Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte - MG
Advento é tempo de preparação para o Natal, quando todas
as pessoas são especialmente chamadas a reconhecer e a vivenciar a centralidade
de Jesus Cristo - o Salvador. Cristo é a
razão para se viver um Natal feliz e abençoado, como rezam os cartões e as
mensagens natalinas. Trata-se do sentido das confraternizações, motivo para uma
adequada qualificação que possibilite a vivência autêntica do Natal. Por isso mesmo, qualificar-se para celebrar o
nascimento do Menino Jesus deve ser compromisso pessoal, familiar, vivido no
ambiente de trabalho, na comunidade de fé e em todos os outros contextos
possíveis. E essa adequada preparação vai muito além do compromisso de ir às
compras, enfeitar as casas ou divertir-se. Significa compreender, ao proclamar
a Palavra de Deus, que este é o tempo do Advento de alianças.
Na solidão, ninguém avança. As alianças são
imprescindíveis. Programas e projetos dependem de parcerias, do engajamento de
pessoas. Assim, percebe-se uma urgência: a necessidade de se derrubar os
obstáculos que atrapalham as participações em iniciativas orientadas para o
bem. É ilusório pensar que a força está no dinheiro, que se esvai, acaba.
Muitas vezes, o dinheiro deixa sem alicerce quem fundamenta a própria vida no
compromisso de acumular bens. Afinal,
quem adota essa postura cultiva jeitos e hábitos de viver que, frequentemente,
agridem o meio ambiente e desrespeitam os que estão na penúria, pobres que
vivem nas ruas, sem cuidados básicos, morrendo de fome. Ilusão também é acreditar que as alianças
dependem de poderes conquistados – a partir de títulos ou de lugares que se
ocupa no organograma de instituições. Quem exerce o poder o faz dentro de um
contexto temporal passageiro.
Infelizmente, consolidou-se um entendimento torto a
respeito de alianças, relacionando-as ao conchavo, à artimanha para alcançar,
quase sempre ilicitamente, determinadas conquistas pessoais. Para essa
finalidade, não raramente legitima-se o que é imoral, afrontam-se valores
inegociáveis e o bem comum. Assim são validados desmandos e destroem-se os bens
que pertencem a todos. O antídoto capaz de corrigir inadequados modos de se
buscar alianças está no paradigma deste tempo, o Advento. Oportunidade para
compreender a centralidade de Cristo e, consequentemente, viver e reconhecer no
Natal a proposta de aliança que o Salvador do mundo apresenta à humanidade.
Compreendida essa proposta, todos são convocados a engajar-se para efetivá-la,
consolidando-a como paradigma de todas as alianças.
A autêntica e nova aliança é selada pela encarnação do
Verbo, Jesus Cristo, o Filho de Deus, salvador e redentor, consolidada na
radicalidade da oferta de sua vida, no ápice de sua crucificação, morte e
ressurreição. Diante do que ensina Cristo, cada pessoa deve compreender-se como
servidor da vida e de todos os irmãos, particularmente dos mais pobres. No
modelo da aliança de Cristo está o sentido que permite compreender a vida como
dom. Nesse contexto, todo interesse mesquinho e espúrio é descartado.
Alcança-se uma liberdade interior ante o dinheiro e o poder, para fazer valer
sempre e unicamente a verdade e o bem de todos. A aliança selada a partir de
Jesus tem força para transformar inteligências e corações, dinâmicas sociais e
culturais. Fundamenta a civilidade nas relações. Cultiva a competência para que
todos se sintam como integrantes de um corpo – a humanidade – e se vejam como
responsáveis por mantê-lo íntegro.
Educativas e indicativas são as imagens usadas pelo
profeta Isaías para iluminar a compreensão do povo, chamado a selar a aliança
com Deus e, a partir dessa aproximação, capacitar-se para as alianças entre
povos, grupos, pessoas e segmentos diversos, cultivando a fraternidade e a
solidariedade que curam o mundo. A aliança é o brotar de uma haste que nasce do
tronco seco, fazendo surgir o rebento de uma flor. Ser autenticamente fiel ao que
propõe Cristo é o caminho para a nova ordem, aquela que faz o inimaginável: o
lobo e o cordeiro vivendo juntos, o leopardo deitar-se ao lado do cabrito,
bezerro e leão comendo juntos, o bebê brincando sobre o ninho da serpente
venenosa.
As alianças que se alicerçam no modelo de Cristo farão da
cidade uma fortificada edificação, com portas abertas a um povo justo,
cumpridor da palavra, firme em seus propósitos, conservado na paz porque confia
em Deus, a sua rocha eterna. Alcançar essas alianças pressupõe disposição e
esforço para dissipar do próprio coração todo o ódio e rancor, empenhar-se no
diálogo que requer atenta escuta do outro, desvestir-se de toda a hipocrisia
para trajar a armadura da misericórdia e do bem. Advento, este é o tempo de
conversão e reconciliação, para que ninguém se torne pedra de tropeço, mas
alavanca de alianças, com qualidade para abrir caminhos, oferecer respostas às
crises, cultivar a participação igualitária e solidária na sociedade.
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