Rio de Janeiro (RV) - Vivenciando a 91ª Semana Eucarística em nossa arquidiocese com o tema “Somos família de Deus”, que nos preparou para o dia solene de Corpus Christi, tivemos os vários grupos, comunidades, movimentos, associações, clero, padres e diáconos, seminaristas e tantas outras representações com seu tempo de adoração eucarística para os pedidos de paz para nossa nação.
A CNBB recordou nestes dias o pedido de nossa Assembleia
Geral em fazer do Dia de Corpus Christi uma “Jornada de Oração pelo Brasil”,
que tem nos inícios o seguinte pedido:
Pai misericordioso, nós vos pedimos pelo Brasil!
“Estamos indignados diante de tanta corrupção e violência
que espalham morte e insegurança. Pedimos perdão e conversão. Cremos no vosso
amor misericordioso que nos ajuda a vencer as causas dos graves problemas do
País: injustiça e desigualdade, ambição de poder e ganância, exploração e desprezo
pela vida humana”.
Durante a Semana Eucarística tivemos vários momentos de
adoração, com vários grupos, associações, comunidades que se sucedem neste
Santuário Arquidiocesano, adorando a Jesus na Eucaristia, refletindo
particularmente que somos, como batizados, família de Deus. O nosso compromisso
enquanto família de Deus é inserir todos os batizados no anúncio, no testemunho
e na vivência do Evangelho e deste compromisso evangelizador.
No dia da
adoração das crianças da catequese, pastoral vocacional e alguns ministérios,
entre os quais o da consolação e da esperança, pudemos refletir um pouco sobre
a necessidade de sermos sinais de esperança em tempos melhores neste momento
nacional.
A Palavra de Deus do dia da semana nos norteou, na
reflexão neste momento importante da história que vivemos, para poder sair às
ruas e anunciar que conosco está Jesus vivo, com a Santa Eucaristia no Dia de
Corpus Christi. O livro de Tobias (Tb 12,1.5-15.20) nos lembra a situação de
uma família no exílio, longe de sua terra, que conserva os valores, as
tradições, as festas do seu povo. A leitura fala da intervenção do anjo, que
falará de tudo que Tobit viveu: quando deixou a mesa para sepultar os mortos, a
maldição de Sara e seus maridos, e a bênção no casamento de Sara com Tobias.
Nós estamos num mundo contrário aos valores cristãos e
que nos critica e ataca e, em alguns lugares, mata os cristãos. De certa forma,
hoje estamos num exílio existencial, ou seja, vivemos em um país de maioria
cristã onde somos condenados ao silêncio obsequioso de opiniões porque temos
uma fé, além das tantas contestações e legislações e decisões judiciárias
contra os valores cristãos. Descobrimos que apesar de viver em terras que no
início se celebrou uma primeira missa ao chegarem os portugueses no Brasil,
hoje, infelizmente, se vive uma ideologia em que se confunde o estado laico com
o laicismo e que querem impedir as pessoas de viverem com coerência a sua fé.
Mais maléfico ainda é o conceito de que quem tem fé é um cidadão “alienado e de
segunda categoria”. Na realidade querem sepultar as raízes cristãs de nosso
país e, consequentemente sepultar a ética da vida cotidiana. Este é um plano
ideológico e filosófico que já entrou na mentalidade em geral pelos meios de
comunicação, pela educação e que se faz cultura hoje. Isso tem sido divulgado
muito pelas mídias sociais. A Igreja deve pensar seu papel e sua missão para
manifestar a verdade que anunciamos com o Cristo Ressuscitado, pois sabemos que
nEle está a via e salvação.
Tobias (ou Tobit) e Sara estavam em lugares adversos, não
confortáveis, mas não impediram, mesmo sob ameaça, de continuar a viver sua fé.
Ele arriscou a sua própria vida para fazer o bem. A palavra é categórica: “Pois
bem, quando tu e Sara fazíeis oração, eu apresentava o memorial da vossa prece
diante da glória do Senhor. E fazia o mesmo quando tu, Tobit, enterravas os
mortos. Quando não hesitaste em levantar-te da mesa, deixando a refeição e
saindo para sepultar um morto, fui enviado a ti para te pôr à prova. Mas Deus
enviou-me, também, para te curar a ti e a Sara, tua nora. Eu sou Rafael, um dos
sete anjos que permanecem diante da glória do Senhor e têm acesso à sua
presença”. (Cf. Tb 12,12-15)
Diante das pressões contrárias de um Estado que quer
manipular as crianças e adolescentes nas escolas, os pais são chamados para
orientarem seus filhos na evangelização e educação da nossa fé. Isso não
podemos renunciar, apesar de uma minoria barulhenta que quer constranger a
maioria dos batizados.
Não é tão simples e tão fácil hoje anunciar os valores
cristãos. Vamos, pois, proclamar o valor da vida, o valor do matrimônio, o
valor da vida religiosa, que num passado não muito distante era imbuído no
clima do país e era natural em nossas famílias. Com as ideologias ateias e
contra a vida cristã vai se tentando apagar na cultura, na educação e na
sociedade para que se apaguem os valores cristãos, indo contra a vontade dos
pais.
Quando não se leva em consideração a ética, o amor ao
outro, o respeito pela pessoa humana se colhe este quadro sombrio em que
vivemos na vida pública do país, e da violência e guerras no mundo. Somos
chamados a testemunhar a nossa fé em meio das contradições da nossa vida, tendo
consciência de que estes valores cristãos são essenciais na vivência da nossa
fé.
Vamos viver na simplicidade, na abertura, e tomar cuidado
com os doutores da lei, conforme alerta o Evangelho: Jesus dizia, no seu
ensinamento, à multidão: “Tomai cuidado com os doutores da Lei! Eles gostam de
andar com roupas vistosas, de ser cumprimentados nas praças públicas; gostam
das primeiras cadeiras nas sinagogas e dos melhores lugares nos banquetes. Eles
devoram as casas das viúvas, fingindo fazer longas orações. Por isso, eles
receberão a pior condenação”. (Cf Mc 12,38-40)
Lembremos do óbolo da viúva: as moedinhas simples da
viúva agradaram a Deus muito mais, porque ela deu tudo o que tinha.
Sejamos como a viúva que doa, com generosidade, tudo o
que tem. Nossa vida deve ser uma vida de simplicidade, de doação, doar o seu
tempo, que servem, que se colocam a serviço. A viúva pobre faz tudo. No
Evangelho “Jesus estava sentado no Templo, diante do cofre das esmolas, e
observava como a multidão depositava suas moedas no cofre. Muitos ricos
depositavam grandes quantias. Então chegou uma pobre viúva que deu duas pequenas
moedas, que não valiam quase nada. Jesus chamou os discípulos e disse: “Em
verdade vos digo, esta pobre viúva deu mais do que todos os outros que
ofereceram esmolas”. “Todos deram do que tinham de sobra, enquanto ela, na sua
pobreza, ofereceu tudo aquilo que possuía para viver”. (Cf. Mc 12,41-44)
Somos chamados neste mundo, em que vivemos quase que
exilados, para que possamos, com o pouco que temos, ser o nosso tudo para
continuar servindo, anunciando e proclamando a Palavra de Deus.
Vamos celebrar, com grande entusiasmo, a Solenidade de
Corpus Christi (dia de preceito), antecedida com a 91ª. Semana Eucarística,
manifestando nossa adesão a Cristo e seus ensinamentos. Hoje, quando em alguns
lugares algumas pessoas fazem vandalismos com a Santa Eucaristia, queremos ser
uma grande multidão para testemunhar no Rio de Janeiro que Jesus, caminhando
conosco, na Eucaristia, está vivo. Ele é a pedra angular, a mais importante da
humanidade, que faz o bem e caminha nos caminhos de Jesus, que são os caminhos
da verdade, da justiça e da paz!
Como nos pede a CNBB na oração pelo Brasil:
“Pai misericordioso, nós vos pedimos pelo Brasil! Vosso
filho Jesus está no meio de nós no Santíssimo Sacramento, trazendo-nos
esperança e força para caminhar. A comunhão eucarística seja fonte de comunhão
fraterna e de paz em nossas comunidades, nas famílias e nas ruas. Seguindo o
exemplo de Maria, queremos permanecer unidos a Jesus Cristo, que convosco vive,
na unidade do Espírito Santo. Amém”!
Como grande “família de Deus”, celebremos com alegria a
Solenidade de Corpus Christi!
Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de
Janeiro, RJ
Dom Orani João Tempesta
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Este blog só aceita comentários ou críticas que não ofendam a dignidade das pessoas.