Carlos Chagas
Quebrou a cara quem esperava que a agenda do impeachment fosse tocar fogo no circo com o depoimento, ontem, da presidente afastada Dilma Rousseff no plenário do Senado. Muitos previam e até aguardavam com prazer que Madame fosse fulminada pela maioria dos senadores. Não teria como responder às acusações de haver praticado crime de responsabilidade e assinado decretos sem submetê-los ao Congresso.
Aconteceu o contrário. A presidente demonstrou não só
pleno conhecimento das armadilhas e dos
meandros da economia. Foi sincera em detalhar como seu governo enfrentou os graves
problemas da conjuntura. Defendeu-se. Não perdeu uma, inclusive quando Aécio
Neves, Ronaldo Caiado e outros adversários tentaram acutilá-la.
No pronunciamento inicial, não escorregou uma só vez,
apesar da emoção. Contundente em seu diagnóstico, ainda que nenhum senador
desse sinais de mudar convicções ou decisões a respeito de
afastá-la. Ou de que os erros de sua
administração possam ser esquecidos. Reconheceu-os. Também referiu-se aos
“sepulcros caiados”.
Dilma deixou o Senado de saia justa. Desmontou as
armadilhas dispostas à sua frente. Por
exemplo: nem uma voz levantou-se em
defesa do lobisomem que ela não poupou, o ex-presidente da Câmara, Eduardo
Cunha. Despertou até risos quando lembrou do tempo em que metade do Congresso
acotovelava-se para tirar fotografias ao lado do deputado.
Ficou claro nas muitas
horas em que chegou a perder a voz:
identificou, por trás do
processo que disse sem fundamento para
cassá-la, a intenção das elites de interromper as reformas sociais realizadas nos últimos treze anos. Criticou o
“governo provisório” pela extinção e redução de uma série de prerrogativas para
a população menos favorecida.
Muito antes de
chegar a longa madrugada de inquirições à presidente, já se sabia da inocuidade
da volta por cima na decisão dos senadores,
em favor do impeachment. Ela mesmo,
nas entrelinhas de seus comentários, deixava óbvio estar prestando seu último depoimento como presidente da
República. Mas, vale repetir, deixou o Senado de saia curta.
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