terça-feira, 7 de outubro de 2025

Modo sobrevivência

O que significa o “modo sobrevivência” que as Forças Armadas podem adotar se continuar a contenção de gastos?


Corte de R$ 2,6 bilhões pode levar as Forças Armadas a um “modo sobrevivência”, com falta de combustível, cancelamento de treinamentos e risco para projetos estratégicos da Defesa Nacional

por Noel Budeguer

07/10/2025



Portal Revista Sociedade Militar

O termo “modo sobrevivência”, usado por oficiais-generais da ativa para descrever o cenário atual, traduz mais do que uma simples restrição orçamentária. Ele reflete uma fase crítica em que as Forças Armadas — Exército, Marinha e Força Aérea Brasileira (FAB) — podem ter de reduzir suas operações ao mínimo essencial para garantir o funcionamento básico das unidades, a segurança do efetivo e a preservação de equipamentos estratégicos.

Com a contenção de R$ 2,6 bilhões no orçamento do Ministério da Defesa, aprovada como parte do ajuste fiscal, há risco concreto de faltar combustível para aviões, navios e blindados, além de munição e peças de reposição. Fontes militares ouvidas pela imprensa confirmam que o corte pode forçar o cancelamento de treinamentos e o adiamento de projetos considerados prioritários para a defesa nacional — entre eles, programas de modernização da frota aérea e o desenvolvimento de novos sistemas de vigilância e comunicação.

O que é o “modo sobrevivência” nas Forças Armadas

Quando as Forças Armadas entram em “modo sobrevivência”, isso significa que suas operações passam a se concentrar apenas na manutenção do mínimo necessário para evitar colapsos. Na prática, o Exército reduz treinamentos e deslocamentos, a Marinha suspende missões de patrulha de longo alcance e a FAB limita horas de voo e instrução. Tudo isso para conservar combustível e reduzir custos operacionais, mesmo que isso implique perda de capacidade de resposta e preparo militar.

Segundo fontes do Ministério da Defesa, essa expressão não é um termo oficial, mas um jargão interno que expressa uma fase de alerta máximo diante da falta de previsibilidade orçamentária. O ministro José Múcio Monteiro já demonstrou preocupação e pediu às cúpulas das três Forças que revisem seus planos anuais e identifiquem onde podem ser feitos ajustes sem comprometer a segurança nacional.

Impactos diretos nos projetos estratégicos

Os cortes afetam programas considerados essenciais para o futuro da defesa brasileira, como o caça Gripen E, o submarino nuclear Álvaro Alberto, o blindado Guarani e o sistema Astros 2020. Esses projetos não apenas fortalecem a soberania nacional, mas também sustentam a indústria de defesa e a geração de empregos especializados.

Sem a liberação dos recursos bloqueados — cerca de R$ 691,9 milhões — e dos R$ 1,9 bilhão contingenciados, parte das metas de modernização poderá ser adiada para 2026 ou mesmo suspensa. Em outras palavras, o “modo sobrevivência” obriga as Forças a escolher o que manter e o que sacrificar, priorizando o essencial e interrompendo temporariamente o avanço tecnológico e operacional planejado.

O contexto global e a contradição brasileira

O momento do corte causa ainda mais apreensão porque o mundo vive um ciclo de rearmamento. Nações da OTAN, a Rússia, a China e até países vizinhos da América do Sul ampliaram significativamente seus orçamentos militares após a guerra da Ucrânia e o aumento das tensões no Oriente Médio e no Pacífico.

O Brasil, porém, segue no caminho oposto, mantendo a Defesa como uma das áreas mais afetadas pelas contenções fiscais. Segundo dados oficiais, foi o segundo ministério mais impactado, atrás apenas das Cidades, que teve R$ 4,2 bilhões retidos.

Durante a cerimônia do Dia do Exército, em abril, o comandante general Tomás Paiva alertou para os riscos dessa falta de investimento. “O mundo passa por uma transformação rápida e profunda em suas estruturas geopolíticas. Os investimentos em defesa vêm crescendo exponencialmente em todas as regiões do globo. Isso sugere ao nosso país atenção redobrada à proteção dos brasileiros e dos ativos consagrados pela Constituição”, afirmou.

Um futuro incerto para a Defesa Nacional

Caso a contenção persista, especialistas apontam que o Brasil pode enfrentar uma queda de operacionalidade similar à observada na década de 1990, quando aeronaves ficaram no solo por falta de peças e navios foram desativados antes do previsto. Hoje, a diferença é que o país possui compromissos internacionais de cooperação e vigilância que exigem presença ativa e constante.

Em resumo, entrar em “modo sobrevivência” significa colocar em risco a capacidade de resposta, o treinamento e até a soberania do país. Sem previsibilidade orçamentária, as Forças Armadas deixam de planejar o futuro e passam apenas a reagir ao presente.


*Noel Budeguer

Especialista em assuntos militares e geopolítica, trazendo análises profundas e notícias atualizadas sobre conflitos, estratégias e dinâmicas globais. Informação precisa e relevante para um público exigente.


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