Carlos Chagas
Chapeuzinho Vermelho entrou toda faceira no quarto da
Vovozinha, levando na cesta café com leite, queijo e uma maçã. A velha tirou a
cabeça dos lençóis e espantou a netinha. “Vovó, para que esses olhos tão
grandes?” “Para melhor te ver, minha querida”. “E essas mãos tão compridas?”
“Para melhor de abraçar, meu bem”. “E essa boca com dentes tão feios?” “Para
melhor te comer, meu petisco!” A história para crianças não termina assim,
porque logo vieram os caçadores, mataram o lobo e retiraram a Chapeuzinho e a
avó de sua barriga, ficando todos felizes.
A historinha se conta a propósito da chegada dos líderes
dos partidos ao gabinete do chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, ontem. Tinham
sido convocados para cuidar da reforma da Previdência Social. Espantaram-se
quando ouviram dele apavorantes ameaças no caso de o projeto do governo não ser
aprovado. Perderiam as benesses e vantagens, não teriam apoio nenhum e seriam
derrotados nas eleições do ano que vem. Cederam, dispostos a aceitar a proposta,
antes de ser deglutidos, quando um deles exclamou: “Vamos chamar os caçadores!”
Parece evidente a reação da base parlamentar oficial à
proposta que penaliza os assalariados e retira dos menos privilegiados os
derradeiros direitos ainda vigentes. Pior fica a situação quando se acrescenta
a reforma trabalhista.
O governo insiste e aterroriza o Congresso, diante do
horror das mudanças apresentadas sob a promessa de recuperação da economia
nacional. Ninguém escapará, nas eleições do ano que vem. Muito menos o
empresariado, iludido com as promessas de ser favorecido com o sacrifício das
massas. Elas são os caçadores, ávidos de arcabuzar quantos, como Eliseu
Padilha, imaginam sobreviver à anacrônica iniciativa das prerrogativas do Lobo.
FULMINADA A CAIXA DOIS
Quem faz as contas sobre a próxima decisão a ser adotada
pelo Supremo Tribunal Federal conclui pela condenação do Caixa Dois conforme
puxa a fila a opinião da presidente Carmem Lúcia: é crime mesmo. Nas
investigações que se seguirão, responderão quantos tiverem recebido esses
recursos ilícitos, tanto faz se em dinheiro podre ou não.
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