segunda-feira, 14 de abril de 2025

Depois do slogan, o silêncio do real - Alex Pipkin, Professor PhD em Administração


Depois do slogan, o silêncio do real 

Alex Pipkin, Professor PhD em Administração

         Sempre fui um opinador compulsivo - desses que escrevem como quem respira, movido pela urgência de dizer o que muitos apenas pensam em silêncio. Escrevi inúmeros textos expressando minha crescente desilusão com a juventude. Não por falta de empatia, mas pelo incômodo em vê-la entregue, quase sem resistência, ao teatro decadente do progressismo do atraso. Jovens manipulados por slogans ocos, por pautas identitárias fabricadas em laboratório, por líderes que instrumentalizam sonhos legítimos em prol de agendas autoritárias. Mas algo tem mudado. Ainda é névoa, mas há nela um brilho. Vejo surgir, mesmo que timidamente, uma nova mentalidade. Uma fresta. Uma luz no fim do túnel.

Meu ceticismo não é de conveniência, que ensaia dúvida como performance intelectual. Observo pela lógica da realidade e uma dose de desalento o papel da juventude no teatro político contemporâneo. Vi jovens tomados por uma estética de revolução pronta para consumo, mobilizados mais pela fantasia do que pela realidade, encantados por causas que, ao fim e ao cabo, servem como biombo para os interesses de sempre: poder, controle, aparelhamento.

O lulopetismo é, nesse sentido, um exemplo acabado da farsa revolucionária que se traveste de esperança. Sob o pretexto de justiça social e emancipação dos povos, o que se vê - e o que não se vê - é a defesa sistemática de regimes autoritários, movimentos armados e ditaduras ideológicas. Quando o Hamas, reconhecidamente um grupo terrorista, promoveu um massacre brutal contra civis israelenses, o descondenado e comedor de “s”, presidente Luiz da Silva, não apenas deixou de condenar o crime. Pior! Ele comparou a legítima defesa de Israel à barbárie nazista contra os judeus no Holocausto. Um escárnio histórico e moral. Um delírio ofensivo que só revela o que de fato está por trás desse progressismo de fancaria: simpatia pelas sombras, desprezo pela verdade e um vício incurável pelo jogo sujo do poder.

Por muito tempo, acreditei que essa juventude estivesse perdida. Que fosse uma geração resignada a repetir os erros dos velhos com slogans novos. Mas algo inesperado começou a surgir.

Mesmo diante desse cenário de degradação moral e ideológica, meu ceticismo arrefeceu. Percebo uma juventude que começa a rejeitar essa encenação grotesca. Uma juventude menos encantada com a pirotecnia retórica dos extremos e mais interessada em algo banal, quase revolucionário: a entrega pragmática. A política como instrumento de soluções reais, não como espetáculo ou palco de cruzadas culturais intermináveis. Eles querem saúde de verdade, não lacração sobre o SUS no TikTok. Querem segurança no ir e vir, não discursos sociológicos para justificar o caos urbano. Querem um emprego digno, não um ministério para “juventudes” recheado de cargos e promessas.

Há uma espécie de nova névoa reveladora e alvissareira. A juventude anseia por uma mudança marcante na forma como a política é praticada, com evidências claras de entrega prática. Eles querem que a política seja focada na entrega tangível e concreta de necessidades básicas: salários mais altos, melhores empregos, moradias acessíveis, mais segurança, mais saúde, entre outras demandas. Não querem mais ser empurrados para narrativas ideológicas. A juventude quer que o básico funcione.

Essa mudança não é massiva, tampouco plenamente consciente, mas é perceptível. E talvez esteja aí o eco de uma frase que, dita em tom irônico por Cazuza em 1988, se transforma hoje em retrato de uma rejeição madura: “Ideologia, eu quero uma pra viver”. Não era um lamento, era uma denúncia. Um grito disfarçado de poesia, que desmascarava a farsa de quem usava sonhos como trampolim para o poder. Cazuza viu antes que muitos a falência das utopias vendidas em panfletos. Agora os jovens - que muitos julgavam eternamente capturados pelas causas identitárias e pela militância cega, como eu - começam a se levantar com uma pauta singela. Eles querem viver melhor. Desejam menos narrativa ideológica e mais realidade.

Essa virada de mentalidade ainda é tênue, mas real. Aponta uma ruptura possível com os modelos falidos da política contemporânea, tanto o progressismo do atraso, quanto o extremismo autoritário da direita que se vende como antídoto, mas oferece apenas o veneno com sinal trocado. É como se a nova geração dissesse, ainda sem gritar: “Chega de fingimento. Façam o básico. Entreguem”. Repito: mais entrega, menos ideologia.

Mantenho meu ceticismo, pois ainda há muito fingimento em volta, muita tentativa de reaparelhar o sistema com novas tintas. Mas também sou honesto o bastante para admitir quando há uma fresta de luz. E ela está ali, na juventude que rejeita a paleta maniqueísta das ideologias podres, que não quer o extremismo do lulopetismo nem a caricatura autoritária da direita que finge combatê-lo. Querem, simplesmente, viver melhor. Ter oportunidades. Respirar liberdade. Trabalhar, construir, realizar. Sem serem usados como figurantes de narrativas alheias.

Talvez seja pouco. Talvez. Porém, depois de tantos anos de narrativas e farsas, talvez seja justamente isso o que nos devolve algum fiapo de esperança.

A luz no fim do túnel pode ser, afinal, o clarão do despertar. Que não se apague.


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