quinta-feira, 17 de novembro de 2016

O BRASIL SERIA OUTRO


Carlos Chagas

O marechal Castelo Branco havia fechado os velhos partidos políticos, num momento em que perdera a maioria no Congresso. Do maior deles, o PSD, à UDN, o PTB e outros, foram proibidos de funcionar. A ditadura autorizou só dois: o partido do “sim” e o partido do “sim, senhor”. Formaram-se a Arena e o MDB. Para a Aliança Nacional Libertadora correram os salvados do regime militar montes de parlamentares ávidos de aderir aos donos do poder. Sobraram os deputados e senadores impossibilitados de ficar com o governo e dispostos a agir como oposição consentida, que fundaram o Movimento Democrático Brasileiro.

Foram escolhidos os respectivos presidentes. Não sem motivos, o MDB optou por um desconhecido general, senador pelo Acre, Oscar Passos, herói da campanha da FEB, na Itália.

Logo vieram as eleições parlamentares e o general não se reelegeu. Assumiu o vice-presidente, Ulysses Guimarães, de São Paulo. Graças a ele, desapareceu a proposta de autodissolução do MDB, como reação à truculência da ditadura. Pelo contrário, ele organizou a resistência e enfrentou as forças do governo. Diante das eleições indiretas para presidente da República, foi lançado anti-candidato. Mesmo sabendo da eleição do general Ernesto Geisel, percorreu o país em memorável campanha. São de sua inspiração as páginas mais lindas da literatura política brasileira, na convenção que o indicou:

“A caravela vai partir. As velas estão pandas de sonho e aladas de esperança. Posto no alto da gávea pelo povo brasileiro, espero um dia poder anunciar: “alvíssaras meu capitão! Terra à vista! À vista a terra ansiada da liberdade!”

O tempo passou, a ditadura também.Custou muito pois as eleições continuaram indiretas. Nos estertores do regime militar, Ulysses liderou a campanha pelas “diretas já”. Perdeu. Seria o presidente ase o povo pudesse votar. Com as indiretas, elegeu-se Tancredo Neves.

Pouco depois, Ulysses sucumbiu à tragédia da vida, num desastre aéreo. Tivesse sido eleito, o Brasil seria outro.


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