De HS
Ontem eu estava preparado para visitar o Terreiro de Umbanda da Vovó Benta, aqui em Curitiba. Sou um andarilho espiritual, espiritualista - seja lá como queiram dizer...
Uma intuição - seja lá também o que tenha sido - fez-me ficar em casa... E a encrenca tá é feia!
A disputa de posições contrárias e a favor começou quando da publicação da mensagem divulgada pelo médium e escritor espírita Robson Pinheiro como sendo de Tancredo Neves, psicografada pelo referido médium. A carta psicografada saiu também publicada no meu blog.
Ontem, com o cancelamento da visita à Casa de Vovó Benta, fiquei a ver vídeos e ler texto sobre a confusão estabelecida, a polêmica, os debates!!!!... Tudo nos trilhos de uma grande polêmica política/espiritual!...
O primeiro vídeo, com duração de aproximadamente 14 minutos, tinha como título: "Tancredo Neves, pelo Médium Robson Pinheiro - Polêmicas e Críticas"...
Em outro vídeo, bem mais longo (45 minutos), "Robson Pinheiro - Esclarecimento sobre a Carta de Tancredo Neves"...
Fiquei a ver e analisar tudo com cuidado...
E hoje, para abrir um palco de debate com a devida grandeza e seriedade dos bons princípios democráticos, divulgo aqui no blog - sem ainda expressar a minha opinião - um artigo do escritor espírita Madson Góis, publicado originalmente pela rede amigo espírita... Leiam o artigo de Madson:
O caso de animismo politizado em “psicografia de Tancredo Neves”
Artigo de Madson Góis*
Conforme pontua Kardec, devemos analisar o conteúdo das
comunicações. De antemão, observa-se o tom embusteiro e a mistificação
grosseira. Primeiramente, até onde se sabe, Tancredo era católico e ressurge em
sua psicografia com um conteúdo altamente espiritualista, citando inclusive
Kardec de forma equivocada (na realidade, não foi Kardec que falou sobre os
espíritos dirigirem a nossa vida, mas os próprios espíritos), além do místico
americano Edgar Cayce. O autor espiritual também nos fala de obsessão complexa.
Do que se trata o assunto? Parece que o político traz informações do
além-túmulo sobre os processos obsessivos no Brasil. O viés maniqueísta da luta
do bem conta o mal é quixotesco e infantil no texto. O mundo passa por um
período de agitação social e econômica (Europa motivados pela Grécia, Asia
motivados pela China) escondidos pela mídia brasileira por fatores dos mais
diversos. Nesses locais de tensões supracitados, não se tem a influência
espiritual?
É natural que espíritos ignorantes estejam atordoando as
consciências, como em todos os tempos da humanidade. Pergunto-me se no tempo da
ditadura civil-militar no Brasil, como era a relação entre encarnados e
desencardos. Será que não estávamos num momento mais delicado e ferrenho?
O autor espiritual é passional, usando o tom autoritário com
vários verbos no imperativo, permeando o discurso por uma retórica florida de
termos espiritas. Não obstante, o autor já faz seu julgamento nas entrelinhas
(“quadrilhas que tomaram de assalto e aparelharam o governo”, “políticas
públicas populistas, com seu idealismo patética distribuir suas migalhas”).
Qual espírito conselheiro vem condenar e trazer julgamento?
Que espírito superior tenta direcionar as mentes para uma
interpretação única do cenário político?
Que espírito faz ameaças e intimidações (“posicionemos, em
nossas redes sociais, em nosso círculo de ação, em nossas famílias, no trabalho
e na sociedade, enquanto é tempo”).
Qual espírito defende uma teocracia (“política divina”)?
Bem, esse espírito embusteiro seja ele quem for precisa de orações e preces na
mesma medida que todo o povo brasileiro e seus políticos. Orar é o caminho. E
orar também pelo irmãos e irmãs cristãos que se deixam manipular por mentes
ardilosas nas homilias, sermões, psicografias e psicofonias que mercadejam a
mediunidade e quaisquer carismas da fé. A fé está ai para unir, não para
dividir. Cada vez mais, pelos Cazuzas, Cássia Ellers e Tancredos da vida, que o
movimento espírita no Brasil está perdendo todo fundamento kardequiano. Um
movimento cada vez mais mistificado, enfraquecido, igrejeiro e beato, com a
pilantragem mediúnica, tão corrupto como qualquer político da nação.
“A fascinação tem conseqüências muito mais graves. Trata-se
de uma ilusão criada diretamente pelo Espírito no pensamento do médium e que
paralisa de certa maneira a sua capacidade de julgar as comunicações. O médium
fascinado não se considera enganado. O Espírito consegue inspirar-lhe uma
confiança cega, impedindo-o de ver a mistificação e de compreender o absurdo do
que escreve, mesmo quando este salta aos olhos de todos. A ilusão pode chegar a
ponto de levá-lo a considerar sublime a linguagem mais ridícula. Enganam-se os
que pensam que esse tipo de obsessão só pode atingir as pessoas simples,
ignorantes e desprovidas de senso. Os homens mais atilados, mais instruídos e
inteligentes noutro sentido, não estão mais livres dessa ilusão, o que prova
tratar-se de uma aberração produzida por uma causa estranha, cuja influência os
subjuga. Dissemos que as conseqüências da fascinação são muito mais graves. Com
efeito, graças a essa ilusão que lhe é conseqüente o Espírito dirige a sua
vítima como se faz a um cego, podendo levá-lo a aceitar as doutrinas mais
absurdas e as teorias mais falsas como sendo as únicas expressões da verdade.
Além disso, pode arrastá-lo a ações ridículas, comprometedoras e até mesmo
bastante perigosas.” (Kardec, Allan. Em O Livro dos Médiuns)
A quem interessar, o método comparativo é um dos mais
eficientes para averiguar identidade dos espíritos, sua linguagem, o
vocabulário, o estilo, a semântica. Comparar os escritos entre diferentes
fases, em vida e no além-túmulo lançam luzes na compreensão e fidedignidade da
escrita. Abaixo, transcrevo parte do discurso de posse do Sr. Tancredo Neves,
antes de desencarnar, discurso proferido no Congresso. Observemos o teor da
linguagem, a construção dos períodos e das idéias. Em que sentido se parece com
a psicografia pretensamente atríbuida a ele?
“A Nação renasce porque está renascendo nos olhos dos moços.
Refletindo-se em suas pupilas, as cores nacionais recebem aquele calor sagrado
que torna as pátrias imperecíveis. Brasileiros:
Começamos hoje a viver a Nova República. Deixemos para trás
tudo o que nos separa e trabalhemos sem descanso para recuperar os anos perdidos
na ilusão e no confronto estéril. Estou certo de que não nos faltará a
benevolência de Deus. Entendamos a força sagrada deste momento, em que o povo
retoma, solenemente, seu próprio destino.
Juntemos as nossas mãos e unamos as nossas vozes para elevá-las
à Pátria, no juramento comum de servi-la com as honras do sacrifício. Peço-vos
que canteis, junto conosco, estejais onde estiverdes, o nosso Hino Nacional.
Viva o Brasil.”
( Fonte: Tancredo Neves:Tancredo Neves. Câmara dos
Deputados. Centro de Documentação e Informação. Coordenação de Publicações.
Brasília, 2001. p. 693-692)
De fato, a tônica do trecho acima é totalmente diferente da
suposta psicografia. O tom sereno e unificador conclama o povo sob a
benevolência de Deus para se trabalhar por um país melhor. A idéia de
companheirismo e patriotismo verdadeiro sem enviesamentos marcam a escrita
permeada de esperança, desencorajando inclusive o “confronto estéril”.
Desta forma, não se observa qualquer indício que possa
comprovar que o Sr. Tancredo Neves tenha enviado qualquer comunicação ao povo
brasileiro.
Causa espanto quando um médium, ao se julgar um mero
correio, não observa o conteúdo dos pacotes que direciona. Esse é o tipo de
responsabilidade que Kardec recomenda a um médium? O Espírito manda uma
mensagem tal e qual, se torna lei? Espanta ainda mais quando um médium já se
autojustifica no tocante ao conteúdo da mensagem. Por que o médium consegue
antecipar que receberá “pedradas” e se autoproclama ‘corajoso’ diante do míster
mediúnico?
Reflitamos cautelosamente acerca da influência perniciosa
dos anátemas mediúnicos em nosso meio. O movimento espírita brasileiro cada vez
mais se aproxima de uma aberração espiritualista-esotérica, marcada pelo fast
food dos eventos de rebanho de ovelhas, que cultuam a física quântica, a
glândula pineal e as psicografias “made in animismo”, venerando orador A,
palestrante B, doutora fulana de tal, estilando a febre do mercado editorial
irresponsável, maior fábrica de médiuns hoje no Brasil. Precisamos de mais Kardec,
não aquele embalsamado nas apostilas dos ESDEs. Precisamos de mais Jesus, não
aquele senhor morto preso no madeiro. Kardec para sensibilizar a nossa mente.
Jesus para racionalizar o nosso coração.
Autor:
*Madson Góis é expositor espírita e membro do
Centro Espírita Casa do Caminho em Recife-PE
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