão de pensamentos, que unem os Espíritos, antes, durante e após a encarnação. Donde se segue que dois seres nascidos de pais diferentes podem ser mais irmãos pelo Espírito, do que se o fossem pelo sangue. Podem, pois, atrair-se, procurar-se, tornarem-se amigos, enquanto dois irmãos consanguíneos podem repelir-se, como vemos todos os dias. Problema moral, que só o Espiritismo podia resolver, pela pluralidade das existências. (Ver cap. IV, nº 13)
Há, portanto, duas espécies de famílias: as famílias por laços espirituais e as famílias por laços corporais. As primeiras, duradouras, fortificam-se pela purificação e se perpetuam no mundo dos Espíritos, através das diversas migrações da alma. As segundas, frágeis como a própria matéria, extingue-se com o tempo, e quase sempre se dissolvem moralmente desde a vida atual...
Os Laços de Família são Fortalecidos pela Reencarnação e Rompidos pela Unicidade da Existência...
Cada vez menos apegados à matéria, seu afeto é mais vivo, por isso mesmo que mais purificado, não perturbado pelo egoísmo nem obscurecido pelas paixões. Assim, eles poderiam percorrer um número ilimitado de existências corporais, sem que nenhum acidente perturbe sua afeição comum.
Estenda-se bem que se trata aqui da verdadeira afeição espiritual, de alma para alma, a única que sobrevive à destruição do corpo, pois os seres que se unem na Terra apenas pelos sentidos, não têm nenhum motivo para se preocuparem no mundo dos Espíritos. Só são duráveis as afeições espirituais. As afeições carnais extinguem-se com a causa que as provocou; ora, essa causa deixa de existir no mundo dos Espíritos, enquanto a alma sempre existe. Quanto às pessoas que se unem somente por interesse, nada são realmente uma para outra: a morte as separa na Terra e no Céu.
A união e a afeição entre parentes indicam a simpatia anterior que as aproximou. Por isso, diz-se de uma pessoa cujo caráter, cujos gostos e inclinações nada têm em comum com os dos parentes, que ela não pertence à família. Dizendo isso, enuncia-se uma verdade maior do que se pensa. Deus permite essas encarnações de Espíritos antipáticos ou estranhos nas famílias, com a dupla finalidade de servirem de provas para uns e de meio de progresso para outros. Os maus se melhoram pouco a pouco, ao contato dos bons e pelas atenções que deles recebem, seu caráter se abranda, seus costumes se depuram, as antipatias desaparecem. “É assim que se produz a fusão das diversas categorias de Espíritos, como se faz na Terra entre a raças e os povos...”
Na verdade, há registro de romances entre primos desde a Idade Média. Os nobres preferiam que os casamentos se realizassem na família como forma de manter as heranças e poder. O príncipe Philip e a rainha Elizabeth II, da Inglaterra, são primos de terceiro grau. Matéria divulgada por um jornal paulista traz informações de que “em alguns lugares do mundo, como Sul da Ásia e Oriente Médio, entre 20% e 50% dos casamentos são entre primos de primeiro grau ou parentes mais próximos. De acordo com estudo feito por Alan H. Bittles, da Universidade de Murdoch, na Austrália, 10% da população mundial está casada com um primo ou tem pais que são primos.
Charles Darwin e sua mulher Emma, eram primos de primeiro grau, sendo que os avós dele tinham o mesmo parentesco. Outros famosos, como Albert Einstein, Franklin Roosevelt, Thomas Jefferson, Edgar Allan Poe e os atores Jerry Lee Lewis e Kevin Bacon, casaram com suas primas.
Na cultura ocidental, especialmente cristã, a união não é tão bem-vista. Para que um casamento entre primos de primeiro grau seja realizado é preciso autorização de um bispo. Por outro lado, a lei brasileira permite. De acordo com o artigo 1.521 do Código Civil, é proibido o casamento entre parentes colaterais até terceiro grau – tio (a) e sobrinha (o) –, mas os primos-primeiros são parentes em quarto grau. Nos Estados Unidos da América, 31 dos 50 Estados proíbem este tipo de casamento.
Talvez já estejamos desatualizados devido a enxurrada de informações que contradizem tudo o que aprendemos ao longo dos anos. Mas é o progresso, dizem...
Carlos Alberto Lima Coelho
Jornalista|Escritor

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