sábado, 2 de novembro de 2024

O começo da revanche - Artigo de Ruy Castro, jornalista e escritor


O começo da revanche

Ruy Castro* 

Barra pesada à frente. Se Donald Trump for eleito presidente dos EUA na próxima terça-feira (5), um de seus primeiros atos será anistiar os desordeiros que ele instigou a invadir o Capitólio, em Washington, no dia 6 de janeiro de 2021. No Brasil, Jair Bolsonaro pede aos deputados anistia para os golpistas que quase demoliram a Câmara no dia 8 de janeiro de 2023, em Brasília. E, de passagem, como parte do pacote, pede anistia para si próprio, o que zeraria sua inelegibilidade e lhe permitiria candidatar-se em 2026.

Em sua defesa dos invasores do Congresso, do Planalto e do STF, Bolsonaro alega que eram patriotas que foram confundidos com criminosos ao lutarem por seus "ideais": pessoas humildes, pais de família, mães de seis filhos, idosos em cadeira de rodas. Não se sabe com quem aquelas senhoras deixaram os seis filhos para irem estripar poltronas ou como cadeirantes foram tão eficientes em vibrar porretes contra vidraças indefesas.

Caso consigam seus intentos, Trump e Bolsonaro estarão abrindo as portas para levantes contra qualquer medida do desagrado das massas, de direita ou de esquerda. Quem poderá criticá-las por tentarem dissolver na marra a tal medida? Washington viverá sob o signo do faroeste; Brasília, do cangaço. Armamento para as turbas não faltará —EUA e Brasil já são arsenais.

Se Trump vencer, os americanos terão saudade de sua primeira gestão. Tratará o pais como as mulheres que atacava no elevador, metendo-lhes a mão por baixo das saias. A anistia aos vândalos será só o começo da revanche. Seu ex-vice, Mike Pence, que barrou sua tentativa de melar a derrota para Joe Biden em 2020, será enforcado. Os porto-riquenhos, atirados ao mar. Os mexicanos terão de cavar túneis debaixo do muro para cruzar a fronteira. Mesmo os imigrantes legalizados serão castrados para impedir a procriação.

Quanto a Bolsonaro, sua anistia parecia remota. Não é mais. Setores do PT consideram que, por sua alta rejeição, ele será mais fácil de derrotar em 2026 do que outros nomes da direita, donde tramam para viabilizá-lo. Atitude de um partido a caminho mesmo do Z4.

Folha de São Paulo, 31/10/2024

Ruy Castro é jornalista, escritor, acadêmico da Academia Brasileira de Letras


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