Edson Vidigal
Essa Operação Lava Jato contra a qual uns conspiram buscando
um jeitinho de minguá-la, enquanto outros se esbaldam em aplausos querendo que
demore mais até que se institucionalize como agencia autônoma da sociedade
destinada a resgatar valores éticos e morais de há muito relegados ao lixão das
coisas ultrapassadas, está servindo também para a Inglaterra intensificar
exportações para o Brasil por ser o País que está produzindo as melhores
tornozeleiras.
Quando nem se falava em direitos humanos as pessoas
condenadas criminalmente distinguiam-se das isentas de culpa usando um figurino
bem retrô - um macacão claro com listas
pretas, lembrando uma zebra, e uma corrente de ferro entre o tornozelo e uma
bola certamente também de ferro e muito pesada. Aquilo era como os antigos
tamancos com os quais se impedia os cavalos de fugirem mato adentro.
Eis que agora desponta no mundo civilizado a tornozeleira
inglesa à base da mais sofisticada tecnologia e o Brasil já encomendou 10 mil
unidades. Outros milhares de tornozeleiras já estão contratados. O fabricante
inglês vê atualmente o Brasil como um promissor mercado.
Num País que já contabiliza 150 mil presos provisórios, quer
dizer, nenhum condenado, como assegurar a essas pessoas o mínimo de dignidade
humana a não ser trocando as grades das penitenciárias pela prisão domiciliar
monitorada pela tornozeleira?
Li a íntegra do acordo de colaboração premiada de um desses
envolvidos na Lava Jato e também seu depoimento-bomba no qual implica dezenas
de políticos. Se conseguir provar as imputações, veremos o exagero com que
parte da chamada grande imprensa faz a contabilidade das supostas propinas.
As manchetes dizem que fulano recebeu, por exemplo, 20
milhões para o seu partido ou campanha eleitoral. Vai ver e o valor resulta de
uma soma das frações destinadas ao fulano ou ao seu partido ao longo meses ou
de anos. Sem omissão da correção monetária.
Isso tudo vem servindo para denunciar que o Estado
brasileiro vem sendo dirigido no Executivo e no Legislativo pelos
representantes das grandes empreiteiras. A cada eleição as coisas acontecem
como num leilão. Alocam o dinheiro para as campanhas dos três primeiros
colocados nas pesquisas, mas sempre carregando a mão para o candidato do
partido mais próximo do poder.
Isso tudo, ou quase tudo, é declarado nas prestações de
contas que geralmente são tecnicamente aprovadas. Poucas pessoas se dão conta
de que a Justiça Eleitoral foi usada como lavanderia dos milhões oriundos das
propinas tiradas dos superfaturamentos de obras públicas, muitas das quais
abandonadas pela metade ou só nas terraplanagens como foi o caso da refinaria
de Bacabeira, Maranhão, onde a Petrobrás enterrou milhões de reais e o que se
vê hoje? Nada do que chegou a ser sonhado.
Queremos mudar o curso dessas escabrosas estórias? Sim,
queremos. Então, vamos exigir que se convoque uma Assembleia Constituinte
destinada apenas à reforma do Estado e para as reformas politica, partidária,
eleitoral e tributária. Os mandatos se extinguirão ao fim dos trabalhos e todos
os constituintes ficarão inelegíveis pelos quatro anos seguintes.
É hora de por os pés no chão e seguirmos juntos. Por este
Brasil que ainda é nosso!
Edson Vidigal, Advogado, foi Presidente do Superior Tribunal
de Justiça e do Conselho da Justiça Federal.
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