Por Dom Gil Antônio Moreira - Arcebispo Metropolitano de Juiz de
Fora – MG
Há ricos que são pobres e pobres que são ricos. A diferença
está na alma e não no corpo e nem nas contas bancárias. Riqueza é um conceito
bastante sutil. Os que são materialistas e pensam rasteiramente consideram
ricos apenas os que mais possuem bens e acumulam dinheiro. Esta é a riqueza que
as traças comem e a ação do tempo corrói. A morte põe sobre estas pessoas e
suas propriedades uma pá de cal.
Há, contudo, pobres que são ricos de alma e têm suas vidas
impregnadas de riquezas imateriais. Esses levam para além do túmulo valores que
perduram para a eternidade e se perpetuam nas pessoas que deles se
beneficiaram. Felizes os que têm um coração de pobre, porque deles é o reino
dos Céus (Mt 5, 3), afirmou Jesus.
Há também ricos de bens materiais, que se deixam invadir
pelos sentimentos nobres do cristianismo e que se fazem pobres para utilizar
seus bens para praticar o amor, a justiça e dar alívio aos que sofrem. Entre
tantos da história cristã, destaca-se, na idade média, a figura de Edwiges, a
Rainha que se santificou pela sua caridade, pela capacidade de socializar seus
bens e tirar grande número de pessoas da indigência. Nasceu em 1174, na região
da Baviera (Alemanha), casou-se com o príncipe Henrique da Silésia (hoje
território polonês) e teve sete filhos. Depois de viúva, se consagrou inteiramente
a Deus no convento de Trebnitz, Polônia, onde sua filha Gertrudes era
Superiora, a quem passou a obedecer. Viveu na pobreza, sendo senhora de grandes
posses, tudo utilizando para benefício dos outros. Construiu casas para os
pobres, asilos, hospitais, centros de recuperação, conventos, igrejas e
ofereceu grandes somas de suas posses para pagar dívidas de pessoas que não
tinham como saudar seus compromissos, inclusive tirando da cadeia muitos
condenados por este motivo.
Viveu para Deus e para o próximo, na oração, na penitência,
na caridade. De altíssima vida mística, manteve sempre grande devoção à
Eucaristia, nunca perdendo missa nos dias de preceito, divulgando com denodo a
espiritualidade da santidade dominical.
Eis a razão pela qual Jesus elogiou os que não se deixam
enganar pela ilusão das riquezas materiais, exclamando: Como é difícil para os
que se apegam às riquezas entrar no reino dos céus! (Mc 10, 23).
As riquezas, quando geram apego e materialismo, podem ser
causa de ruína e condenação; mas o uso delas para o altruísmo, a caridade, a
bondade, a misericórdia pode salvar almas e levar para o céu aqueles que delas
souberem utilizar de forma não egoísta.
A estes, o Senhor afirmara: Ajuntai tesouros no céu, onde a
traça e nem a ferrugem consomem, e nem os ladrões não minam e nem roubam (Mt 6,
20).
Edwiges faleceu a 15 de outubro de 1243. Foi logo venerada
como santa. Canonizada poucos anos depois, pelo Papa Clemente IV, foi sempre
invocada como Padroeira dos Pobres e dos Endividados. Sua festa litúrgica foi
fixada para o dia 16 de outubro de cada ano.
A vida desta rainha que se fez voluntariamente serva dos
pobres e sofredores é mais um sinal de Deus colocado no coração dos homens e
das mulheres; a capacidade de não se deixarem sucumbir pela ilusão das riquezas
materiais e salvar os de coração nobre e iluminados pela sua Palavra.
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