Carlos Chagas
Hoje, afinal, o País conhecerá a sentença do julgamento
de Dilma Rousseff. Salvo engano, haverá a condenação, ou seja, a maioria dos 81
senadores transmudados em juízes se pronunciarão pelo impeachment da presidente
da República reeleita em outubro do ano passado por 4 milhões de votos. Madame
será comunicada formalmente, ao tempo em que o presidente interino, Michel
Temer, saberá haver sido transformado em presidente definitivo até o final do
presente mandato, a 31 de dezembro de 2018. A ele caberá reformar ou manter o
atual ministério, além de tomar todas as atitudes inerentes a um presidente da
República.
O Brasil dormirá por muitas noites, ou anos, na dúvida se
terá sido justo ou não o afastamento de uma presidente acusada de crimes
cometidos no exercício da função.
Duas versões passam a dividir as opiniões: Dilma
efetivamente cometeu crime de responsabilidade ou foi vitima de um golpe
parlamentar, desferido por inspiração das elites empenhadas em desfazer o
regime de realizações sociais?
Há argumentos favoráveis às duas correntes. Uma, de que
Madame assinou três decretos sem consultar o Congresso e de que valeu-se dos
recursos de bancos públicos para sanar dificuldades de governo.
Outra, de que por trás das acusações de quebra da lei,
estão os interesses das elites em restabelecer privilégios e benesses que iam
desaparecendo com os avanços sociais dos últimos treze anos.
Quem quiser que opte, pois há razão nas duas
interpretações. Não se justifica afastar uma presidente eleita livre e
democraticamente, como também soa injustificável aceitar que um governo adote
maquiar e até distorcer leis para ganhar eleições.
O resultado aí está. Para a História, dúvidas. Para a
atualidade, o risco de a crise continuar abrindo suas asas e tornando o País
não só ingovernável, mas rachado entre duas concepções opostas e conflitantes.
E mais a certeza de que nem eleições presidenciais antecipadas ou realizadas em
2018 solucionarão o impasse. Prevaleça o interesse das elites ou a necessidade
dos menos favorecidos, entre avanços e retrocessos, estaremos à espera do
embate final onde não existirão derrotados nem vencedores. Só escombros de boas
intenções…
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