A dor de qualquer ser humano clama a Deus e onera a
consciência de quem se deseja humano.
1. Nós, bispos do Regional Leste 1, que abrange as dioceses do
Estado do Rio de Janeiro, movidos pela Fé e pela Esperança, manifestamos nossa
angústia diante das inúmeras formas de sofrimento humano pelas quais a
população do Estado vive atualmente. Como pastores, não podemos deixar de nos
sentir afetados pelas lágrimas que brotam de tantas situações precárias que atingem,
entre outras, as áreas da saúde, educação, alimentação, segurança, moradia,
emprego, não recebimento de salários e aposentadorias.
2. Neste sentido, não podemos deixar de exortar os que mais
diretamente têm a responsabilidade de encontrar com rapidez soluções
estruturais para a triste realidade que atinge nossa gente. Investidos no poder
público em seus diversos âmbitos, têm diante de si, a responsabilidade moral e
legal de buscar soluções, devendo fazê-lo através da união de forças, do
diálogo e também da criatividade, dentro do espírito democrático e pacífico que
marca nossa nação.
3. Em momentos de grandes dores, podemos nos fechar em embates
teóricos ou ideológicos, correndo até mesmo o risco de nos envolvermos em
posturas que ultrapassem os limites do bom senso, ingressando nas raias da
violência. Por isso, clamamos para que o empenho de cada um, desde o nível
pessoal até o institucional, seja sempre marcado pela paz, pelo diálogo e pela
colaboração mútua, em busca do bem comum.
4. Reconhecemos, em tudo isso, uma situação que não podemos
deixar de denominar como catástrofe social. O número de pessoas atingidas nos
habilita a assim considerar o quadro que se apresenta diante de nós.
Interpelados pelo Deus de Justiça, não podemos permanecer de braços cruzados e
insensíveis à dor de qualquer ser humano. Temos consciência de muitas das
causas da atual situação, clamamos por sua superação e consideramos urgente que
se olhe para as conseqüências que ferem a dignidade dos filhos e filhas de
Deus, atingidos de maneira ultrajante. Exortamos todos os católicos e as
pessoas de boa vontade, que sonham com um mundo mais humano, a que assumam sua
responsabilidade na busca e na concretização de soluções.
5. As primeiras soluções voltar-se-ão para o imediato, isto é,
para as dores que não podem esperar o dia de amanhã, aguardando os trâmites dos
planejamentos e das burocracias. O ponto de partida encontra-se em cada pessoa
cujo coração não se endureceu de tão acostumado a ouvir clamores, a enxergar
lágrimas. Por isso, na criatividade tão própria do povo brasileiro, cada um
encontre formas de ajudar a quem está bem próximo, ao alcance da mão e do
coração.
6. Este não é o momento de ficarmos apenas apontando
responsabilidades alheias, mas de agirmos, pensando no bem comum. Por isso, ouvindo
o clamor de nosso povo (cf Ex 3,7), conclamamos as comunidades católicas,
paróquias, movimentos e demais associações para que abram suas portas e saiam,
como uma igreja samaritana, uma igreja em campanha, uma igreja em missão, na
busca de quem está sofrendo as mais diversas formas deste momento tão peculiar.
Não se trata de aguardar quem venha bater à porta de nossas comunidades, mas,
ao contrário, colocando tudo em comum (cf At 2,44), sair ao encontro de quem
precisa, mobilizando os(as) batizados(as) a ações que, impulsionadas pela
criatividade do Espírito Santo, sejam capazes de aliviar a dor e a penúria.
7. Contemplando o mistério do Deus-Amor, que se fez pão descido
do céu, convocamos os católicos a participarem intensamente da Solenidade do
Corpo e Sangue de Cristo, a ser celebrada este ano no dia 26 de maio. Em cada
uma de nossas dioceses, haverá procissões e outros momentos em honra do
Santíssimo Sacramento. Além das orações para pedirmos perdão pelos pecados e
forças para a transformação do mundo, conclamamos os católicos a exercitarem,
de modo ainda mais generoso, o sentimento de partilha, recolhendo em cada
procissão ou outro evento, alimentos a serem imediatamente enviados a quem
necessita. Todos nós vivenciamos preocupações quanto ao dia de amanhã e, com
isso, corremos o risco de nos fecharmos em torno da proteção daqueles que
amamos. No entanto, consideramos importante alertar para o fato de que, em
Deus, amamos todos os seres humanos e o que acontece com um só ser humano,
afeta a toda a humanidade.
8. Finalmente, diante do Deus de Misericórdia, colocamo-nos
como servidores, partilhando a dor de cada coração que sofre, sonha e busca por
soluções. Nós não temos todas as respostas, mas temos o desejo de colaborar
para que as lágrimas sejam enxugadas, a alegria e a paz retornem aos corações,
a justiça e integridade reinem cada vez mais em nossa terra.
Que Deus nos abençoe e acompanhe.
Rio de Janeiro, 1º de maio de 2016.
Orani João Cardeal Tempesta, O.Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro
Presidente do Regional Leste 1 – CNBB
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