terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

NO SILÊNCIO DAS HORAS MORTAS - Texto de Carlos Alberto Lima Coelho, poeta, jornalista e escritor

 

NO SILÊNCIO DAS HORAS MORTAS



Carlos Alberto Lima Coelho*


“A inclemência dos anos expõe minhas saudades, e me deixa o gosto da solidão, do vazio...Faz-me ouvir o burburinho do tempo, no meu sofrer de gente grande...”

     Não são muitas as canções que eu sei cantar, embora adore música. Não são muitos os contos, nem tantas as crônicas, motes ou qualquer outro gênero literário, em particular a poesia, de minha autoria, que não tenham sido elaborados exclusivamente em momentos de extrema inspiração.  O meu fazer literário é fruto do toque da inspiração. Portanto, todo o meu escrevinhar, sobretudo o meu poetar, possui o toque da “alma”. Da minha alma. Aí sim, canto as canções que eu sei cantar, mesmo que não tão afinado quanto exigem as regras do compasso.

  Há tempo que pessoas amigas perguntam em que “estado de espírito” me encontro para escrever crônicas e poesias. Quantas horas de bares, quantos porres, quantas mulheres e quantas ocasiões me tocam a sensibilidade para que eu escreva. Enfim, a indagação é: quando bate a inspiração, como e por que.

Quando digo que não bebo, quase ninguém acredita. Quando falo que preciso apenas estar em “estado de graça” para escrever, acham esquisito.

A maioria das pessoas acredita que a poesia flui quando aumenta a dosagem alcoólica. Muitos me chamam de boêmio (...alegre e despreocupado com o futuro; desambicioso. Segundo o Novo Dicionário de Aurélio da Língua Portuguesa. 2ª. edição) e que levo a vida tomando umas e outras para viabilizar a sensibilidade de escritor, poeta, jornalista e radialista.

Não. Nunca tive “boas relações” com bebidas alcoólicas. Sou realmente noctívago, por necessidade de tempo. É à noite que escrevo meus textos poéticos, mesmo que os temas me toquem o sentimento durante o dia; realizo pesquisas; esboço artigos e comentários e utilizados em reuniões as mais diversas.

É à noite que aguçam na minha memória as imagens das divas, das musas e dos amores platônicos que me inspiram à escrita, real ou ficcional. No silêncio das horas mortas o sussurro do tempo pode se transformar em poesia, o toque do pingo da chuva no telhado ecoa no meu íntimo e me faz penetrar nas emoções que movem o meu prazer.

Não me rendo ao espetáculo, mas à emoção…

Não me rendo às palavras, mas ao sentimento,

Rendo-me aos sonhos para poder viver,

Para alimentar-me a alma…

Bebo a inspiração, para celebrar a poesia,

busco a perfeita rima para transformar

idéias em frases que possam exprimir

toda a minha saga poética.

Se chorando, rindo, solitário, amargurado,

vou deixando marcas no tempo

escrevendo em pedaços de papel

o que vai ao íntimo.

Não sou a voz dos outros,

ao mesmo instante em que

sou tu, sou eu, somos nós em cada poema.

Talvez sejamos a voz do coletivo,

que em sentimento uno

expressamos comportamentos íntimos

que se transformam em emoções.

Eu, você, nós todos cantamos nossos cantos.

e às vezes em pratos, alma agitada,

fazemos do céu o nosso leito,

o luar, a nossa luz.

A nossa estrada assemelha-se a um

manto, que nos reveste, e que nos conduz

à sapiência e, então, escrevemos em papéis,

passagens resumidas de nossas vidas…

em forma de poesia...

Fechando esse momento de inspiração, numa cidade que respiramos a poesia, o romantismo, saudamos a ilha berço:

Oh! Ilha querida
Das lendas e sobradões; Da Mãe D’água, Currupiras,
Saci-Pererê, Mula-sem-cabeça, mexendo com as emoções.
Das festas do Divino, danças de
São Gonçalo, Lelê, São Benedito, com o tambor de crioula.
Do urro do bumba-meu-boi;
Upaon-Açu, dos guerreiros, das vitórias seculares,
Do milagre da transformação da areia em pólvora...
São Luís, Atenas Brasileira.
Ilha do Amor, Capital Timbira, Terra Altaneira, de tanto fulgor.
São Luís do manuê, da canjica,
Da tiquira, da gengibirra...dos bondes,
Das ruas da Palma, onde está a casa onde nasci, 

Veado, Prazeres,

Do sol, da Manga, Trapiche, Coqueiros...
Teus becos têm histórias
Como as da Lapa, do Couto, do Burgo, de tantas memórias.
Das fontes que guardam segredos,
A do Ribeirão, da Pedras, do Bispo.
Da serpente monstruosa,
Ou das águas límpidas que matam as sedes...
São Luís dos 44 graus, 18 minutos, ao Oeste de Greenwich,
Dos 2 graus, 32 minutos ao Sul do Equador...
Não a Jamaica Brasileira,
Mas a São Luís terra de gente guerreira
Eterna “Ilha do Amor”.

*Carlos Alberto Lima Coelho é poeta, jornalista e escritor


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