Do UOL, no Rio de Janeiro
Empreiteiras acertaram a divisão de obras de estádios da
Copa por meio de um cartel, segundo delações feitas por executivos da Andrade
Gutierrez. As informações constam da denúncia do Ministério Público Federal que
levaram à prisão do ex-governador do Rio de Janeiro Sergio Cabral. Entre as
arenas citadas, que supostamente fizeram parte das negociações entre
construtoras, estão Maracanã, Mineirão, Arena Amazônia e Estádio de Brasília.
Segundo os executivos da Andrade Gutierrez, houve uma
reunião entre todas as construtoras após o Brasil ter sido escolhido sede da
Copa-2014, o que ocorreu em 2007. Daí, saiu um acordo para divisão de obras
entre a empreiteira e a Odebrecht. Foi o que afirmou o executivo Clovis Primo
em depoimento de colaboração no Ministério Público Federal do Rio de Janeiro:
"Quando o Brasil foi escolhido para sediar a Copa do
Mundo de 2014, várias empresas interessadas nas obras necessárias reuniram-se
previamente para averiguar quais seriam os interesses de cada uma na tentativa
de fazer um conluio. O acerto prévio deu-se de maneira mais consistente entre
Odebrecht e Andrade Gutierrez, sendo que ambas deram cobertura à outra para
fraudar as licitações. Em decorrência do acerto, a Andrade Gutierrez venceu as
licitações para a construção de estádios em Brasília e Manaus", contou.
O Estádio de Brasília custou R$ 1,4 bilhão e foi o mais
caro da Copa. Um relatório do tribunal de Contas do Distrito Federal aponta
superfaturamento de R$ 431 milhões nas obras na arena. Já a Arena Amazônia
custou R$ 650 milhões.
A reunião entre empreiteiras logo após o Brasil ser
escolhido para sediar a Copa foi confirmada por outro executivo da Andrade
Gutierrez Rogerio Nora de Sá, que é investigado na Lava-Jato. Ele disse, no
entanto, que o acordo só vingou entre poucas empreiteiras.
"As conversas entre as empresas era (sic) o de
dividir as obras, mas esse acordo acabou não ocorrendo e restaram umas poucas
empresas, ou seja, CNO (Odebrecht), Via Engenharia, Carioca, Galvão, Queiroz
Galvão, OAS, Camargo Correa, interessadas no processo", disse o executivo.
No Rio de Janeiro, os vencedores da licitação foram a
Odebrecht e a Delta, o que já estava acertado previamente pelo ex-governador
Sergio Cabral antes da licitação, na versão dos executivos.
Posteriormente, a Andrade Gutierrez informou estar
interessada em participar das obras do Maracanã. Foram procurar Cabral. Ambos
dizem que lhes foi informado que era para tratarem com a Odebrecht sua inclusão
na obra. A partir daí, Clovis Primo marcou reunião com Benedito Junior, na
época vice-presidente da área de infraestrutura da outra construtora.
"Então o depoente acertou com Benedito que a AG
comporia o consórcio com 30% dos 70% que caberia à Odebrecht, perfazendo um
percentual de 21% do total; que a contrapartida seria a AG ceder parte do
consórcio a ser formado com a Odebrecht para o Mineirão, intuito que acabou não
se concretizando", relatou Primo.
Por essa versão, havia um acerto entre as construtoras
para que a Andrade Gutierrez ficasse com a obra do Mineirão. Mas, depois, a
construtora desistiu do projeto mineiro que se tornou uma PPP (Parceria
Público-Privada), e ficou com outra empresa. Mas a empreiteira acabou recebendo
um naco do Maracanã.
A obra do estádio começou estimada em R$ 430 milhões e
teve como custo final R$ 1,2 bilhão. Há acusações de superfaturamento sendo que
o TCE do Rio de Janeiro mandou reter R$ 200 milhões em pagamentos para as duas
empreiteiras por contas dessas denúncias.
Outro executivo da Andrade Gutierrez Alberto Quintães
confirmou, em depoimento, que a entrada da Andrade Gutierrez foi negociada com
a Odebrecht pois o Maracanã fazia parte de sua cota na divisão. "Com
relação à obra do MARACANÃ para a COPA de 2014 teve conhecimento que havia um
acordo nacional e que o depoente foi chamado para uma reunião com Rogério Nova
e Sergio Cabral no Palácio das Laranjeiras, onde foi pedido a Sergio Cabral
permissão para a AG entrar no consórcio CNO (Odebrecht)/Delta que ficaria com a
obra do Maracanã."
Até agora, na denúncia, executivos afirmaram ter pago
propina para Cabral por meio de mesadas e percentuais de obras. O MPF não citou
subornos a outros governadores nesta ação.
Na ação, os procuradores afirmam que o acordo de colaboração
com a Andrade Gutierrez "trouxe temas que ainda não eram objeto de
investigação criminal, dentre eles, a cartelização das empreiteiras para a
construção ou reforma dos estádios que sediariam as partidas da Copa do Mundo
de 2014".
As delações de executivos da Odebrecht estão em fase
final de homologação e devem acrescentar informações a essas acusações da
Andrade Gutierrez. O UOL Esporte ligou para os responsáveis pelo COL (Comitê
Organizador Local), que repassavam as ordens das Fifa para as obras de
estádios, mas não conseguiu falar com eles.
Procurado pela reportagem, o Governo do Amazonas afirmou
que "a obra em questão não foi realizada pela atual gestão" e que
"está disponível para colaborar com as investigações". A Odebrecht
também foi procurada e disse que não vai se comunicar sobre o caso.
O Governo de Minas Gerais também afirmou que as obras
foram realizadas em outra gestão, mas disse que está investigando o estádio.
"informamos que, embora não tenha conhecimento formal da citada denúncia,
o Governo do Estado é o maior interessado na elucidação do caso, haja vista
tratar-se de contrato assinado em 2010, antes do início desta administração –
tanto que está em curso, no âmbito da Controladoria-Geral do Estado, uma
auditoria relativa ao contrato de parceria público-privada do Mineirão",
diz o posicionamento.
O Governo do Distrito Federal, por sua vez, também
afirmou que as obras ocorreram nas gestões anteriores e que apoia investigações
sobre quaisquer desvios que possam ter ocorrido.
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