Ameaças enviadas por uma rede social fizeram com que uma
adolescente de 13 anos cortasse o próprio pulso nesta segunda-feira em Jaboatão
dos Guararapes, em Pernambuco. De acordo com a Delegacia de Polícia de Crimes
Contra a Criança e Adolescentes e Atos Infracionais, as mensagens diziam que se
a menina não se machucasse, sua família morreria. No momento em que a jovem se
feria, sua mãe estava em casa e a impediu de continuar.
A adolescente contou à delegada Vilaneida Aguiar,
responsável pelo caso, que recebeu uma solicitação de amizade no Facebook, no
início do mês. Tratava-se de um perfil com a foto de uma obra de arte japonesa
que ficou conhecida na internet como "Momo". A apropriação da imagem
dessa escultura, uma mistura de mulher com pássaro, tem sido usada para
assustar jovens nas redes sociais.
— Cerca de 10 dias antes (de a adolescente cortar o
pulso), esse perfil vinha amigavelmente conversando com ela. (A relação) começou
normalmente, dizendo informações pessoais, e sem fazer nenhuma ameaça. Só que
durante esse tempo, a mãe notou comportamentos estranhos da filha, porque ela
ficava muito tempo no quarto e se cobrindo com lençol — afirmou a delegada.
Na segunda-feira, porém, a menina sentiu medo quando
recebeu uma ameaça que dizia: "Se você não se cortar, vou matar toda sua
família". A delegada explicou que o perfil já tinha as informações sobre
onde ela morava e com quem. Por isso, a adolescente acabou obedecendo, sem ter
contato a ninguém sobre o que lhe haviam enviado.
— A sorte é que a mãe tem acesso ao celular da filha. Ela
viu o perfil da Momo e o bloqueou imediatamente. O aparelho foi encaminhado
para a perícia, que vai buscar resgatar a conversa e identificar a pessoa por
trás das mensagens, mas nós identificamos o perfil utilizado por este esse
indivíduo, que pode ser homem ou mulher. Acreditamos que seja uma pessoa adulta
que soube manipular a adolescente, pois começou de forma amigável e ganhou sua
confiança. Quando já teve um certo domínio, fez a ameaça — disse Aguiar.
Os investigadores não descartaram a hipótese de que o
responsável pelas ameaças seja um conhecido da adolescente. A localidade
indicada nesse perfil da Momo é do mesmo estado, onde já foi registrado outro
caso semelhante. A mãe de um menino de 9 anos disse à polícia que seu filho se
enforcou no dia 15 de agosto, em Recife, após ser influenciado por desafios na
internet. Segundo a mulher, ele já havia lhe mostrado uma foto da Momo. A
criança chegou a ser socorrida, mas morreu no dia seguinte. Seu celular também
foi enviado à perícia.
No caso da adolescente de Jaboatão dos Guararapes, a 21
quilômetros da capital pernambucana, o perfil com quem ela conversava tem na
lista de amigos várias pessoas com idades próximas a dela que parecem morar em
outras partes do Brasil. De acordo com Aguiar, não houve outros casos como esse
na cidade, mas ela enfatizou a importância de os pais vigiarem o conteúdo que
seus filhos adolescentes acessam na web.
— Os pais têm que ter muito cuidado. Fizemos uma palestra
sobre bullying e abuso sexual em uma escola municipal nesta quarta-feira e,
numa turma com alunos de 12 anos, cerca de 80% deles levantou a mão quando
perguntamos se tinham redes sociais. Então é necessário que os pais tenham
acesso ao celular dos adolescentes para monitorar. Eles não têm a maturidade
ainda de se defenderem. Ao menor sinal de uma diferença no comportamento, é
importante que os pais conversem com seus filhos. Muitas vezes, eles não querem
dizer o que está acontecendo. A recomendação é levar a um psicólogo e, se não
houver condições, procurar o conselho tutelar. Mas é necessário que tomem
alguma atitude — aconselhou a delegada.
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