Do DN
Primeiro-ministro foi a Fort McMurray dar apoio às equipas de emergência e à população da cidade destruída pelo fogo. Uns saudaram a atitude, outros criticaram a demora.
A chefe do governo de Alberta, Rachel Notley, conduziu Trudeau pelas zonas destruídas pelo fogo |
Pela janela do helicóptero, Justin Trudeau pôde ver bairros
inteiros destruídos pelo fogo, árvores retorcidas e o chão calcinado pelas
chamas. Quando finalmente aterrou em Fort McMurray, o primeiro-ministro
canadiano não escondia o choque com a realidade de um incêndio que na semana
passada destruiu 2400 edifícios e obrigou à retirada de 94 mil pessoas.
"Acho que os canadianos ainda não perceberam o que
aconteceu. Sabem que houve um incêndio. E agora ouviram a excelente notícia de
que grande parte da cidade foi salva", explicou Trudeau numa conferência
de imprensa. De blusão azul e vermelho e botas, o primeiro-ministro canadiano
saudou o trabalho das equipas de emergência que evitaram que a tragédia fosse
bem pior e visitou as zonas sinistradas com a chefe do governo da província de
Alberta, Rachel Notley.
Com este mega incêndio - cujas dimensões lhe valeram a
alcunha de "A Besta" -, Trudeau enfrentou o primeiro grande desafio
do seu mandato. Eleito em outubro de 2015 com uma surpreendente maioria
absoluta, o jovem líder dos liberais tomava posse a 4 de novembro diante de um
governo multicultural e com metade dos cargos ocupados por mulheres
"porque estamos em 2015", como o próprio explicou.
Desde então, Trudeau conseguiu gerar um entusiasmo tal -
dentro e fora do Canadá - que muitos recuperaram a expressão
"Trudeaumania", usada nos anos 70 e 80 para se referir ao seu pai,
Pierre Trudeau, primeiro-ministro por duas vezes. Mas passados seis meses, o
fogo de Fort Murray valeu-lhe as primeiras críticas mais fortes.
"Um governo que é a imagem do Canadá"
Enquanto alguns elogiaram o facto de Trudeau não ter usado o
incêndio de Fort McMurray como oportunidade política, mantendo-se afastado
enquanto as equipas de socorro faziam o seu trabalho, outro criticaram o facto
de ter demorado mais de uma semana a visitar o local. Sobretudo depois de ter
recusado a ajuda internacional proposta por EUA, Rússia, México, Austrália ou
Israel. Nas redes sociais, os internautas não esconderam a surpresa com a
decisão de Trudeau, numa altura em que o fogo ainda não estava controlado.
"A sério? Devíamos aproveitar toda a ajuda possível. Tropas no
terreno!", escreveu uma utilizadora no Twitter.
Em Edmonton, capital da Alberta, Trudeau prometeu ainda
estender o acesso dos trabalhadores locais aos subsídios estatais. Esta medida
já fora implementada em março noutras regiões afetadas pela crise provocada
pela queda do preço do petróleo. Na província de Alberta, as grandes empresas
petrolíferas cortaram milhares de empregos, mas a baixa nos preços afetam todas
as indústrias ligadas a este sector - dos bancos às companhias aéreas.
Consciente da dependência da economia canadiana do petróleo,
Trudeau garantiu no último Fórum Económico Mundial de Davos. "O meu
antecessor [o conservador Stephen Harper] queria que conhecessem o Canadá pelos
seus recursos [petrolíferos]. Eu quero que saibam que o Canadá está cheio de
outros recursos". E aproveitou para saudar uma "população diversa e
criativa, uma excelente educação e sistema de saúde, além de boas
infraestruturas", antes de sublinhar a "estabilidade social, económica
e governativa" do seu país.
Ator, pugilista tatuado e pai de família. O novo líder do
Canadá
Tudo isto está agora ameaçado pela queda do preço do
petróleo que depois de ter chegado aos 120 dólares por barril, chegou a estar
abaixo dos 30, andando agora perto dos 48. Com preços tão baixos, torna-se
pouco viável extrair o chamado petróleo das areias - um processo bastante caro.
O incêndio em Fort McMurray veio agravar o problema, tendo
levado à suspensão da exploração de petróleo na Alberta e ao encerramento das
refinarias da província, provocando uma redução de um terço nas exportações
petrolíferas do Canadá. Uma situação que deixa o governo federal sob pressão,
com a primeira-ministra de Alberta a ganhar novos argumentos na sua defesa da
construção de um oleoduto que leve o petróleo de Alberta para os mercados
externos.
Popularidade recorde
Apesar de ter a economia ameaçada pela queda do preço do
petróleo e de alguns analistas questionarem ter apresentado um orçamento que
prevê um aumento do défice, privilegiando o investimento público, Trudeau
parece ainda conseguir manter a lua-de-mel com os canadianos. Segundo uma
sondagem do instituto Ekos para a CBC News se hoje voltassem às urnas, os
eleitores do Canadá dariam 46,5% dos votos aos liberais de Trudeau, mais sete pontos
percentuais do que conseguiram nas eleições de outubro.
O próprio chefe do executivo, num outro estudo do Forum
Research, consegue uma aprovação de 58%, uma subida de dez pontos em relação à
última sondagem antes da sua vitória nas eleições. Trudeau faz por seu lado um
balanço positivo do seu primeiro meio ano à frente do governo, mesmo se admitia
há dias ao Le Devoir: "É sempre possível fazer melhor. E temos mais
trabalho pela frente do que atrás de nós".
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