RIO - Um homem que prestou serviços a uma milícia atuante
na zona oeste do Rio de Janeiro procurou a polícia para acusar o vereador
Marcello Siciliano (PHS) e o ex-policial militar Orlando Oliveira de Araújo de
planejar a morte da vereadora Marielle Franco (PSOL). Ela foi assassinada em 14
de março no centro do Rio, com o motorista Anderson Gomes. O homem disse à polícia
ter testemunhado pelo menos quatro conversas entre Siciliano e Araújo, nas
quais a dupla debateu o assassinato da vereadora. As informações sobre o
depoimento prestado por essa testemunha à Delegacia de Homicídios do Rio foram
divulgados na noite desta terça-feira pelo site do jornal O Globo.
Segundo o jornal, essa testemunha narrou à polícia que as
conversas sobre a morte de Marielle começaram em junho de 2017. O motivo: a
parlamentar do PSOL passou a promover ações comunitárias em bairros da zona
oeste que, embora controlados por traficantes, seriam de interesse da milícia.
Segundo o jornal carioca, a testemunha relatou que a milícia chefiada por
Araújo domina a Vila Sapê, favela de Curicica a partir da qual os milicianos
atacam traficantes da Cidade de Deus. Marielle teria começado a realizar ações
sociais na Cidade de Deus, uma das bases eleitorais de Siciliano, que segundo a
testestemunha temia perder votos. A intervenção de Marielle também atrapalhava
os planos de Araújo de expulsar os traficantes e dominar a comunidade.
As conversas sobre o assassinato de Marielle teriam
começado em junho passado, mas só em fevereiro deste ano Araújo, preso na
Penitenciária Bandeira Stampa (Bangu 9) desde outubro passado, teria dado a
ordem para o crime. Segundo O Globo, a testemunha afirmou que o ex-PM ordenou
que dois homens de sua confiança clonassem um carro - os responsáveis por esse
serviço já teriam sido identificados pela Polícia.
O Cobalt prata clonado chegou a circular antes do crime na
comunidade da Merck, na zona oeste, outra favela dominada pela mílicia de
Araújo.
Segundo a testemunha, um homem identificado como Thiago
Macaco foi incumbido de identificar a rotina da vereadora, como os lugares que
ela costumava frequentar e os trajetos que usava regularmente, inclusive ao
sair da Câmara de Vereadores.
Marielle foi morta na Rua Joaquim Palhares, no Estácio
(região central do Rio), quando seguia para casa, na Tijuca (zona norte). Ela
havia saído de um evento na Lapa (centro) e estava em um Cobalt branco,
dirigido por Anderson Gomes. Uma assessora a acompanhava. Na esquina da rua
Joaquim Palhares e João Paulo I, um Cobalt prata emparelhou com o veículo onde
a vereadora estava e foram disparados vários tiros. A vereadora e o motorista
morreram na hora. A assessora sobreviveu ilesa. Os criminosos fugiram.
Depois da morte de Marielle, pelo menos dois outros
assassinatos foram cometidos como “queima de arquivo”, segundo a testemunha.
Uma dessas vítimas foi Carlos Alexandre Pereira Maria, de 37 anos, o Alexandre
Cabeça, morto em 8 de abril. O corpo dele foi abandonado em um carro na Estrada
Curumau, em Boiúna, na região de Jacarepaguá (zona oeste). A outra vítima seria
o PM reformado Anderson Claudio da Silva, de 48 anos, atingido por vários
tiros, inclusive de fuzil, ao entrar em seu carro, na Praça Miguel Osório, no
Recreio dos Bandeirantes (zona oeste), em 10 de abril.
A testemunha contou à polícia que instalava equipamentos de
TV a cabo em uma favela e estava regularizando o serviço quando a área foi
dominada pela mílicia liderada por Araújo. A testemunha teria sido ameaçada de
morte e obrigada a trabalhar para os milicianos. “Fui coagido: ou morria ou
entrava para o grupo paramilitar. Virei uma espécie de segurança dele. Também
ficava responsável por levar o filho para a escola; acompanhava a mulher de Orlando
para compras em shoppings”, contou a testemunha à Delegacia de Homicídios do
Rio, segundo “O Globo”. Ele teria trabalhado para a milícia por cerca de dois
anos.
Resposta. Procurado pela reportagem, o vereador Marcello
Siciliano não havia se manifestado até as 20h30 desta terça-feira. O Estado não
localizou a defesa do ex-PM Orlando Oliveira de Araújo para se pronunciar sobre
as acusações.
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