Carlos Chagas
Felizmente, setembro chegou. Agosto fez das suas,
terminando com o impeachment de Dilma Rousseff e a preservação de seus direitos
políticos, ainda que não se saiba bem para quê. Mês do capeta, que saiu pelo
ralo com o anúncio, pela equipe econômica, de que o salário mínimo, ano que
vem, passará para 945 reais. Vá o agora presidente definitivo, Michel Temer,
viver com essa merreca, mesmo dispondo de casa, comida e outras mordomias.
Talvez por isso tenha decidido viajar para a China logo depois de empossado.
Algumas lições podem ser tiradas do dia da posse que não
foi posse, pois ele já era presidente. A primeira, de que torna-se obrigatório
vetar o uso de telefone celulares e sucedâneos nas solenidades de entronização
de presidentes da República.
Espetáculos ridículos como o uso dessas maquininhas
deveriam ser objeto de ampla proibição. Vetustos deputados, senadores e bicões
amontoados no plenário do Senado e adjacências deram a impressão de um circo
armado no Congresso. A cada instante alguém levantava o braço exigindo que as
autoridades se imobilizassem sorrindo e olhando firme o horizonte, quando não
abraçados com Temer e olhando um horizonte inexistente, entre seguranças com
cara de bravo e a expectativa de incontáveis papagaios de pirata. Sendo também
que ninguém andava, por impossibilidade física.
Pairava sobre a multidão a alma danada do deputado
Eduardo Cunha, várias vezes citado naquele plenário pela presidente escorraçada
como a causa de todos os males. Ele não apareceu, mas se estivesse presente,
seria objeto de linchamento explícito.
Entre selfies e abraços de urso, o novo presidente custou
a escalar os degraus até o pódio onde prestou o juramento à Constituição, sob
os acordes do Hino Nacional.
Teve de tudo na plateia, a começar pela negação do maior
princípio da Física, de que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço. Podem
sim, em se tratando de posses improvisadas.
Graças aos céus, durou pouco, mas para o futuro seria bom
que solenidades assim recebessem um mínimo de organização. Afinal, ninguém sabe
quando será a próxima…
Em outro palco apresentava-se Dilma Rousseff, para as
despedidas. Sua retaguarda também foi disputada, a começar pelas “meninas” que
durante todo o julgamento comportaram-se como se as bancadas do Senado fossem
um galinheiro. Onde não faltou o “galinho maluco” para agredir adversários e a
paciência do vetusto juiz que dirigia os trabalhos.
Madame prometeu oposição desvairada e jurou que a
história não acabaria assim. Faltou-lhe coragem para personalizar o retorno,
preferindo o plural ao exclamar “nós voltaremos”. Nós quem, cara pálida? Para
onde e de onde? Posto em frangalhos, o PT ainda não revelou seu plano de
batalha, mas jamais será liderado por ela.
A improvisação nas duas cerimônias do último dia de agosto
dá o tom do que nos espera. Ou setembro será diferente?
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