Por : Roberto de Queiroz
Na Europa do século 17, o estudo era um privilégio apenas
das pessoas que ocupavam uma posição de destaque na sociedade (por nobreza ou
riqueza), a saber, o direito de estudar era negado às pessoas pobres. Os
professores eram confinados em conventos, servindo ao clero e, obviamente, à
nobreza. A maioria das pessoas, por ignorância, contentava-se com poucos
privilégios. O que prevalecia, na época, era a ideia de que “assim como um
corpo que tivesse olhos em todas as suas partes seria monstruoso, da mesma
forma um Estado o seria, se todos os seus súditos fossem sábios; ver-se-ia aí
tão pouca obediência, quanto o orgulho e a presunção seriam comuns” (cardeal De
Richelieu).
Hoje, porém, o pensamento europeu sobre a educação é outro.
Não é o caso do Brasil. Em pleno século 21, a mentalidade de uma parcela
significativa dos políticos brasileiros ainda continua arraigada ao pensamento
do cardeal De Richelieu (político de quatro séculos atrás). Assim, a má
qualidade da educação brasileira ainda é reflexo do pensamento richeliano. Quer
dizer, as pessoas ignorantes são fáceis de ser manipuladas, com medidas
“emergenciais”, políticas “assistencialistas”, etc., de sorte que elas são, por
sua extrema ignorância, responsáveis pela (re)eleição de políticos desonestos
e, por sua vez, incompetentes que “atuam” Brasil afora.
Em meio a esse fogo cruzado, estão os professores, que não
têm seu trabalho reconhecido pela maioria das pessoas, posto como essa maioria
não sabe que goza do direito de ter uma educação de qualidade e, portanto, se
porta indiferente em relação às questões que dizem respeito a essa temática.
Desse modo, tal maioria não atribui aos professores o papel que lhes é de
direito. Algumas dessas pessoas atribuem a eles o papel de um pai, outras lhes
atribuem a função de babá. E (pasmem!) há ainda pessoas que atribuem aos
professores a função de seus empregados. Infelizmente, são pouquíssimas as
pessoas que os consideram como os profissionais que eles realmente são.
Não bastasse tudo isso, os professores ainda são obrigados a
dar aulas em salas superlotadas e sem infraestrutura adequada. E (o que não é
raro) a ter de lidar com problemas de indisciplina, ficando quase sempre
impotentes perante um “estado de direito” que aliena as que pessoas que quer
manter ignaras. Assim, os valores são invertidos e os professores muitas vezes
são vistos pelos próprios estudantes como um obstáculo que estes têm de
enfrentar e vencer. Essa inversão de valores sobrepuja e diálogo entre
professores e estudantes e, consequentemente, impossibilita o entendimento. Por
esse motivo, os professores têm perdido credibilidade perante os estudantes e
têm se tornado impotentes e solitários, numa “luta” que é só sua.
Salvem-se as exceções, é claro!
* Poeta, prosador, professor de Português e especialista em
Letras. Autor de “Leitura e escritura na escola: ensino e aprendizagem”, Livro
Rápido, 2013, entre outros.
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