Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora – MG
Hoje, ainda, há fome no mundo. E não se pensa apenas na fome
espiritual de que tanto fala a Igreja. Certamente, há muitas pessoas
desorientadas, perdidas no desamor, na violência, fechadas em si mesmas,
esgotadas por dificuldades. Mas é que, além de tudo isso, em nosso mundo há
ainda uma fome real, estômagos
vazios que não sabem o que é tê-los cheios.
Muitas de nossas paróquias continuam repartindo comida com as pessoas que não
têm recursos para comprá-la. Isso não acontece apenas na África ou na Ásia.
Isso acontece em países industrializados e ricos, nisso que chamamos
pomposamente de democracias avançadas.
Por isso, o pão, alimento básico em muitas culturas, é um
autêntico sacramento da vida. O pão e o vinho das culturas mediterrâneas, o pão
e os peixes do Evangelho. Para aqueles que têm fome, o alimento urge de maneira
absoluta. Tudo mais pode esperar, mas a fome e a sede é preciso satisfazê-las
logo. Em muitos países se proclamam leis para atender a muitas outras
necessidades: desde o respeito aos animais até o direito das pessoas sem vez e
sem voz. Está certo. Tudo isso está bem. Mas não podemos nos esquecer dessas
urgências fundamentais que continuam batendo a nossa porta: a fome e o pão como
alimento básico que a sacia, ou seja, sinal-sacramento da vida. Sem ele, não há
esperança.
A Eucaristia é o sacramento do pão, o sacramento da vida
compartilhada. A Eucaristia é um sacramento cheio de força que nos recorda
nossa elementar dependência do alimento. Sem alimento, não há vida. Sem
alimento, a morte chega. Ao redor do alimento, a família humana cresce, a
relação é estabelecida. Compartilhar o pão significou sempre compartilhar a
vida, a amizade, o carinho. Convidar alguém para nossa mesa significa
convidá-lo para beber algo e dar-lhe de comer.
Hoje e a cada dia é Jesus quem nos convida a comer com Ele e
com os irmãos. Não podemos esquecer nenhum aspecto, ou seja, somos convidados a
comer com Jesus e com os irmãos, pois uma coisa não existe sem a outra. Ao
comermos com Jesus, reconhecemos a nossa necessidade básica de pão. Ao comermos
com Jesus, fazemos parte de sua família e a nossa fraternidade é reafirmada. Ao
comermos com Jesus, a sua palavra nos chega, junto com o pão, no fundo do nosso
coração. Ao comermos com Ele, podemos sonhar que o nosso mundo dividido e
machucado reconcilia-se e que a humanidade é uma única família. Ao comermos com
Ele, o nosso sonho torna-se um pouco mais real. E ganhamos força para continuar
comprometidos a servir ao Evangelho, para continuar amando, curando, ajudando e
compartilhando. E, sobretudo, dando de comer aos famintos.
Jesus oferece-se como pão da vida para aprendermos o amor, a
solidariedade, a paz. Venite adoremus!
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