Aécio na Tribuna |
Brasília – 03-12-14
Estamos aqui hoje no Congresso Nacional vivendo mais uma
triste tarde. Triste, em grande parte, pelo tema que aqui hoje nos reúne. Na
verdade, busca-se dar, à presidente da República, a anistia pelo crime de
responsabilidade por ela já cometido. Mas a noite de ontem e o início da tarde
de hoje, final da manhã, se faz ainda mais triste. Porque debatemos um tema de
enorme importância para a sociedade brasileira vendo as galerias dessa Casa
fechadas à população brasileira. Na verdade, uma violência ao próprio Regimento
dessa Casa, que garante a presença de cidadãos e cidadãs brasileiros desarmados
nas galerias. Vossa Excelência, me perdoe a franqueza, se equivoca presidente
Renan [Calheiros] porque da mesma forma que aqui hoje estão vazios os assentos
nas galerias, mais atentos do que nunca estão os cidadãos fora dessa Casa,
atentos àquilo que aqui hoje ocorre.
Lamentavelmente, tivemos ontem uma oportunidade de abrir as
galerias, ter a sessão avançando de forma absolutamente adequada sem que
precisássemos, todos nós, presenciar as cenas que presenciamos. Mas senhor
presidente, quero dizer à V.Exa que considero que a democracia tem nas eleições
o seu momento mais sublime. A eleição é o momento da verdade, é o momento do
debate das ideias, do debate das propostas. Infelizmente, nas eleições que se
findaram há muito pouco tempo, não foi a verdade que prevaleceu. E se estamos
aqui hoje votando uma alteração na Lei de Diretrizes Orçamentárias é porque,
infelizmente, não foi dada à população brasileira, durante o processo
eleitoral, conhecer a verdade daquilo que ocorria no Brasil. E volto aos fatos,
porque a realidade é que o Congresso Nacional, e é preciso que ele saiba disso,
está, hoje, ferindo de morte um dos principais pilares da Lei de
Responsabilidade Fiscal. Mas volto às eleições para que nessa sessão, acredito
eu, triste na história dessa Casa, fique aqui consignado e retratado aquilo que
ocorreu no Brasil há poucos meses atrás e que nos traz hoje a esse momento de
enorme constrangimento.
Senhor presidente, me lembro, e aqui quis anotar que no dia
1º de outubro, a então candidata Dilma Rousseff disse, abro aspas para ela.
“Temos tido um desempenho na área fiscal inquestionável.” Hoje o déficit
público acumulado até outubro é o maior da história.
Mentiu a presidente da República ou desconhecia a realidade
fiscal do país? Disse a presidente no dia 25 de setembro em uma visita à Bahia.
“O Brasil não está desequilibrado. Nós não acreditamos em choque fiscal, isso é
uma forma incorreta de tratar a questão fiscal do Brasil.” Hoje o governo reeleito
anuncia a intenção de promover um choque fiscal que pode chegar a R$ 90
bilhões.
No dia 6 de agosto, disse a então candidata a presidente da
República. “Acredito que teremos condições de cumprir o superávit primário
previsto no começo do ano”. Repito o que disse a então candidata a presidente
da República na CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) no dia 6
de agosto. “Acredito que teremos condições de cumprir o superávit primário
previsto no começo do ano”.
Hoje, a presidente da República, coloca de joelhos a sua
base no Congresso Nacional. Mas vamos em frente, no momento em que a verdade
deveria estar prevalecendo, disse a então presidente da República, fazer choque
fiscal … cortar o quê?, disse ela em 25 de setembro. Hoje, o seu novo ministro
anuncia corte de despesas e ajuste fiscal. Disse a candidata em 19 de outubro,
e é importante que a verdade e a realidade seja aqui relembrada: tenho certeza
de que a inflação está sob controle, disse ela me respondendo em debate da Rede
Record. Mais uma vez a inflação está no teto da meta. Disse a presidente em
evento da CNI, em 30 de setembro: o que justifica esta hipótese de tarifaço,
significa a determinação em criar um movimento para instaurar o pessimismo.
Onze dias após a eleição, a Petrobras reajusta em 3% a gasolina e, em 5% o óleo
diesel. A tarifa de energia já subiu 17% este ano e subirá 25% no ano que vem.
E agora, o governo cogita retomar a cobrança da Cide, da CPMF.
A a presidente, no dia 17/09, disse em Campinas em São
Paulo, eu não mudo os direitos trabalhistas, nem que a vaca tussa. Inicia já no
dia 07/11 o anúncio de que o seguro desemprego e o auxílio doença e o abono
salarial serão revistos e a CUT negocia agora reduzir salários de trabalhadores
para evitar demissões.
Em relação aos juros, disse a presidente se dirigindo a mim
no debate da Rede Record: o senhor candidato vai elevar a taxa de juros porque
este é o seu receituário, é o receituário do desemprego, do arrocho salarial,
das altas taxas de juros. Três dias após as eleições, as taxas de juros foram
aumentadas e, neste instante, o Copom está reunido e deverá anunciar, em poucas
horas, provavelmente, um novo aumento da taxa de juros.
Digo, senhor presidente, e peço tranquilidade aos líderes da
base que terão oportunidade para se manifestar, caminho para encerrar, mas
apenas para relembrar que, infelizmente, não foi a verdade, não foi a
sinceridade que venceu essas eleições. Hoje, a presidente da República, repito,
coloca de cócoras o Congresso Nacional, ao estabelecer que cada parlamentar
aqui tem um preço. Os senhores que votarem a favor desta mudança, valem R$ 748
mil. Esta é uma violência jamais vista nesta casa. Estarei aqui vigilante,
atento ao cumprimento da Constituição, atento ao cumprimento da Lei de
Responsabilidade Fiscal. Nada, absolutamente nada … (trecho cortado pela TV
Senado)… e talvez mais cargos para os senhores da base aliada. É triste o dia
de hoje. Isso envergonha o Congresso Nacional.
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