quarta-feira, 27 de maio de 2015

Caixa de Pandora: Abra sem medo!

Escrito por Mhario Lincoln Publicado em Matérias em 27/05/2015

Caixa de Pandora: Abra sem medo

Um estudo ficcionista


(*) Mhario Lincoln

Tenho uma frase que lembra a caixa de Pandora e faz a assertiva: ‘Todos nós temos nossa caixinha de Pandora’. E isso é tão real que floresce com a gente ao longo da vida. Acredito eu não existir ser humano livre de alguma frustração, desejo reprimido, auto-vergonha, individualidade excessiva e até mesmo narcisismo. Pode saber controlar tudo isso. Mas efetivamente livre, não! Por isso, a caixinha de Pandora.
Na mitologia grega, Pandora foi a primeira mulher criada por Hefesto sob as ordens de Zeus. Foi enviada à Terra. Mas trazia uma caixa. E nela, todo tipo de desgraças, se aberta. Por isso os deuses pediram a Pandora que nunca abrisse a caixa, pois liberaria todos os males do Mundo.

No meu bestunto psicanalítico, acredito ter a caixa de Pandora, na verdade, significado ainda mais abrangente, no mundo moderno, indo ao encontro da teoria de Carl Gustav Jung, onde o ‘self’ faz o ser humano reagir dentro de um princípio ordenador inconsciente, mas não restritivo e toma forma na medida em que vem evoluindo ao longo das novas percepções que a vida lhe oferece.
No caso de Jung, o ‘self’ tem, igualmente, muito a ver com essa questão de ego. Mesmo que ambos sejam independentes, em suas construções teóricas, as consequências de banir o ego da relação com o ‘self’, é desastrosa. Se o indivíduo, por forças impostas por seus mitos, dogmas religiosas e medos, expurgar seu ego dessa relação com seu ‘self’, aquele, com certeza, tenderá a ser deprimido e alienado.

Daí poder-se imaginar que uma olhadinha em nossa caixa de Pandora, vez por outra, não trará tão mal assim. Contudo, há de se verificar também, a intensidade dessa liberação. Se de uma vez, risco de explosão metapsíquica, desequilibrando a estrutura emocional do indivíduo.
Já em gotas serenas e conscientes, aí, sim, o nível de prazer pessoal, de realização pode ser atingido, sem tão graves prejuízos ao ‘self’ ou ao ego, em sua forma estrutural.
Mutatis Mutandi, li outro dia, em algum lugar, que a caixa de Pandora moderna é o notebook. Abriu a tampa, conectou-se à internet, booommm! Milhões de coisas ao seu alcance. Pode até ter fundamento, sim! Hoje, milhões de pessoas procuram se autodescobrir na internet. Procuram pessoas iguais em pensamento, em métodos, em objetivos e, claro, em parcialidade, mesmo sob riscos indiscutíveis (ou consequências graves para o Mundo, como lá, entre os gregos).
Tem até quem acredite ser a telinha um alento a muitas coisas do ‘self’ e do ego, trazidos à tona na teoria freudiana, depois, administrada por Jung e continuada por dezenas de psicanalistas atuais.
Mas Jung tem algo que se encaixa perfeitamente nessa história de notebook e caixa de Pandora: A individuação, isto é, torna-se inevitável que o ego não comece a servir o ‘self’, à frente de um aparelho virtual; só a pessoa e a tela. Exatamente nesse ponto, parece que o corpo humano e sua misteriosa inconsciência (que eu chamo de inconsciência, consciente) passam a buscar relacionamentos mais amplos e mais maduros e de maior criatividade, para abundar aquele espaço restrito, individualista, solitário, até, escondido no fundo da nossa caixa de Pandora.
Mas, como são relacionamentos virtuais (sejam de quaisquer tipos), aquela velha e incomodativa sensação de ‘não estar fazendo nada errado’, toma conta do indivíduo, dando-lhe o prazer necessário para afirmar que aqueles gregos malucos exageraram na história contada a primeira mulher que foi enviada a Terra, criada por Hefesto, a mando de Zeus.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Este blog só aceita comentários ou críticas que não ofendam a dignidade das pessoas.

Busca