Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre (RS)
A Eucaristia, Corpo do Senhor, é cumprimento privilegiado da
promessa do Senhor Jesus de se tornar presente àqueles que se reúnem em seu
nome. Diariamente, sobre nossos altares, pelas mãos do sacerdote, se faz
presente o Senhor vivo e verdadeiro.
A Eucaristia é dom do Senhor. Numa sala preparada, em torno
à mesa, Jesus com os seus discípulos, um pouco de vinho e pão; proximidade e
intimidade, simplicidade e solidariedade, amor e fé! Palavras jamais antes
pronunciadas, gestos nunca antes vistos; calor fraterno, angústia; entrega,
ternura, maravilha. O Senhor se faz presente num pedaço de pão e num pouco de
vinho! Na visibilidade do pouco, a transparência do Mistério, afinal ‘o
essencial é invisível aos olhos’!
Ao longo dos séculos, os discípulos do
Crucificado-Ressuscitado, após repartirem entre si o pão da Palavra e o pão da
Eucaristia, empenham-se por testemunhar também publicamente a fé na presença do
Senhor entre os seus! Fé de Alguém presente na simplicidade do pão; meio este,
escolhido para perpetuar uma presença prometida: ‘Estarei convosco todos os
dias, até o fim dos tempos’ (Mt 28,20).
A Igreja convida a todos para com ela celebrar o memorial do
Senhor. O gesto do pão repartido tornou-se expressão maior da entrega do Senhor
– pastor e guia! – à sua comunidade agora também como alimento. Aquilo que
Jesus fez na ceia com os discípulos de então, ele pede que os discípulos de
hoje o façam ‘em sua memória’. Não simples repetição mecânica de um gesto, mas
memorial de uma presença que transcende espaço e tempo.
Em repetindo os gestos de Jesus – “fazei isto em minha
memória” – a Igreja o faz não mentalmente, mas realisticamente. A realidade
simbolizada pelas palavras torna-a verdadeiramente presente! Isso é distinto,
por exemplo, da experiência que fazemos quando visitamos monumentos de nossas
cidades. Monumentos apontam para um acontecimento, para uma pessoa, uma
realidade que um povo quer manter presente no imaginário coletivo. Quando a
Igreja celebra a Eucaristia, no pedaço de pão repartido e no pouco de vinho
versado, ela vê seu próprio Senhor.
Para a comunidade de fé a Eucaristia é presença real do
Senhor, sua vida, obra, paixão, morte e ressurreição. Ela, a Eucaristia, é o
meio escolhido pelo Senhor para levar sua Paixão a todas as criaturas. Ele
escolhe o que há de mais corriqueiro, simples, vital para permanecer presente
entre os seus: pão e vinho!
Assim, o pão e o vinho abençoados expressam o máximo do
esvaziamento do Senhor para permanecer com seus amigos. No pão e vinho
santificados – “é meu corpo; é meu sangue!” – transparece todo o empenho do
Senhor em doar-se pela humanidade, simples e despojadamente! Não para
simplesmente distribuir favores ou benefícios, mas como quem, pobre e
despojadamente, deseja ser recebido, acolhido e amado.
O corpo do qual a Eucaristia é realidade diz daquilo que
oferece identidade, plenitude à vida de Jesus no mundo; de sua entrega sem
reservas à causa do ‘Reino de Deus e sua justiça’, de seu empenho em favor dos
‘pequeninos’ deste mundo, de sua obediência ao Pai até a morte e morte numa
cruz!
“Tomai e comei; tomai e bebei! Isto é o meu corpo; isto é o
meu sangue”. Participando do pão e do cálice, comungamos de sua pessoa, de sua
obra, de seu espírito. Assim, o seu corpo passa a ser nosso corpo, o seu
sangue, o nosso sangue! Mas também nosso corpo é seu corpo, nosso sangue é seu
sangue! Resplandece assim a unidade que formamos com Cristo. Isso é expresso
numa antiga antífona da liturgia cristã: “Congregou-nos em UM o amor do
Cristo”.
É por isso que a Igreja de todos os tempos continua
cantando: “Bom Pastor, pão de verdade, conservai-nos na unidade, extingui nossa
orfandade, transportai-nos para o Pai”!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Este blog só aceita comentários ou críticas que não ofendam a dignidade das pessoas.